Editorial
Rever o vestibular
Luiz Carlos Ferraz
Num País
em que o índice de analfabetismo o classifica como potência
de Terceiro Mundo, com taxas a partir de 37,7 % na melhor avaliação,
entre homens de 25 a 39 anos, a mercantilização da Educação
continua gerando situações esdrúxulas, a mais recente
no episódio em que um analfabeto foi aprovado no exame vestibular,
em 9º lugar, numa faculdade carioca.
Em que pese a estratégia de
sucesso do candidato, que repetiu as respostas de apenas duas letras, demonstrando
que apesar de analfabeto não é burro, mais uma vez revelou-se
a discutível utilidade do exame vestibular, muitas vezes confundido
com um instrumento caça-níquel a engrossar a receita de final
de ano das universidades – embora algumas, como a Unip, tenha instituído
a inscrição grátis aos que prestaram o Enem.
O vestibular, da forma como é
utilizado, significa um desvio que merece estudo do ministro Paulo Renato
Souza. Que se acabe com este funil, hoje aparentemente útil apenas
nas universidades públicas, já que é inócuo
na rede particular, em face da ampla oferta de vagas nos cursos pagos devido
a proliferação, até certo ponto saudável, ocorrida
nos últimos anos. Tanto que há universidades que se obrigam
a um segundo vestibular para preenchimento de vagas.
A questão hoje não
é mais saber como entra o secundarista na faculdade, o que o Enem
cuida de avaliar e corrigir, mas como está sendo formado o bacharel,
o que o Provão busca fiscalizar e qualificar. Sem barreiras fictícias,
com as portas abertas à universidade, teremos a perspectiva de formar
cidadãos cada vez mais conscientes para o exercício de seu
papel na sociedade. |