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Edição 090 - OUT/2000 

Construção

Ecologicamente correta

Helô Coimbra

Falando em construção civil, terra, bambu e madeira parecem coisa do passado? Pelo contrário. É exatamente desses materiais que abusam as casas e até prédios que começam a surgir nos EUA, Austrália e Europa. O uso desses materiais reflete a tendência de vanguarda da arquitetura que é a construção ecologicamente correta.

Veja alguns exemplos: 20% das novas casas, na Austrália, são de taipa de pilão. Na Califórnia, os mais ricos constróem mansões com técnicas semelhantes às utilizadasSede do grupo financeiro ING, em Amsterdã (Holanda), principal modelo comercial de ecoarquitetura - Foto: divulgação nas casas de pau-a-pique do interior do Nordeste. O estado de Nova Iorque criou um programa de dedução de impostos para incentivar a construção de edifícios ecologicamente corretos, num total de 25 milhões de dólares a serem utilizados até 2004. Na Holanda, as 10 torres que abrigam os 2.500 funcionários da sede do ING Group, no sudeste de Amsterdã, construídas em 1987, continuam sendo referência quando se trata de “green building”, ou construção verde. E o bom senso ecológico está chegando ao terceiro mundo: na Colômbia e na Costa Rica, o bambu substitui o concreto em casas e até em prédios.

Parece que, ao contrário do que muitos imaginavam, no futuro, as casas em que vivemos e os escritórios em que trabalhamos, vão ser projetados para funcionar como organismos vivos, especificamente adaptados ao local e capazes de suprir todas as suas necessidades de água e energia, a partir do sol, do vento e da chuva. A arquitetura do futuro vai se inspirar não nas máquinas do século 20, mas nas flores que crescem ao nosso redor. 

O que é construção verde? - As construções têm um impacto tremendo sobre o meio ambiente, tanto durante a obra quanto funcionando, depois de concluídas. Construção verde é uma série de estratégias de utilização do solo, projeto arquitetônico e construção em si, que reduzem o impacto ambiental. Os benefícios decorrentes de construir verde incluem:No interior, aconchego, conforto e mais saúde - Foto: divulgação

Menor consumo de energia, 
Proteção dos ecossistemas e 
Mais saúde para os ocupantes.

A Environmental Building News, revista on-line especializada no assunto, traz inclusive uma lista de prioridades para a construção verde ou sustentável:

1. Poupe energia – projete e construa edificações de baixo consumo - O consumo contínuo de energia de uma construção é provavelmente o seu maior impacto ambiental. Alguns fatores importantes são o isolamento térmico, janelas de alto desempenho, iluminação natural, recursos renováveis de geração de energia e equipamentos de baixo consumo. 

2. Recicle construções já existentes aproveitando a sua infra-estrutura em vez de ocupar novos espaços – As construções já existentes são muitas vezes fontes riquíssimas de recursos materiais e culturais. Em muitos casos, o trabalho e a qualidade dos materiais utilizados são quase que impossíveis de serem duplicados atualmente o que faz com que a restauração seja ainda mais desejável. No entanto, não ignore a prioridade 1 e manuseie de forma adequada os materiais perigosos muitas vezes presentes nessas construções. 

3. Pense em termos de comunidade – Para reduzir o impacto ambiental, a questão do transporte merece atenção. Mesmo que seja extremamente eficiente em termos de consumo de energia, até a mais passiva das casas equipadas com energia solar trará um forte impacto ambiental se seus ocupantes tiverem que percorrer quilômetros e quilômetros de carro para o trabalho. As restrições do zoneamento urbano muitas vezes mais atrapalham do que ajudam a diminuir o impacto ambiental. Considere o transporte público, facilite o trânsito de pedestres e de bicicletas. 

4. Diminua o consumo de material - Otimize o projeto para aproveitar espaços reduzidos e utilizar materiais com mais eficiência. Quando se trata do meio ambiente, menor é melhor e sejam quais forem os materiais utilizados, é quase sempre melhor usar menos desde que isso não comprometa a durabilidade ou integridade estrutural da construção. Diminuindo a área superficial de uma construção, você diminui o consumo de energia. Diminuir o desperdício, além de ajudar o meio ambiente, reduz o custo. Procure aproveitar bem o espaço e simplifique a geometria da edificação para poupar energia e materiais. 

5. Proteja e melhore o local - Preserve ou restaure o ecossistema e a biodiversidade – Nos ecossistemas frágeis ou significativos, esta pode ser a prioridade número 1. Proteja os mangues e outras áreas ecologicamente importantes numa parte da área que será construída. Em alguns casos, é preciso avaliar bem se a construção deve realmente ser feita. Nas áreas ecologicamente danificadas, procure reintroduzir as espécies nativas. Proteja as árvores e a camada superior do solo durante a obra. Evite o uso de pesticidas. Quando houver tratamento de esgoto no local, aja com responsabilidade no que se refere aos despejos. Existem muitas boas novidades nesta área. 

