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HISTÓRIAS E LENDAS DE PRAIA GRANDE - Clube aéreo
Aero-Clube de Santos era aqui (3)

Um descampado marca, no início do século XXI, o local onde funcionou o Aeroclube de Santos e um aeroporto, e que deu nome ao bairro Aviação

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Um dos tradicionais bairros de Praia Grande tem o nome de Aviação, em razão de ali ter funcionado o campo de pouso da empresa francesa Latecoère (que daria origem à Air France), em área que seria depois usada como escola de pilotagem e clube aéreo. A curiosa história de um dos aviões que ali operou - o Cassio Muniz 5-2 (Casmuniz 5-2) - é relatada pelo internauta Mario de Aguiar Leitão, em depoimento enviado a Novo Milênio em 3/11/2012:

O Casmuniz 5-2

Quando fotografei este avião, tinha tão somente a informação de que se tratava de um Cassio Muniz e que seu proprietário na época era de São Francisco do Sul/SC e nada mais. De fato, aumentando-se a imagem pelo zoom, é possível ler em sua fuselagem a inscrição "São Francisco do Sul". Esta foto faz parte de um dos álbuns que doei ao Museu da TAM , onde eu procurei descrever cada avião fotografado. Consequentemente, desta foto ficou somente o título. Assim, antes da doação eu procurei informações a respeito dos aviões dos quais eu não tinha maiores detalhes. Isto ocorreu por volta do ano 2004. Via Internet, consegui várias informações de outros exemplares, porém deste modelo não obtive sucesso.

Um dia, comprei um livro intitulado Uma vida de cabeça para baixo, que descreve a vida de Alberto Bertelli, considerado o maior piloto brasileiro de acrobacias aéreas. Para minha surpresa, às paginas 137 a 143, está escrito que ele foi proprietário deste avião, o que transportava com ele e como se acidentou. E mais ainda. Porque se acidentou. Por ser um bimotor, ele deveria ter condições de continuar voando em caso de pane em um de seus motores. O que não aconteceu, e por isso teve de fazer um pouso forçado.

Com base nas demais informações do livro, consegui finalmente o histórico completo sobre este exemplar único o qual estou anexando: Casmuniz 5-2 conforme descrito no livro Historia da Construção Aeronáutica no Brasil de Roberto Pereira de Almeida e Antonio Ermete Piochi, capítulo 14.

Este histórico me foi indicado graças às informações do comandante Luiz Ishida, um dos pioneiros do voo à vela no Brasil, que conheceu bem este bimotor, visto que Alberto Berteli utilizava a pista de pouso do Aeroclube Politécnico de Planadores, que ficava junto à raia olímpica de remo na Cidade Universitária em São Paulo. Era lá que descarregava sua carga de peixes frescos trazidos do litoral.

Outrossim, tenho o depoimento do comandante. William Rady, diretor do Museu da TAM, que se recorda de ter visto este avião exposto, juntamente com um Cessna 140, na loja da Cassio Muniz no centro de São Paulo, na década de 1950. Mais tarde, teve a oportunidade de visitar e conhecer pessoalmente Willy Weber, o criador deste avião, que havia se transferido para Sorocaba/SP, após ter se desligado da Cassio Muniz.

Só não consegui descobrir se minha foto foi feita antes ou depois dele pertencer a Berteli.

Mario Leitão, outubro de 2012


"PP-ZPD - Casmuniz 5-2, nacional. Visitante, procedente de São Francisco do Sul/SC (Foi o único exemplar fabricado)"
Foto (e legenda) enviada a Novo Milênio por Mario de Aguiar Leitão

História da Construção Aeronáutica no Brasil

Roberto Pereira de Andrade - Antônio Ermete Piochi
 

Capitulo 14

Novos monomotores e bimotores


Foi em fins de 1951 que o engenheiro Willibald Weber – Willi Weber, para os amigos – começou a desenhar seu bimotor. Willi nasceu na Áustria (na cidade de Wiener Neustadt) em 1925, e tirou o brevê de piloto de planador em 1940. Naquele mesmo ano empregou-se na fábrica de aviões que a indústria alemã Messerschmitt tinha construído em sua cidade natal.

Trabalhou ali até 1944. Em 1949 veio para o Brasil, empregando-se na firma Cassio Muniz, de São Paulo, que desde 1948 representava e fazia a manutenção dos aviões Cessna no Brasil.

E foi na Cassio Muniz que Willi Weber decidiu construir um avião bimotor executivo. Para desenhá-lo, ele se baseou na estrutura simples e funcional dos pequenos bimotores checos Aero-45. A Cassio Muniz havia vendido alguns aparelhos daquele tipo no Brasil e, de tempos em tempos, chegava um deles para manutenção.

