Opinião
Criar a Caixa Social Federal
Artur Quaresma Filho (*)
Um novo
plano habitacional, como o que o governo federal pretende enviar ao Congresso,
é sempre bem-vindo. O déficit de moradias atinge 5,4 milhões
de famílias, 84% das quais com rendimentos de até três
salários mínimos, totalizando mais de 20 milhões de
brasileiros. Nessa perspectiva, não se pode menosprezar nenhuma
iniciativa, mesmo que venha em final de governo.
A questão do déficit
vem se somar a duas outras de igual gravidade: o decréscimo da renda
das famílias e a manutenção dos juros em patamares
elevados. É certo que a taxa básica declinou 0,5% em julho,
mas sem qualquer viés.
Um cenário macro-econômico
significativamente diferente do atual, com juros baixos e renda das famílias
em alta, é condição para o sucesso de qualquer projeto
habitacional, seja o divulgado neste mês, sejam os apresentados pelos
principais candidatos à Presidência da República.
O esforço em superar a situação
da moradia esbarra em mais um complicador. Há dificuldades de toda
ordem para a obtenção de financiamentos. As instituições
financeiras, privadas ou públicas, tornaram-se excessivamente conservadoras
na classificação de risco das construtoras e dos potenciais
mutuários. Barreiras financeiras, técnicas e burocráticas
retardam ou inviabilizam empreendimentos imobiliários.
Uma vez que as instituições
financeiras dificilmente mudarão seu comportamento, o sucesso de
qualquer plano habitacional também depende da criação
de uma agência de crédito social, destinada a financiar moradias
para milhões de brasileiros em condições diferenciadas,
dentro da realidade social do país. Outra possibilidade é
que o setor habitacional da Caixa Econômica Federal reveja seus critérios
e procedimentos, de modo a elevar o volume e a abrangência de financiamentos
para construtoras, incorporadoras e mutuários.
Para tanto, a Caixa deveria flexibilizar
a análise de risco de crédito dos mutuários, mudar
os critérios de aprovação de projetos, empreendimentos
e classificação de empresas, rever exigências e levar
em conta o histórico das construtoras para a concessão de
financiamentos.
A idéia não é
substituir a Caixa enquanto instituição financeira. Mas ou
seu setor habitacional assume um perfil ainda mais próximo de mutuários,
construtoras e incorporadoras, ou se cria uma nova agência de crédito.
Essa instituição poderia se chamar Caixa Social Federal,
para sinalizar uma vocação totalmente comprometida com a
solução do problema da moradia no país. Caso contrário,
qualquer plano habitacional não atingirá os resultados esperados.
A construção civil
está pronta a colaborar no que for necessário. Isto é
algo que independe deste ou daquele candidato. Começando agora,
quem sabe consigamos erradicar o déficit habitacional em poucos
anos e, ainda, manter viva a construção civil e gerar milhões
de empregos.
(*) Artur Quaresma
Filho é presidente do Sindicato da Indústria da Construção
Civil do Estado de São Paulo SindusCon-SP. |