Política
Regulamentar o transporte coletivo
Alberto Goldmann (*)
O crescimento
desordenado das cidades e dos grandes centros metropolitanos, somado ao
crescimento da frota individual de veículos e ao descontrolado surgimento
do transporte alternativo, como vans, microonibus, peruas e mototáxis,
inviabilizaram o sistema de transporte coletivo urbano.
A realidade é que estamos
sem políticas urbanas. A conseqüência direta desta situação
é a sobrecarga do sistema viário das cidades e o aumento
assustador de mortes por atropelamento. Diante deste quadro, a urgência
da criação de uma Política Nacional para o Transporte
Urbano vem ganhando espaço na pauta de discussões do Legislativo
e o Executivo federal.
Diferentemente de outros setores,
como telecomunicações, energia elétrica, saúde,
educação, não há no País uma regulamentação
para o setor de transporte urbano. Estamos extremamente atrasados nesse
sentido.
Cabe constitucionalmente à
União estabelecer as diretrizes e definir incentivos para a alocação
de recursos para fomentar o desenvolvimento da área.
Projeto - Na Câmara
dos Deputados, tramita há mais de 5 anos o projeto de lei 694-A,
de minha autoria, que regulamenta o setor. Estabelece diretrizes gerais,
regula a concessão de transporte coletivo às empresas públicas
e privadas, modernizando sensivelmente uma legislação antiga
e precária que não permite que o setor ofereça um
melhor serviço. No entanto, o projeto entra e sai da pauta de votação
das Comissões, a cada reunião, por ação dos
interesses contrários.
As empresas já instaladas,
com suas linhas, têm parcela de responsabilidade pela não
regulamentação do setor. Na realidade os empresários
de ônibus estavam tranqüilos, antes do estabelecimento dos alternativos,
porque a rentabilidade nesse clima de desordem era muito elevada. A regulamentação
pressupõe inevitavelmente a obediência do princípio
constitucional que é o da licitação pública.
As empresas não queriam as licitações nos moldes que
a Constituição manda e que a lei deveria regulamentar – reorganizando
o sistema e replanejando-o.
Sem regulamentação,
estabeleceu-se o caos. De um lado, a inação do poder público
diante da situação. Do outro, uma atitude explicita do empresariado
de impedir a regulamentação visando a manutenção
de benefícios e privilégios concedidos a margem da lei.
Só agora esses empresários
estão percebendo que essa postura destruiu o sistema de transporte.
Existem prefeituras que fazem suas licitações como manda
a lei. Existem as que não as fazem e prorrogam as concessões
ilegalmente. Existem ainda aquelas que fazem todo o tipo de acordo, o que
dá margem à corrupção.
Só agora o governo se dispôs
a discutir uma política nacional de desenvolvimento urbano para
o setor. Criou em maio do ano passado o Grupo Executivo de Transporte Urbano,
ligado a Secretaria de Desenvolvimento Urbano – Sedu, sob a coordenação
do ministro Ovídio de Angelis, para “desenvolver estudos e coordenar
os programas e projetos de interesse do transporte urbano”.
A Sedu está fazendo um trabalho
intenso e deve, nos próximos meses, apresentar uma proposta de regulamentação
que poderá alterar o meu projeto ou substituí-lo. Neste momento
é preciso somar esforços para que o setor seja regulamentado.
Não estou querendo aqui culpar
ou desculpar os empresários. Eles têm suas razões.
Estão fazendo investimentos
e que sem preservá-los não vai haver novos investimentos
no setor. É justo. Mas tem que prevalecer o interesse da população.
Avançamos em muitos setores,
mas na questão urbana, não. A problemática em torno
do transporte coletivo urbano precisa ser enfrentada com seriedade pelos
governos nos diversos níveis.
(*) Alberto
Goldman é deputado federal e vice-presidente do PSDB. |