Opinião
Por uma reforma tributária
adequada
Artur Quaresma Filho (*)
Neste
ano eleitoral, dê R$ 1 milhão ao Estado e ele comprará
mais armas e viaturas para a polícia. Dê R$ 1 milhão
à sociedade e ela irá aumentar o consumo. Qualquer sobressalto
na economia será respondido com elevação dos juros
e restrições ao crédito. Jogue uma pitada do receituário
do FMI nesse caldeirão gelado e pronto! Sorva mais uma vez a amarga
poção que freia a inflação na base de crescimento
econômico pífio e juro alto!
Incrementos anuais envergonhados
de 1 a 2% do PIB significam escassos investimentos produtivos e bem menos
emprego do que o necessário – o que tem levado à intensificação
da violência e à necessidade de arrecadar mais recursos para
combatê-la. Juros altos aumentam a dívida pública,
também exigindo arrecadação maior para o seu pagamento.
Esse círculo vicioso infernal
responde por uma parte das sucessivas elevações da carga
tributária dos últimos anos. Se ela continuar aumentando
nesse ritmo, em pouco tempo chegará a 50% do PIB.
Entretanto, não há
como promover o desenvolvimento econômico sem estancar a hemorragia
de recursos drenados da sociedade para o governo. Parte do que as empresas
recolhem em impostos viraria investimento na produção. Parte
do que os consumidores pagam na forma de tributos embutidos nos preços
sobraria no bolso e aumentaria o consumo. A inflação não
escaparia do controle se os mecanismos de defesa da concorrência
funcionassem a contento. A elevação da demanda geraria empregos
e renda. Sem poder aumentar impostos, o Estado seria obrigado a se tornar
mais eficiente. Fiscalizaria melhor o funcionalismo para diminuir a corrupção,
a concussão e o peculato. Cessaria gastos em missões estapafúrdias
ao exterior, aumentaria a agilidade em todas as instâncias.
Embora haja consenso sobre esses
pontos, o país não conseguiu implementar a reforma tributária.
E diferentes partidos não têm escrúpulos em taxar mais
a sociedade quando viram governo.
Acontece que ninguém agüenta
mais aumento de imposto. Dentro dessa perspectiva, 60 entidades da sociedade
civil, incluindo o SindusCon-SP, lançaram dia 29/4/2002, a Ação
Nacional pela Justiça Tributária (Anjut), em ato público,
realizado em São Paulo.
O movimento pressionará por
uma reforma tributária adequada, que distribua melhor a carga de
impostos, impeça a sua elevação e leve à geração
de renda e emprego.
É possível que o clamor
da sociedade mais uma vez não atravesse as grossas paredes do Ministério
da Fazenda. Até porque falta definir qual é o tamanho do
Estado que queremos e aí formatar um novo patamar para a arrecadação.
Mas isto não impede a sociedade de comprometer desde já atuais
e futuros governantes e congressistas com a mudança do modelo tributário
deste país. Caso contrário, seremos eternamente obrigados
a arrecadar cada vez mais para combater a violência crescente.
(*) Artur Quaresma
Filho é presidente do SindusCon-SP – Sindicato da Indústria
da Construção Civil do Estado de São Paulo e coordenador
da Comissão da Indústria da Construção da Fiesp. |