Opinião
A alternativa
que resta
Artur Quaresma Filho (*)
Não
é preciso fazer um grande exercício intelectual para entender
por que os principais candidatos de oposição, juntos, contam
com a esmagadora preferência do eleitorado. A força oposicionista
persiste, apesar do inegável esforço do governo em preservar
a estabilidade econômica.
A percepção generalizada
é de que só com crescimento conseguiremos vencer o desemprego,
diminuir a violência, ampliar o atendimento da saúde e da
educação, prover habitação e saneamento, evitar
novo racionamento de energia e voltar a dispor de serviços públicos
com tarifas razoáveis.
Entretanto, o presidente eleito,
qualquer que seja, terá de manter um superávit fiscal equivalente
a 3,75% do PIB até 2005, sob pena de desequilíbrio nas contas
públicas e grave risco à estabilidade. Isso precisará
ser feito num quadro de aumento no mínimo vegetativo das despesas
de governo.
Embora não impossível,
seria um suicídio político atingir tal superávit pela
via da elevação dos impostos. Assim, resta ao próximo
governo a tarefa que a iniciativa privada assumiu para sobreviver às
turbulências dos últimos anos: elevar a eficiência no
gasto dos minguados recursos.
O poder público no Brasil
é extremamente ineficaz nesse sentido. Os mesmos 100 dinheiros gastos
pelo governo rendem menos unidades em contrapartida de serviço e/ou
infra-estrutura do que na maioria dos países nos quais nos espelhamos.
As razões são múltiplas.
Vão desde o descaso crônico de administradores e políticos
com o interesse público, a falta de recursos para informatização,
a ignorância, a ausência de gestão da qualidade e até
uma persistente corrupção. Tudo isso desvia recursos que
poderiam ser utilizados para construir mais escolas, hospitais, estações
de saneamento, moradias, o que adicionalmente aumentaria o emprego e reduziria
a violência.
O governo retira das empresas e dos
assalariados vultosos recursos que acabam esterilizados pela baixa eficácia
do gasto público.
O próximo presidente e os
futuros governadores de Estado poderão dar sua colaboração
decisiva para o superávit de 3,75%, se perseguirem a eficiência
na gestão pública e o combate à corrupção
desde o primeiro dia de seus governos.
Se isso não ocorrer, serão
forçados a promover reduções ainda maiores nas despesas
governamentais – o que implicará redução das obras
públicas, menos conjuntos habitacionais, deterioração
dos serviços públicos, aumento do desemprego, mais violência.
Exatamente o que alimenta a insatisfação generalizada com
a política econômica vigente.
Tal perspectiva transforma a busca
da qualidade na gestão pública na única forma de evitar
que os próximos governantes fracassem logo no início de seus
mandatos.
(*) Artur Quaresma
Filho é presidente do SindusCon-SP Sindicato da Indústria
da Construção Civil do Estado de São Paulo e coordenador
da Comissão da Indústria da Construção da Fiesp. |