Editorial
Cidadania desesperada
Luiz Carlos Ferraz
Interpretada
ao pé da letra pelas autoridades municipais da Pérola do
Atlântico, que o repudiaram desde o primeiro momento, o auto-proclamado
movimento "Boicote ao Guarujá" – que conclamou o País a evitar
o balneário no primeiro final de semana de outubro, após
mais um latrocínio, desta vez de um executivo chileno do banco Santander
na praia da Enseada – deverá servir de emblema do estado de insuportabilidade
a que chegou o cidadão comum em face da falência de todas,
absolutamente todas as instituições da sociedade – especialmente
aquelas sob a responsabilidade do Estado, mas também as civis, a
principal delas, a Família.
Não que o movimento, na prática,
tenha sido um sucesso. Pelo contrário, foi um estrondoso fracasso,
com Guarujá lotado sob o sol da Primavera, tanto que seu autor,
por motivos que lhe são particulares, tratou de encerrá-lo
abruptamente oito dias após tê-lo deflagrado sem qualquer
planejamento. Decisões desesperadas.
O emblema, contudo, permanece; pois
o cerne de tal movimento, embora nefasto no nome (e limitado por escolher
um único Município, quando a insegurança é
geral), haverá de ser compreendido e conquistar a direção
e união de autênticas lideranças – nos níveis
local, metropolitano, estadual e nacional –, por meio das entidades da
sociedade organizada e principalmente pelo Ministério Público.
Afinal este é o órgão da Justiça que tem interesse
de agir em questões que dizem respeito aos chamados direitos difusos,
aqueles que são de todos, indistintamente. E a segurança
é um desses direitos. Inócuo, portanto, o autor dar como
concluído tal movimento. Reconheça-lhe o mérito de
ter tido a coragem de acionar o alarme. |