Diário de Bordo (Recife-Manaus
no navio Bianca) [5] Do Capibaribe ao Amazonas
Um falso pedido de socorro
Carlos Pimentel Mendes (*)
Outro
procedimento que perdeu importância com o advento do satélite
de navegação é o uso do sextante, que entretanto é
bastante incentivado no meio marítimo. O primeiro oficial de náutica
Francisco Carlos Lopes lembra que esse instrumento é entretanto
usado por questões de treino de segurança, pois torna-se
valioso no caso de pane em outros sistemas de orientação.
Histórias dos pescadores
- Ainda em relação aos aspectos de segurança da navegação,
ele se mostra preocupado com a posição inclinada das janelas
frontais de certas embarcações pesqueiras, que refletem o
sol de forma que pode dar a impressão do envio, com espelhos, do
pedido de socorro SOS (...---...). Isso precisaria ser mais fiscalizado
pelas capitanias, o que não ocorre por falta de condições
e até por dsconhecimento desse detalhe por pessoas da Marinha.
E um outro problema para a navegação
é o atrevimento de certos pilotos de barcos de pesca, que insistem
em atravessar de forma perigosa pela proa dos navios, em rota de colisão,
obrigando grandes navios a navegarem em ziguezague. Também é
comum o navio arrastar durante sua passagem redes de epsca, cabos e bandeirolas
indicativas das gaiolas de pesca espalhadas em alto-mar pelos pescadores
de lagostas. Tais artefatos normalmente só são percebidos
quando não dá mais tempo de desviar e, nesse caso, azar dos
pescadores...
Falando em pescadores, os marinheiros
comentam que, além da lagosta e do camarão - fonte de recursos
para os naturais da região - é comum a presença de
peixes-voadores, logo seguidos pelos golfinhos. De fato, vários
deles puderam ser avistados durante a travessia.
Antigamente, as amuradas do convés
eram vazadas, formadas por canos de ferro, e à noite, com as luzes
acesas, os peixes-voadores apareciam em quantidade no convés, atraídos
pela luz. Era um prato muito saboroso, que acabou quando as amuradas passaram
a ser feitas com chapas inteiriças...
Não há possibilidade
de pescar com o navio em movimento, e como é difícil ocorrer
uma pane que obrigue à parada dos motores, os frustrados marinheiros-pescadores
têm de se contentar apenas com a visão dos peixes e golfinhos
pulando na água ao redor do navio. Para compensar, além das
aves pescadoras e dos periódicos tubarões ("se alguém
cair na água e houver tubarões perto, melhor ficar quieto
para não atrair a atenção deles..."), pode também
ser avistada alguma baleia esguichando seu famoso jato, com o filhote ao
lado.
À noite, com um pouco de sorte,
pode-se observar o fenômeno da ardentia, uma fosforecência
do mar: são microorganismos à base de fósforo, brilhando
na água, em noites sem luar... |