Construção
Ecologicamente correta
Helô Coimbra
Falando
em construção civil, terra, bambu e madeira parecem coisa
do passado? Pelo contrário. É exatamente desses materiais
que abusam as casas e até prédios que começam a surgir
nos EUA, Austrália e Europa. O uso desses materiais reflete a tendência
de vanguarda da arquitetura que é a construção ecologicamente
correta.
Veja alguns exemplos: 20% das novas
casas, na Austrália, são de taipa de pilão. Na Califórnia,
os mais ricos constróem mansões com técnicas semelhantes
às utilizadas
nas casas de pau-a-pique do interior do Nordeste. O estado de Nova Iorque
criou um programa de dedução de impostos para incentivar
a construção de edifícios ecologicamente corretos,
num total de 25 milhões de dólares a serem utilizados até
2004. Na Holanda, as 10 torres que abrigam os 2.500 funcionários
da sede do ING Group, no sudeste de Amsterdã, construídas
em 1987, continuam sendo referência quando se trata de “green building”,
ou construção verde. E o bom senso ecológico está
chegando ao terceiro mundo: na Colômbia e na Costa Rica, o bambu
substitui o concreto em casas e até em prédios.
Parece que, ao contrário do
que muitos imaginavam, no futuro, as casas em que vivemos e os escritórios
em que trabalhamos, vão ser projetados para funcionar como organismos
vivos, especificamente adaptados ao local e capazes de suprir todas as
suas necessidades de água e energia, a partir do sol, do vento e
da chuva. A arquitetura do futuro vai se inspirar não nas máquinas
do século 20, mas nas flores que crescem ao nosso redor.
O que é construção
verde? - As construções têm um impacto tremendo
sobre o meio ambiente, tanto durante a obra quanto funcionando, depois
de concluídas. Construção verde é uma série
de estratégias de utilização do solo, projeto arquitetônico
e construção em si, que reduzem o impacto ambiental. Os benefícios
decorrentes de construir verde incluem:
Menor
consumo de energia,
Proteção
dos ecossistemas e
Mais
saúde para os ocupantes.
A Environmental Building News, revista
on-line especializada no assunto, traz inclusive uma lista de prioridades
para a construção verde ou sustentável:
1. Poupe energia –
projete e construa edificações de baixo consumo - O consumo
contínuo de energia de uma construção é provavelmente
o seu maior impacto ambiental. Alguns fatores importantes são o
isolamento térmico, janelas de alto desempenho, iluminação
natural, recursos renováveis de geração de energia
e equipamentos de baixo consumo.
2. Recicle construções
já existentes aproveitando a sua infra-estrutura em vez de ocupar
novos espaços – As construções já existentes
são muitas vezes fontes riquíssimas de recursos materiais
e culturais. Em muitos casos, o trabalho e a qualidade dos materiais utilizados
são quase que impossíveis de serem duplicados atualmente
o que faz com que a restauração seja ainda mais desejável.
No entanto, não ignore a prioridade 1 e manuseie de forma adequada
os materiais perigosos muitas vezes presentes nessas construções.
3. Pense em termos de comunidade
– Para reduzir o impacto ambiental, a questão do transporte merece
atenção. Mesmo que seja extremamente eficiente em termos
de consumo de energia, até a mais passiva das casas equipadas com
energia solar trará um forte impacto ambiental se seus ocupantes
tiverem que percorrer quilômetros e quilômetros de carro para
o trabalho. As restrições do zoneamento urbano muitas vezes
mais atrapalham do que ajudam a diminuir o impacto ambiental. Considere
o transporte público, facilite o trânsito de pedestres e de
bicicletas.
4. Diminua o consumo de
material - Otimize o projeto para aproveitar espaços reduzidos
e utilizar materiais com mais eficiência. Quando se trata do meio
ambiente, menor é melhor e sejam quais forem os materiais utilizados,
é quase sempre melhor usar menos desde que isso não comprometa
a durabilidade ou integridade estrutural da construção. Diminuindo
a área superficial de uma construção, você diminui
o consumo de energia. Diminuir o desperdício, além de ajudar
o meio ambiente, reduz o custo. Procure aproveitar bem o espaço
e simplifique a geometria da edificação para poupar energia
e materiais.
5. Proteja e melhore o
local - Preserve ou restaure o ecossistema e a biodiversidade – Nos
ecossistemas frágeis ou significativos, esta pode ser a prioridade
número 1. Proteja os mangues e outras áreas ecologicamente
importantes numa parte da área que será construída.
Em alguns casos, é preciso avaliar bem se a construção
deve realmente ser feita. Nas áreas ecologicamente danificadas,
procure reintroduzir as espécies nativas. Proteja as árvores
e a camada superior do solo durante a obra. Evite o uso de pesticidas.
Quando houver tratamento de esgoto no local, aja com responsabilidade no
que se refere aos despejos. Existem muitas boas novidades nesta área.
