Editorial
Desaprumo irresponsável
Luiz Carlos Ferraz
Analisada
sob o ponto de vista técnico, a polêmica inclinação
dos edifícios da orla marítima de Santos apresenta soluções
diversas, expostas no seminário internacional realizado recentemente
na cidade, com ampla cobertura do Perspectiva, edições
124
e 125, e que teve a participação
das principais empresas de fundações e geotecnia.
A melhor opção a ser
utilizada, contudo, dependerá tão-somente do caso estudado,
considerando a relação custo-benefício e, especialmente,
a condição social dos moradores do prédio ameaçado.
E esgotou-se o debate, em momento a partir do qual pretendemos avançar,
ao focar o âmbito jurídico do desaprumo das edificações,
ainda que rapidamente – mais pelo reduzido espaço disponível
do que pela explosividade do tema –, projetando para a responsabilidade
civil.
Afinal, sabendo, como sabia, da péssima
qualidade do solo de Santos, se a Municipalidade tivesse exigido fundações
adequadas, profundas, os prédios não estariam na situação
atual. E sabendo, como sabiam, da qualidade deste solo, se as construtoras
tivessem adotado técnicas já existentes, os edifícios
não teriam ficado tortos.
O resgate dessa relação
histórica será fundamental para reparar o dano de uma coletividade
identificável de munícipes-moradores e prevenir uma catástrofe,
não de todo afastada. Deverá estar atento o Ministério
Público, que tem competência constitucional para agir. Aliás,
se já não foi o autor do pedido, que fique sabendo que a
própria Municipalidade já cuida de mapear as edificações
inclinadas, para identificar aquelas que continuam a sofrer recalque de
forma perigosa, para auxiliar na solução técnica. |