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Edição 089 - SET/2000 

Política

Vícios da "Velha Economia"
(ou da "Velha Política"...)

Candidatos perderam uma ótima oportunidade para propor a inserção da Baixada Santista na nova ordem econômica mundial

Carlos Pimentel Mendes (*)

Mesmo divergindo em pontos menores, os políticos que participaram desta campanha eleitoral concordaram em pelo menos um ponto: todos perderam a oportunidade de colocar, como tema principal de campanha, a inserção da Baixada Santista na nova ordem econômica mundial. A região continua com a mesma cabeça dos barões do café, suspirando por indústrias de grande porte que os países mais desenvolvidos já recusam em seus territórios, e perde a oportunidade de se lançar no mercado internacional como um pólo tecnológico da chamada Nova Economia. Mesmo recuperando o bonde local - iniciativa válida, dentro de um projeto de revitalização de área urbana - está sujeita a perder, mais uma vez, o bonde da História.
Torres de comunicações, como em algumas cidades canadenses, mostram a tendência, que já existe há anos de forma incipiente
Terminado o período de campanha eleitoral, um rápido balanço das propostas apresentadas permite constatar que praticamente todos os candidatos, tanto a postos no Executivo como no Legislativo, continuam mergulhados na chamada Velha Economia, praticamente ignorando em suas campanhas a nova realidade mundial. 

Define-se a Nova Economia como aquela em que os produtos são constituídos de bits de computador, são informações coletadas, formatadas e distribuídas por meio eletrônico. Em contraposição, a Velha Economia é a tradicional, em que os produtos negociados são palpáveis, constituídos de átomos. 

Ou seja, enquanto nossos políticos pensam em produzir carros, os países mais avançados tratam de produzir programas de computador e de negócios eletrônicos. Na contramão da História, enquanto o mundo registra grande carência por produtos e serviços da Nova Economia, que está em plena expansão, a classe política na região mostra que continua pensando em termos da economia tradicional, a mesma que seguidamente registra demissões em massa, competição predatória e reduções no mercado.

A grande vantagem da Nova Economia é que a infra-estrutura básica a ser oferecida é menos onerosa, não poluente, permitindo inclusive que nem sejam edificadas instalações especiais. Um simples computador é uma empresa completa, em certos casos. Isso é o que a distante Índia descobriu, mais de uma década atrás, e ali já existem bolsões de grande riqueza, a despeito da grande pobreza registrada naquele país. Muitos indianos trabalham recebendo textos pela Internet, fazendo a tradução e devolvendo aos contratantes, sendo remunerados por via bancária por empresas dos mais diversos lugares do mundo. Empresas aéreas como a British Airways têm sua central de reservas na Índia. E há uma gama enorme de serviços em computador  que podem ser feitos por uma pessoa localizada em qualquer lugar do mundo. Na Baixada Santista, por exemplo.

Agência - O que falta? Vários candidatos falaram nas campanhas de projetos como o incentivo a alguma montadora de veículos para se instalar junto ao porto santista. Com todos os problemas decorrentes de poluição, custos de infra-estrutura etc. - Torres de comunicações, como em algumas cidades canadenses, mostram a tendência, que já existe há anos de forma incipientesendo que o mercado nacional já está saturado de veículos, com capacidade ociosa, o que significaria problemas futuros para a manutenção dos empregos gerados na região. Em contrapartida, raros falaram em se incentivar a criação de uma Agência de Desenvolvimento na Baixada Santista, formada como uma incubadora de negócios eletrônicos. Não por falta da idéia, este jornalista já publicou artigos, há quatro anos, com essa sugestão.

Essa agência  de desenvolvimento funciona investindo capital na promoção de negócios baseados nas novas tecnologias, orientando sobre como formatar tais negócios para a obtenção de resultados efetivos, promovendo e divulgando os produtos assim gerados, dando assistência contábil e jurídica aos empreendedores, ajudando-os a participar de exposições e feiras de negócios etc.. Uma parte do resultado financeiro obtido retorna à agência, para emprego em outros projetos.
Com isso, serão gerados empregos de qualidade, movimentando a economia local. 

Atingido um determinado patamar, o próprio processo se realimenta automaticamente, gerando o desenvolvimento regional. Por exemplo, uma gráfica que recebe os originais dos livros pela Internet (como a primeira do Brasil, existente em Aparecida do Norte/SP) e os imprime, precisa transportar o material impresso até o destinatário, em qualquer lugar do mundo onde ele esteja. Precisa de papel, tinta e outros insumos. Como outras empresas, tem que atualizar periodicamente computadores e outros equipamentos, usar novas tecnologias, o que implica em ser cliente de revendedores desses produtos. Que por sua vez precisarão de novas instalações, equipamentos e funcionários para atender à demanda. Há também todo um parque de equipamentos e sistemas necessitando manutenção, peças de reposição etc.

Num recente levantamento sobre as cidades brasileiras mais promissoras como pólos de tecnologia, Santos sequer foi citada. Enquanto isso, em certas cidades do interior catarinense já existem mais empresas de alta tecnologia que padarias... Cabe aos políticos, portanto, uma reflexão sobre o motivo de a Baixada Santista não estar inserida na “economia do futuro”, como também é chamada, já que os fatores naturais e humanos conspiram a favor. Não é hora de mudar o discurso?


(*) Carlos Pimentel Mendes é editor do jornal eletrônico Novo Milênio.