6. Escolha materiais de
baixo impacto – A maior parte, mas nem todo o impacto ambiental causado
pelo material de construção, já aconteceu quando esses
materiais são usados. As matérias primas foram extraídas
do solo ou das florestas, poluentes foram emitidos durante a fabricação
e energia foi gasta durante a produção. Alguns materiais,
como os que destroem a camada de ozônio, continuam poluindo durante
o seu uso. E alguns materiais têm um forte impacto ambiental na hora
do descarte. Evite os materiais que geram poluição durante
a fabricação; use materiais de baixo consumo de energia na
extração da matéria prima, industrialização
e transporte; prefira materiais reciclados; evite materiais que consomem
recursos naturais limitados. Evite os materiais feitos com produtos tóxicos
ou perigosos.
7. Maximize a longevidade
– projete com durabilidade e adaptabilidade – quanto mais tempo uma construção
dura, maior o período durante o qual o seu impacto ambiental pode
ser amortizado. Quando construir para durar, não esqueça
de pensar em como a edificação pode ser modificada para se
adaptar a novas necessidades. Escolha materiais duráveis. Construa
de forma a evitar a decomposição prematura. Pense na manutenção
e substituição dos componentes menos duráveis. Projete
uma edificação adaptável, principalmente se ela tiver
propósitos comerciais. Considere a estética e prefira a idéia
da “arquitetura atemporal”.
8. Poupe água -
Projete edificações de baixo consumo – Instale tubulações
e equipamentos de baixo consumo. Colete e utilize a água da chuva.
Separe a água de pias e chuveiros (as chamadas águas cinzas)
e reutilize na irrigação de jardins.
9. Torne a construção
saudável – Crie um ambiente interno seguro e confortável
– Os ambientes interno e externo estão totalmente relacionados e
qualquer construção “verde” deve garantir a saúde
de seus ocupantes. Projete o sistema de distribuição de ar
para que a limpeza e manutenção sejam fáceis. Evite
equipamentos mecânicos que possam introduzir gases de combustão.
Controle a umidade para evitar o mofo. Evite materiais que liberam poluentes.
Permita que a luz do dia penetre no maior número possível
de ambientes. Providencie ventilação contínua. Dê
aos ocupantes algum controle sobre o ambiente como o controle do aquecimento
e da iluminação.
10. Minimize o desperdício
de construção e demolição – Em se tratando
de cada vez mais materiais, a separação e reciclagem está
compensando, economicamente. Separe os refugos de construção
e demolição para reciclagem. Doe o material reutilizável
para organizações sem fins lucrativos ou outros grupos comunitários
para que possam ser usados.
11. Deixe o seu negócio verde
– minimize o impacto ambiental do seu negócio. Divulgue e fale sobre
o assunto. Use veículos de baixo consumo para a empresa, incentive
o uso do transporte público e a carona. Use papel reciclável.
Use o projeto para educar clientes, colegas, prestadores de serviço
e o público em geral sobre o impacto ambiental das edificações
e como diminuí-lo.
Bambu, o material nobre
da construção ecológica
De todos os materiais renováveis
utilizados na construção ecológica, o bambu se destaca,
por várias razões. Mas principalmente porque é um
recurso renovável, com baixo custo de produção e pouco
poluente. A partir do terceiro ano após o plantio, o bambu pode
ser colhido anualmente - uma árvore demora no mínimo 20 anos
para poder ser aproveitada na produção de madeira ou carvão.
A utilização do bambu como substituto da madeira pouparia
milhões de árvores por ano e, além disso, ele pode
ser plantado em áreas onde a agricultura é inviável.
O bambu cresce rapidamente e durante
todo o ano. É muito ecológico e mais barato do que a madeira.
Outra maravilha que pode ser feita com bambu é papel. A fibra é
comprida e cresce depressa, além de ser mais forte do que a de eucalipto.
O papel de bambu é mais resistente, e o custo da plantação
por hectare é cinco vezes menor do que o custo da produção
de eucalipto. Na construção ele também é melhor.
Um poste feito com bambu defumado dura 70 anos, mais do que o eucalipto.
Além
disso:
1. O bambu suporta mais tração
em relação ao seu peso que o aço.
2. O carvão de bambu
é eficaz na despoluição de rios e no tratamento de
esgoto.
3. Na Colômbia, ele
é utilizado para construir casas resistentes a terremotos.
4. Se o bambu desaparecesse
de repente da face da Terra, aproximadamente 10% da população
asiática ficaria desabrigada.
5. Cerca de 2 milhões
de toneladas de broto de bambu são consumidos por ano.
6. O Brasil é o único
país das Américas a ter uma grande indústria de papel
de bambu, plantado principalmente no Maranhão.
7. O bambu tem alta concentração
de substâncias antioxidantes e cerca de 20% de proteína pura. |