6. Escolha materiais de baixo impacto – A maior parte, mas nem todo o impacto ambiental causado pelo material de construção, já aconteceu quando esses materiais são usados. As matérias primas foram extraídas do solo ou das florestas, poluentes foram emitidos durante a fabricação e energia foi gasta durante a produção. Alguns materiais, como os que destroem a camada de ozônio, continuam poluindo durante o seu uso. E alguns materiais têm um forte impacto ambiental na hora do descarte. Evite os materiais que geram poluição durante a fabricação; use materiais de baixo consumo de energia na extração da matéria prima, industrialização e transporte; prefira materiais reciclados; evite materiais que consomem recursos naturais limitados. Evite os materiais feitos com produtos tóxicos ou perigosos. 

7. Maximize a longevidade – projete com durabilidade e adaptabilidade – quanto mais tempo uma construção dura, maior o período durante o qual o seu impacto ambiental pode ser amortizado. Quando construir para durar, não esqueça de pensar em como a edificação pode ser modificada para se adaptar a novas necessidades. Escolha materiais duráveis. Construa de forma a evitar a decomposição prematura. Pense na manutenção e substituição dos componentes menos duráveis. Projete uma edificação adaptável, principalmente se ela tiver propósitos comerciais. Considere a estética e prefira a idéia da “arquitetura atemporal”. 

8. Poupe água - Projete edificações de baixo consumo – Instale tubulações e equipamentos de baixo consumo. Colete e utilize a água da chuva. Separe a água de pias e chuveiros (as chamadas águas cinzas) e reutilize na irrigação de jardins. 

9. Torne a construção saudável – Crie um ambiente interno seguro e confortável – Os ambientes interno e externo estão totalmente relacionados e qualquer construção “verde” deve garantir a saúde de seus ocupantes. Projete o sistema de distribuição de ar para que a limpeza e manutenção sejam fáceis. Evite equipamentos mecânicos que possam introduzir gases de combustão. Controle a umidade para evitar o mofo. Evite materiais que liberam poluentes. Permita que a luz do dia penetre no maior número possível de ambientes. Providencie ventilação contínua. Dê aos ocupantes algum controle sobre o ambiente como o controle do aquecimento e da iluminação. 

10. Minimize o desperdício de construção e demolição – Em se tratando de cada vez mais materiais, a separação e reciclagem está compensando, economicamente. Separe os refugos de construção e demolição para reciclagem. Doe o material reutilizável para organizações sem fins lucrativos ou outros grupos comunitários para que possam ser usados. 

11. Deixe o seu negócio verde – minimize o impacto ambiental do seu negócio. Divulgue e fale sobre o assunto. Use veículos de baixo consumo para a empresa, incentive o uso do transporte público e a carona. Use papel reciclável. Use o projeto para educar clientes, colegas, prestadores de serviço e o público em geral sobre o impacto ambiental das edificações e como diminuí-lo.

Bambu, o material nobre 
da construção ecológica

De todos os materiais renováveis utilizados na construção ecológica, o bambu se destaca, por várias razões. Mas principalmente porque é um recurso renovável, com baixo custo de produção e pouco poluente. A partir do terceiro ano após o plantio, o bambu pode ser colhido anualmente - uma árvore demora no mínimo 20 anos para poder ser aproveitada na produção de madeira ou carvão. A utilização do bambu como substituto da madeira pouparia milhões de árvores por ano e, além disso, ele pode ser plantado em áreas onde a agricultura é inviável.

O bambu cresce rapidamente e durante todo o ano. É muito ecológico e mais barato do que a madeira. Outra maravilha que pode ser feita com bambu é papel. A fibra é comprida e cresce depressa, além de ser mais forte do que a de eucalipto. O papel de bambu é mais resistente, e o custo da plantação por hectare é cinco vezes menor do que o custo da produção de eucalipto. Na construção ele também é melhor. Um poste feito com bambu defumado dura 70 anos, mais do que o eucalipto. 

Bambu se destaca como material renovável para construção ecológica - Foto: divulgaçãoAlém disso:
1. O bambu suporta mais tração em relação ao seu peso que o aço.
2. O carvão de bambu é eficaz na despoluição de rios e no tratamento de esgoto.
3. Na Colômbia, ele é utilizado para construir casas resistentes a terremotos.
4. Se o bambu desaparecesse de repente da face da Terra, aproximadamente 10% da população asiática ficaria desabrigada.
5. Cerca de 2 milhões de toneladas de broto de bambu são consumidos por ano.
6. O Brasil é o único país das Américas a ter uma grande indústria de papel de bambu, plantado principalmente no Maranhão.
7. O bambu tem alta concentração de substâncias antioxidantes e cerca de 20% de proteína pura.