Cidade
Que tal congelar São Paulo?
“Com limitação
de espaço, haverá uma expansão populacional menor”
Roberto Luís Troster (*)
Colaborador
A cidade
de São Paulo começou o ano de 2001 com uma equipe nova na
prefeitura, enfrentando velhos problemas. A lista das dificuldades que
devem ser solucionadas é extensa: transporte, segurança,
questão social e saneamento para citar alguns. Um exemplo é
a questão do transporte: a cada ano que passa, os congestionamentos
se tornam mais longos e o sistema de transportes coletivos mais sobrecarregado.
Os índices de violência sobem, os hospitais lotam, a população
de rua se multiplica etc. Enfim, a qualidade de vida da cidade se deteriora
sem parar.
A cidade de São Paulo tem
10,5 milhões de habitantes, e ganha 150 mil habitantes todos os
anos com nascimentos e imigrações. Ou seja, uma população
maior que a de algumas capitais brasileiras é adicionada à
capital bandeirante. O que implica em mais demanda de transporte, de vagas
nas escolas, de leitos nos hospitais, de esgotos etc.
O aumento da população
incentiva a criação de mais lojas, mais restaurantes, mais
hotéis com seus respectivos problemas de mais congestionamentos,
mais lixo, mais violência, mais tudo.
Taxas... - O denominador comum
a todos os problemas municipais é que eles aumentam a uma taxa linear
com o crescimento da população; todavia, o custo das soluções
sobe a uma taxa exponencial. A saturação do espaço
municipal faz com que os custos de melhoria sejam proibitivos. Ilustrando
o ponto, para solucionar o problema do transporte em São Paulo,
é necessário expandir o metrô a um custo centenas de
vezes superior à solução do mesmo problema numa cidade
de tamanho médio. Além dos custos serem altíssimos
e a demanda de soluções gigantesca, o orçamento da
prefeitura da cidade é limitado.
Para deteriorar o quadro ainda mais,
existe um aspecto perverso na solução dos problemas de São
Paulo. Se de alguma forma a qualidade de vida da cidade melhorasse, isso
incentivaria a vinda de mais migrantes o que paradoxalmente, acabaria agravando
os problemas de superpopulação. Ou seja, a solução
dos problemas é muito difícil e complexa.
Uma proposta fácil de implementar
e que pode ajudar muito é a de congelar a área construída
da cidade. A medida pode amenizar alguns dos problemas existentes e evitar
o aspecto perverso mencionado acima. O efeito mais importante dessa solução
é que limitaria o crescimento da população da cidade
e, com isso, restringiria o crescimento dos problemas. Uma lei congelando
a área construída é viável legalmente, pois
a concessão de alvarás de construção é
uma prerrogativa da administração municipal. Basta, apenas,
a vontade política da atual prefeita.
Implementação
- A medida seria feita por meio de uma lei municipal que fixaria, nos níveis
atuais, a área construída de cada bairro da cidade, mantendo
a atual lei de zoneamento. Pela lei de congelamento proposta, para conseguir
a autorização para construir uma área em determinado
bairro da cidade, seria necessária a comprovação de
haver demolido a mesma área no bairro em questão.
Dessa forma, a área construída
em cada bairro ficará congelada. Como a área construída
permanecerá estável com a lei de congelamento, isso reduzirá
o aumento dos problemas. A lógica da solução proposta
é simples: com uma limitação de espaço construído,
haverá uma expansão populacional menor, e conseqüentemente
não haverá um aumento grande na pressão por ruas,
segurança, hospitais, escolas etc.
A lei municipal de congelamento também
teria um efeito colateral que ajudaria os atuais proprietários de
imóveis, que ganhariam um valor de demolição.
Como para construir seria necessário demolir, os incorporadores,
além de terem que comprar o terreno para seus empreendimentos, teriam
que comprar outros imóveis no bairro e demoli-los para conseguir
o alvará de construção.
Isso aumentaria o preço dos
imóveis da cidade, o que é bom para os atuais proprietários.
Haveria uma diminuição nos ganhos da especulação
imobiliária na construção de novos empreendimentos,
porém um incentivo maior para reformar os atuais, em razão
dos maiores custos para edificar.
Efeitos - Um outro efeito
colateral seria uma melhoria no nível de qualidade dos imóveis.
Os piores imóveis da cidade teriam um valor de demolição
maior que o valor intrínseco. Dessa forma, haveria uma pressão
do mercado comprando imóveis de pior qualidade apenas pelo valor
de demolição para construir. Evidentemente, tem que haver
uma preocupação especial para que imóveis com valor
histórico não sejam demolidos, mas isso pode ser resolvido
facilmente através de incentivos convenientes.
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O congelamento da área
urbana proposto é uma solução de longo prazo para
alguns problemas apenas e seu impacto, a curto prazo, é mínimo.
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Um aspecto negativo é que
a medida aumentará a pressão que existe sobre a população
marginalizada que não tem vivendas regularizadas. Todavia, esse
é um dos maiores problemas atuais da cidade, não é
trivial e será intensificado com a medida proposta. A outra dificuldade
da lei de congelamento é que deve enfrentar os interesses da especulação
imobiliária que será prejudicada.
Se a lei for sancionada e funcionar,
haverá uma transferência da pressão populacional de
São Paulo para outros municípios, especialmente os vizinhos.
E isso é justamente o que se busca. Apesar de seus problemas, esses
municípios não têm um nível de saturação
urbana tão elevado quanto o paulistano. Dessa forma, a solução
de seus problemas não será tão cara, e a relação
custo-benefício dos problemas urbanos do Estado melhorará.
Os problemas de São Paulo
vêm de muito tempo atrás e não existe uma solução
mágica, instantânea. É necessário trabalhar
muito, em muitas frentes. O congelamento da área urbana proposto
é uma solução de longo prazo para alguns problemas
apenas e seu impacto, a curto prazo, é mínimo. Porém,
permitirá um horizonte mais definido para a cidade e um crescimento
mais ordenado e de melhor qualidade.
(*) Roberto
Luís Troster é professor titular da PUC-SP e editor de ‘Um
Novo Século, Um Novo Brasil’ (Makron Books). |