Política
Vícios da "Velha Economia"
(ou da "Velha Política"...)
Candidatos perderam uma ótima
oportunidade para propor a inserção da Baixada Santista na
nova ordem econômica mundial
Carlos Pimentel Mendes (*)
Mesmo divergindo
em pontos menores, os políticos que participaram desta campanha
eleitoral concordaram em pelo menos um ponto: todos perderam a oportunidade
de colocar, como tema principal de campanha, a inserção da
Baixada Santista na nova ordem econômica mundial. A região
continua com a mesma cabeça dos barões do café, suspirando
por indústrias de grande porte que os países mais desenvolvidos
já recusam em seus territórios, e perde a oportunidade de
se lançar no mercado internacional como um pólo tecnológico
da chamada Nova Economia. Mesmo recuperando o bonde local - iniciativa
válida, dentro de um projeto de revitalização de área
urbana - está sujeita a perder, mais uma vez, o bonde da História.
Terminado o período de campanha
eleitoral, um rápido balanço das propostas apresentadas permite
constatar que praticamente todos os candidatos, tanto a postos no Executivo
como no Legislativo, continuam mergulhados na chamada Velha Economia, praticamente
ignorando em suas campanhas a nova realidade mundial.
Define-se a Nova Economia como aquela
em que os produtos são constituídos de bits de computador,
são informações coletadas, formatadas e distribuídas
por meio eletrônico. Em contraposição, a Velha Economia
é a tradicional, em que os produtos negociados são palpáveis,
constituídos de átomos.
Ou seja, enquanto nossos políticos
pensam em produzir carros, os países mais avançados tratam
de produzir programas de computador e de negócios eletrônicos.
Na contramão da História, enquanto o mundo registra grande
carência por produtos e serviços da Nova Economia, que está
em plena expansão, a classe política na região mostra
que continua pensando em termos da economia tradicional, a mesma que seguidamente
registra demissões em massa, competição predatória
e reduções no mercado.
A grande vantagem da Nova Economia
é que a infra-estrutura básica a ser oferecida é menos
onerosa, não poluente, permitindo inclusive que nem sejam edificadas
instalações especiais. Um simples computador é uma
empresa completa, em certos casos. Isso é o que a distante Índia
descobriu, mais de uma década atrás, e ali já existem
bolsões de grande riqueza, a despeito da grande pobreza registrada
naquele país. Muitos indianos trabalham recebendo textos pela Internet,
fazendo a tradução e devolvendo aos contratantes, sendo remunerados
por via bancária por empresas dos mais diversos lugares do mundo.
Empresas aéreas como a British Airways têm sua central de
reservas na Índia. E há uma gama enorme de serviços
em computador que podem ser feitos por uma pessoa localizada em qualquer
lugar do mundo. Na Baixada Santista, por exemplo.
Agência - O que falta?
Vários candidatos falaram nas campanhas de projetos como o incentivo
a alguma montadora de veículos para se instalar junto ao porto santista.
Com todos os problemas decorrentes de poluição, custos de
infra-estrutura etc. - sendo
que o mercado nacional já está saturado de veículos,
com capacidade ociosa, o que significaria problemas futuros para a manutenção
dos empregos gerados na região. Em contrapartida, raros falaram
em se incentivar a criação de uma Agência de Desenvolvimento
na Baixada Santista, formada como uma incubadora de negócios eletrônicos.
Não por falta da idéia, este jornalista já publicou
artigos, há quatro anos, com essa sugestão.
Essa agência de desenvolvimento
funciona investindo capital na promoção de negócios
baseados nas novas tecnologias, orientando sobre como formatar tais negócios
para a obtenção de resultados efetivos, promovendo e divulgando
os produtos assim gerados, dando assistência contábil e jurídica
aos empreendedores, ajudando-os a participar de exposições
e feiras de negócios etc.. Uma parte do resultado financeiro obtido
retorna à agência, para emprego em outros projetos.
Com isso, serão gerados empregos
de qualidade, movimentando a economia local.
Atingido um determinado patamar,
o próprio processo se realimenta automaticamente, gerando o desenvolvimento
regional. Por exemplo, uma gráfica que recebe os originais dos livros
pela Internet (como a primeira do Brasil, existente em Aparecida do Norte/SP)
e os imprime, precisa transportar o material impresso até o destinatário,
em qualquer lugar do mundo onde ele esteja. Precisa de papel, tinta e outros
insumos. Como outras empresas, tem que atualizar periodicamente computadores
e outros equipamentos, usar novas tecnologias, o que implica em ser cliente
de revendedores desses produtos. Que por sua vez precisarão de novas
instalações, equipamentos e funcionários para atender
à demanda. Há também todo um parque de equipamentos
e sistemas necessitando manutenção, peças de reposição
etc.
Num recente levantamento sobre as
cidades brasileiras mais promissoras como pólos de tecnologia, Santos
sequer foi citada. Enquanto isso, em certas cidades do interior catarinense
já existem mais empresas de alta tecnologia que padarias... Cabe
aos políticos, portanto, uma reflexão sobre o motivo de a
Baixada Santista não estar inserida na “economia do futuro”, como
também é chamada, já que os fatores naturais e humanos
conspiram a favor. Não é hora de mudar o discurso?
(*) Carlos
Pimentel Mendes é editor do jornal eletrônico Novo
Milênio. |