Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/real/ed124a.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 10/12/03 15:21:39
Edição 124 - SET/2003 

Editorial

Cidadania desesperada

Luiz Carlos Ferraz

Interpretada ao pé da letra pelas autoridades municipais da Pérola do Atlântico, que o repudiaram desde o primeiro momento, o auto-proclamado movimento "Boicote ao Guarujá" – que conclamou o País a evitar o balneário no primeiro final de semana de outubro, após mais um latrocínio, desta vez de um executivo chileno do banco Santander na praia da Enseada – deverá servir de emblema do estado de insuportabilidade a que chegou o cidadão comum em face da falência de todas, absolutamente todas as instituições da sociedade – especialmente aquelas sob a responsabilidade do Estado, mas também as civis, a principal delas, a Família. 

Não que o movimento, na prática, tenha sido um sucesso. Pelo contrário, foi um estrondoso fracasso, com Guarujá lotado sob o sol da Primavera, tanto que seu autor, por motivos que lhe são particulares, tratou de encerrá-lo abruptamente oito dias após tê-lo deflagrado sem qualquer planejamento. Decisões desesperadas. 

O emblema, contudo, permanece; pois o cerne de tal movimento, embora nefasto no nome (e limitado por escolher um único Município, quando a insegurança é geral), haverá de ser compreendido e conquistar a direção e união de autênticas lideranças – nos níveis local, metropolitano, estadual e nacional –, por meio das entidades da sociedade organizada e principalmente pelo Ministério Público. Afinal este é o órgão da Justiça que tem interesse de agir em questões que dizem respeito aos chamados direitos difusos, aqueles que são de todos, indistintamente. E a segurança é um desses direitos. Inócuo, portanto, o autor dar como concluído tal movimento. Reconheça-lhe o mérito de ter tido a coragem de acionar o alarme.