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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 10/22/00 10:31:14
Edição 089 - SET/2000 

Editorial

Respeito à dignidade

Luiz Carlos Ferraz, editor

Ao destacarmos nesta edição o maior shopping center do mundo, numa cidadezinha pouco conhecida no Canadá, estamos certos de que está longe de se esgotar a polêmica sobre a necessidade da construção desses templos de consumo, na perspectiva de se considerar não os meios, pois afinal trata-se de evidente fonte de empregos, mas principalmente os fins, na medida em que estabelecem privilégios de mercado e acentuam aspectos da exclusão social. 

Febre nas cidades prósperas ou miseráveis, esses megacentros de comércio e serviço, que visam objetivamente o lucro, disponibilizam aos cidadãos, especialmente o abonado, momento de descontração, lazer, negócios e, por que não, tranqüilidade. Afinal, será raro alguém percorrer os corredores ou adentrar uma sala de cinema de um shopping disparando sua arma automática... 

Aqui, o que se questiona é a busca do equilíbrio. Como equacionar o interesse do empreendedor do shopping, por exemplo, em face do construtor de moradias populares. O primeiro, com certeza, é visto com reservas na comunidade, enquanto o outro poderá ser alvo de homenagens e quetais. A exacerbação encontra modelo em Santos na recente inauguração do Praiamar, no Bairro de Aparecida, um dos mais modernos shoppings centers do País. 

Não há como negar a importância do empreendimento no quesito geração de empregos. Um detalhe, contudo, é que na área que era de propriedade do INSS e foi objeto de permuta com o empreendedor - permuta, aliás, questionada na Justiça através de uma Ação Popular -, seria construído um centro comunitário, para utilização não só da população dos conjuntos residenciais existentes no entorno, mas de toda a Cidade. 

Em vez de beneficiar a comunidade, em termos de lazer e convivência, optou-se por construir um shopping. Entender a exata dimensão do respeito à dignidade humana, eis aí uma grande responsabilidade do Poder Público.