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Edição 132 - Jun/2004

ECO-ENGENHARIA
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Um túnel sobre o mar... (2):
A questão ambiental

Carlos Pimentel Mendes (*)

O Øresund e os Cinturões suprem de sal e água oxigenada o Mar Báltico, que é a maior extensão de águas salobras do mundo. Com 375 mil km² e grande variedade de profundidades, o Mar Báltico troca águas com o estreito de Kattegat através do Pequeno Cinturão (Little Belt), do Grande Cinturão (Great Belt) e do Øresund), que representam 30% do total dessas águas. No século XX, houve significativa deterioração ambiental, com o aumento das quantidades de nitrogênio, fósforo e substâncias prejudiciais como pesticidas, metais pesados e compostos clorosos. Nos 30 anos finais do século, a quantidade de fitoplâncton dobrou no Mar Báltico, deteriorando as condições de oxigenação das águas.

O oxigênio contido nas águas profundas do Báltico varia naturalmente, dependendo da entrada de água salina e oxigenada do Kattegat, via Øresund, através do Drogden-Limhamn Sill e pelo Grande Cinturão através do Darss Sill. Com intervalos de vários anos, e sob condições meteorológicas específicas, grandes fluxos de água salina e oxigenada do Kattegat atingem o Báltico, mas nos períodos intermediários o oxigênio nas áreas profundas desse mar é exaurido.


A ilha artificial Peberholm, à frente da ilha Saltholm, tendo ao fundo a costa dinamarquesa
Foto: Consórcio Øresund

Para o bacalhau do Báltico - uma das espécies economicamente mais importantes na área -, as condições de salinidade e oxigenação das águas profundas têm impacto decisivo no tamanho dos cardumes, e a distribuição do bacalhau nesse mar interior é também afetada pela salinidade das águas, enquanto a ovação dessa espécie é regulada pela sua quantidade de oxigênio. Mesmo variações mínimas na salinidade e oxigenação do Mar Báltico causam impacto ambiental considerável, segundo os estudos realizados.

Além disso, a região de Lernacken, no litoral sueco, é considerada um santuário ecológico por reunir até 30 mil aves em épocas de migração, enquanto as águas próximas de Falsterbo são consideradas reserva marinha. O Øresund é também lar de colônias de focas em Måkläppen, ao Sul de Falsterbo, e na ilha Saltholm.

Assim, os governos da Suécia e Dinamarca não poderiam permitir que a correnteza marítima fosse obstruída, ou afetadas as reservas ambientais. Esse requisito foi chamado de "a solução zero", e era válido também para a Great Belt Bridge. Até mesmo o ruído provocado pelas obras foi calculado, definindo-se períodos do ano em que elas poderiam ser realizadas sem causar impactos sobre a fauna local.


Vista aérea das pontes, destacando os pilares
Foto: Pierre Mens

A redução na correnteza causada pela ligação no Øresund não podia exceder 0,5%, e o impacto de 2,3% previsto nos estudos iniciais seria compensado pela dragagem do fundo do mar. Havia também limitações severas quanto à quantidade de material dragado (ficou em 1,8 milhão de m³) e ao espalhamento desse material pelas águas (no máximo 0,5% do material dragado), considerando inclusive a distribuição em escala de tempo, para que não fosse afetada a pesca na área.

Esses foram os pontos mais polêmicos desde que as negociações entre os dois governos foram retomadas em 1989, dadas as diferenças entre as legislações ambientais dos dois países.


Detalhe da fixação dos cabos na ponte
Foto: Steen Brogaard

A ligação fixa do Øresund foi inaugurada e entrou em operação em 1º de julho de 2000, e nessa época se comprovou o sucesso nesse objetivo. Fauna e vegetação foram cuidadosamente observados, bem como a morfologia da costa na zona de construção, para garantir que nenhum efeito ambiental adverso ocorresse - se bem que as análises quanto a alterações na linha costeira devam prosseguir por mais 100 anos, pelo Øresundsbro Konsortiet (Øresundskonsortiet).

(*) Carlos Pimentel Mendes é editor do jornal eletrônico Novo Milênio.

Veja mais:
Um túnel sobre o mar... (1)
Um túnel sobre o mar... (3)


Ponte de acesso ocidental, com a ilha artificial Peberholm ao fundo
Foto: Søren Madsen

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