Cidadania
A eficiência do deficiente físico
Benjamim Souza da Cunha (*)
Ver, ouvir, falar, andar... Qualquer pessoa que não tenha um
desses atributos é imediatamente nomeada: deficiente físico. Em nossa cultura, incorporamos a idéia de que ser deficiente é ser
incapaz de trabalhar e produzir. Aliás, criamos uma imensa barreira em relação a essa questão. E passamos a discriminar, pois tudo o
que foge ao padrão da loira fenomenal ou do moreno alto agride nossos olhos.
Como resultado desse processo, temos hoje uma sociedade que, com raras exceções, deu as
costas aos deficientes. Só se lembra deles quem possui alguém com algum tipo de problema na família ou no rol de amigos; quando é
inevitável ajudar um portador de deficiência a atravessar uma rua; quando se faz parte de movimentos ou entidades que corajosamente
buscam enfrentar a questão; ou quando se lembra que atletas brasileiros conquistaram 22 medalhas nas Paraolimpíadas de Sydney, na
Austrália.
Será possível mudar essa situação? Acreditamos que sim, pois tudo é questão de postura e de
um pouco de autocrítica. Afinal, quem de nós é perfeito, sem nenhum tipo de deficiência?
Como não é possível mudar atitudes sem algum tipo de estímulo, o Secovi-SP decidiu iniciar
ampla mobilização com vistas à integração do deficiente físico no mercado de trabalho e, conseqüentemente, na sociedade. Com o mote
“A Eficiência do Deficiente Físico”, a meta é iniciar um processo de conscientização a partir de um importante nicho social: os
condomínios.
Além das próprias empresas de administração, os condomínios oferecem amplas oportunidades
para a absorção desse tipo de mão-de-obra. Alguns cálculos afirmam essa assertiva: um condomínio de médio padrão possui, em geral,
seis funcionários – um zelador, dois faxineiros e três porteiros; a carga horária por dia, distribuída por funcionário, é de 48
horas: zelador/8 horas; 2 faxineiros/16 horas; 3 porteiros (distribuídos em turnos de 8 horas cada um deles)/24 horas; portanto, 50%
das atividades correspondentes à carga horária são realizadas por pessoas sentadas.
Assim sendo, fica evidente que só na atividade de porteiro há um campo considerável para
quem utiliza muletas ou cadeira de rodas. E, note-se, estamos falando de um expressivo número de pessoas. Estudo realizado pela
Universidade de São Paulo (USP) mostra que existem, no Brasil, pelo menos 9 milhões de deficientes em idade economicamente ativa. Ao
todo, são 16 milhões de cidadãos, sendo 7 milhões deles aptos a realizar algum tipo de atividade.
Entretanto, o País só oferece oportunidade de emprego a 11% desse universo (índice muito
menor que os 34% registrados na Europa e nos Estados Unidos). E mais: a mesma pesquisa revela aumentar o mercado de trabalho para o
deficiente também é importante para reduzir o déficit público. Conforme levantamentos, o Ministério da Previdência Social gasta
cerca de R$ 136 milhões com 900 mil portadores de necessidades especiais. Assim, sua inclusão também seria útil à economia
brasileira. Só na área condominial poderiam ser criados 11 mil novos postos de trabalho.
Temos certeza de que a campanha, cujo alcance será proporcional ao apoio da imprensa,
ajudará a mudar essas circunstâncias, e sem assistencialismos. Afinal, o deficiente não quer caridade; quer oportunidade.
(*) Benjamim Souza da Cunha é vice-presidente de Condomínios e
Relações Trabalhistas do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de
São Paulo (Secovi-SP). |