Editorial
Respeito à dignidade
Luiz Carlos Ferraz, editor
Ao destacarmos
nesta edição o maior shopping center do mundo, numa cidadezinha
pouco conhecida no Canadá, estamos certos de que está longe
de se esgotar a polêmica sobre a necessidade da construção
desses templos de consumo, na perspectiva de se considerar não os
meios, pois afinal trata-se de evidente fonte de empregos, mas principalmente
os fins, na medida em que estabelecem privilégios de mercado e acentuam
aspectos da exclusão social.
Febre nas cidades prósperas
ou miseráveis, esses megacentros de comércio e serviço,
que visam objetivamente o lucro, disponibilizam aos cidadãos, especialmente
o abonado, momento de descontração, lazer, negócios
e, por que não, tranqüilidade. Afinal, será raro alguém
percorrer os corredores ou adentrar uma sala de cinema de um shopping disparando
sua arma automática...
Aqui, o que se questiona é
a busca do equilíbrio. Como equacionar o interesse do empreendedor
do shopping, por exemplo, em face do construtor de moradias populares.
O primeiro, com certeza, é visto com reservas na comunidade, enquanto
o outro poderá ser alvo de homenagens e quetais. A exacerbação
encontra modelo em Santos na recente inauguração do Praiamar,
no Bairro de Aparecida, um dos mais modernos shoppings centers do País.
Não há como negar a
importância do empreendimento no quesito geração de
empregos. Um detalhe, contudo, é que na área que era de propriedade
do INSS e foi objeto de permuta com o empreendedor - permuta, aliás,
questionada na Justiça através de uma Ação
Popular -, seria construído um centro comunitário, para utilização
não só da população dos conjuntos residenciais
existentes no entorno, mas de toda a Cidade.
Em vez de beneficiar a comunidade,
em termos de lazer e convivência, optou-se por construir um shopping.
Entender a exata dimensão do respeito à dignidade humana,
eis aí uma grande responsabilidade do Poder Público. |