Trabalhando nas horas de folga, Weber desenhou seu bimotor, todo metálico. Foi igualmente Weber quem batizou o aparelho: Casmuniz, pela abreviatura da empresa e "5" pela capacidade – cinco pessoas – enquanto o "2" indicava o número de motores.

Da teoria à prática - Inicialmente, ele pensou utilizar motores de 148 HP, mas sua escolha final recaiu sobre os Continental E-185-11, de seis cilindros, que pesavam 225 Kg e desenvolviam 195 HP.

Em 1952 a diretoria da empresa aprovou a construção do aparelho na sua oficina onde era feita a manutenção dos aviões Cessna.

O Casmuniz 5-2 foi equipado com trem de aterrissagem checoslovaco e hélices metálicas norte-americanas.

Em fins de 1952 ele já estava quase pronto, tendo absorvido o trabalho de cerca de 15 pessoas, entre chapeadores, soldadores, mecânicos, eletricistas, torneiros e arrebitadores da equipe da Cassio Muniz. Também nessa época, o projeto foi submetido ao Centro Tecnológico da Aeronáutica (CTA), que enviou o engenheiro Otávio Ricardo para orientar os testes de resistência estrutural que comprovaram a qualidade da aeronave.

O vôo inaugural foi na Base Aérea de Cumbica, em São Paulo, sob o comando do piloto Caetano Bilotti, da Cassio Muniz.

Bilotti tinha então 30 anos de idade e mais de 5.000 horas de voo. Mas apenas 200 horas em bimotores. Entretanto, o voo inaugural foi um sucesso completo. As únicas deficiências observadas foram a resposta lenta dos profundores e a pouca eficiência dos freios.

 

Registrado com o prefixo PP-ZPD, o único protótipo do Casmuniz 5-2 foi levado ao Campo de Marte para completar seus testes de voo. Essas provas ocuparam a segunda metade de 1953 e o primeiro semestre de 1954, quando Caetano Bilotti acumulou mais de 100 horas de voo no aparelho.

Em fins de 1954, finalmente, depois de ter acumulado mais de 200 horas de voo, o bimotor Casmuniz 5-2 foi enviado ao Centro Técnico de Aeronáutica. Em 1955 recebeu homologação de exemplar.

De posse desse documento a diretoria da Cassio Muniz procurou a diretoria da Cessna, propondo a instalação no Brasil de uma linha de montagem capaz de fabricar em série os monomotores Cessna e os bimotores Casmuniz 5-2. A proposta foi recusada. Naquela época, os norte-americanos já estavam negociando a montagem de seus aviões na Argentina e não julgaram conveniente acionar duas linhas de produção simultâneas na América Latina.

Peixes e jornais - O Casmuniz 5-2 foi então vendido ao engenheiro Willi Weber, que saíra da Cassio Muniz e fundara sua própria oficina de manutenção de aeronaves, a Omareal, em Botucatu, no estado de São Paulo (a mesma Omareal à qual José Carlos Neiva se associou mais tarde, quando mudou para o estado de São Paulo).

Em 1957 e 1958, Weber voou intensivamente o bimotor que projetara e construíra, chegando até a melhorá-lo, alterando a aerodinâmica do leme e modificando os freios.

Com o encerramento das atividades da Omareal, o Casmuniz 5-2 foi vendido como aeronave executiva a uma organização bancária e, depois, ao piloto Alberto Bertelli, que passou a utilizá-lo no transporte de peixe fresco entre as cidades de Santos e São Paulo.

Bertelli voou dois anos com o avião Casmuniz 5-2 e depois o vendeu a uma empresa de táxi aéreo. O aparelho acidentou-se, foi reparado e voltou a operar, transportando passageiros, principalmente no Norte e Nordeste do País. Na década de 1960, o Casmuniz 5-2 acumulou milhares de horas de voo e pertenceu a meia dúzia de diferentes empresas. Levou passageiros, jornais, carga várias, garimpeiros e mala aérea. Caiu, finalmente, em 1968, na Baía de São Marcos, no estado do Maranhão, quando sofreu uma pane de motor, pouco depois da decolagem.

CASMUNIZ 5-2 -
Bimotor para o transporte de passageiros (1 piloto + 4 pessoas) e/ou carga. Construção inteiramente metálica, asas baixas, trem de pouso convencional: duas rodas principais com pneus e freios Goodyear, recolhendo eletricamente sob a carenagem dos motores. Bequilha traseira fixa.
Motores: 2 Continental E-185-11, de seis cilindros e 185 HP de potência;
Hélices: bi-pás metálicas Hartzell 12x20-7C.
Comprimento: 8 m;

Envergadura: 13,30 m;

Altura: 3,5 m;
Peso vazio: 1280 kg;
Alcance: 1200 km;
Teto operacional: 6.100 m;
Peso máximo de decolagem: 1.750 kg;
Velocidade de cruzeiro: 175 Km/h (sic).

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