Dinheiro
Esperando negócios
Terrenos milionários
em frente ao mar são opção de investimento
Renata Viana
Enganam-se
os que pensam que está esgotado o estoque de áreas disponíveis
à construção na orla de Santos. Em meio a inúmeros
edifícios à beira-mar, terrenos milionários representam
opção para investidores dispostos a fomentar negócios
em uma das regiões mais valorizadas da Baixada Santista.
De acordo com levantamento realizado
pelo Jornal Perspectiva, existem pelo menos uma dúzia de
terrenos esperando investimentos na orla de Santos. Alguns possuem destino
certo, como o que está sendo adquirido pelo Lar das Moças
Cegas, no Bairro do José Menino, e deverá servir para alavancar
recursos às obras assistenciais da entidade. Outros, contudo, reservam
oportunidades para os empresários que pretendem construir empreendimentos
de alto padrão. “Os espaços em frente ao mar custam caro
e se destinam às edificações de padrão diferenciado”,
frisa o engenheiro Antônio Carlos Silva Gonçalves, secretário
de Obras e Serviços Públicos de Santos.
A localização privilegiada
atrai investidores, mas a pouca oferta produz valores formidáveis,
muitas vezes superiores ao da planta genérica da cidade, cujo metro
quadrado na Avenida Presidente Wilson deveria custar, em média,
R$ 957,00, e na Avenida Bartolomeu de Gusmão, até R$ 1.573,00.
Segundo o levantamento, boa parte
dos imóveis disponíveis localiza-se na Ponta da Praia. “Muitos
deles pertencem a grandes construtores que visam uma reserva de mercado
para o momento oportuno”, afirma o secretário Gonçalves,
citando o terreno da Avenida Saldanha da Gama, 96. Localizado vizinho ao
campus
da Universidade Paulista, o imóvel é de propriedade da Construtora
Miramar, do empresário Armênio Mendes; abrigou uma danceteria,
mas hoje está abandonado. A área possui mais de nove mil
metros quadrados e seu valor venal é estimado em R$ 5,8 milhões.
Já o valor de mercado, apesar de não estar à venda,
pode ultrapassar os R$ 10 milhões.
Questões jurídicas
- Além dos preços salgados, problemas judiciais e partilha
de bens são alguns obstáculos encontrados pelos possíveis
compradores dos imóveis. É o
caso do terreno localizado na Avenida Vicente de Carvalho, 62, na Praia
do Gonzaga, onde funcionava o Bar da Praia. Aguardando a melhor oferta,
os donos ainda não foram sensibilizados a comercializar a área
de mil metros quadrados. Para se ter uma idéia, o valor venal gira
em torno de R$ 1,8 milhão, considerando o metro quadrado a R$ 1.800,00.
O preço de mercado, contudo, é outra estória.
Já o terreno de 1.200 metros
quadrados na Avenida Presidente Wilson, 108, esbarrou na falência
da Encol e desde 96 a construção está abandonada.
“Apenas as fundações foram concluídas. Lutamos por
um financiamento para darmos continuidade à obra”, afirma Maria
de Lourdes Marques, porta-voz da comissão formada pelos proprietários
lesados.
Ela conta que os compradores conseguiram
fazer a escritura sobre a fração ideal de cada condômino
antes que a construtora falisse. O grande desafio do grupo agora é
obter financiamento de R$ 7 milhões, necessários para a conclusão
do prédio, diante das inúmeras exigências feitas pela
Caixa Econômica Federal. Entre outras, a CEF exige da construtora
um depósito de R$ 2,7 milhões, referente ao seguro da obra.
Outra dificuldade é a dívida
do terreno junto à Prefeitura, que atinge R$ 700 mil. Há
um ano, os moradores lutam para obter anistia, mas não obtiveram
êxito. “Enquanto isso, a dívida continua a crescer. Muitos
compradores já estão desanimados, mas tenho esperança
de que tudo dê certo”, calcula Maria de Lourdes, esperando que a
obra tenha início em 2/2002 e seja concluída até 2004.
Desde 1949, a Praticagem de Santos
possui sede no número 64 da Avenida Saldanha da Gama, ao lado do
Clube de Regatas Saldanha da Gama, na Ponta da Praia. Em outubro de 2001,
a antiga casa foi demolida, despertando a atenção dos investidores.
Edson Botelho Calenzo, gerente geral da Praticagem, deixa claro que a cooperativa
não possui intenção de comercializar o terreno, que
conta com 900 m². “Vamos construir uma nova sede no local, desta vez
ainda maior”, informa Calenzo.
Localizado em frente ao Emissário
Submarino, no Bairro José Menino, em Santos, o terreno
de 800 m² da Avenida Presidente Wilson, 182, foi doado em 1995 a várias
entidades filantrópicas, que aos poucos estão vendendo suas
cotas para o Lar das Moças Cegas. “Conseguimos adquirir 44% do terreno”,
informa o presidente da entidade Carlos Antônio Gomes. No local,
existe um casarão de oito cômodos, projetado na década
de 20. Por ser uma construção antiga, a casa precisa de reparos
estruturais. “Será uma reforma lenta porque não temos recursos”,
afirma o presidente. A idéia da entidade é transformar o
imóvel em local de eventos beneficentes. “Praticamos filantropia,
mas não pedimos esmola. A casa será uma forma de arrecadarmos
mais dinheiro”, explica Gomes.
Para o secretário de Obras
e Serviços Públicos a escassez de terrenos de frente para
o mar poderá ser amenizada com a demolição dos prédios
tortos, o que deverá ocorrer a médio e longo prazos, quando
o custo-benefício desse tipo de operação compensar
aos investidores. “Muitos edifícios apresentam um custo de recuperação
incompatível com o valor do imóvel. São prédios
de quitinetes e apartamentos de um dormitório cuja reforma
não compensa”, analisa, torcendo pela modernização
da arquitetura dos prédios da orla. |