Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/pg/pgh012a.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 05/14/05 11:58:07
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE PRAIA GRANDE - C.CRIANÇA
Cidade da Criança envelheceu (1)

45 anos após a fundação, um cenário de decadência

Leva para a página anterior

Texto publicado no jornal santista A Tribuna em 8 de maio de 2005:

EDUCAÇÃO
Cidade da Criança está à beira da ruína

Da Sucursal

Localizada no Jardim Solemar, em Praia Grande, a Cidade da Criança chegou a ser considerada pela Unesco referência internacional no atendimento a adolescentes na década de 70. Hoje, o cenário é de uma cidade fantasma, à beira da ruína. A infra-estrutura que ajudou na formação pessoal e profissional de milhares de menores carentes está abandonada e só não caiu até agora porque alguns poucos voluntários não deixaram.

As máquinas onde os jovens aprendiam uma profissão estão amontoadas, arrestadas pela Justiça devido às dívidas trabalhistas da entidade, que somam R$ 50 mil. Nos sete galpões onde eram ministrados cursos profissionalizantes restaram entulho e lembranças impressas nas paredes por antigos alunos. Os cinco pavilhões que abrigavam crianças carentes de toda a região, em regime de internato, estão em ruínas.

Por mês, a entidade acumula um déficit de R$ 400,00, o que vem reduzindo cada vez mais a capacidade de investimento da Associação Assistencial da Cidade da Criança (AACC), entidade que administra o complexo formado por um terreno de um milhão de metros quadrados, sendo 220 mil metros de área plana e 10 mil metros quadrados de edificações.

 

Nos anos 70, complexo foi considerado modelo pela Unesco

 

Decadência - Apesar do déficit, a entidade continua respirando por aparelhos, à custa de bingos e chás beneficentes promovidos pela Igreja Luterana de Santos.

"Infelizmente, temos mais apoio da comunidade de Santos do que do pessoal de Praia Grande", lamenta o tesoureiro da associação, Sérgio Guilherme Martins. O pior é que a decadência da entidade coincide com o crescente envolvimento dos jovens com a criminalidade e o anunciado desejo do Governo do Estado de investir na construção de oito unidades da Febem na região.

No entorno do antigo complexo educacional, centenas de adolescentes ficam na rua a maior parte do tempo por falta do que fazer.

Fundada em 1960, a Cidade da Criança chegou a fornecer 1.500 pães diariamente à Santa Casa de Santos. Hoje, o forno está impróprio para o uso por conta dos anos de abandono. Parte dos equipamentos que permitiam aos jovens desvendar os segredos da mecânica foram roubados e as máquinas que formaram gerações de tipógrafos estão empenhadas para pagar a dívida trabalhista.

Até as aulas de informática que vinham sendo ministradas com o aval do Senai tiveram de ser suspensas devido ao furto dos processadores.


Oficinas profissionalizantes estão abandonadas 
e máquinas que formaram gerações de jovens arrestadas
Foto: Édison Baraçal, publicada com a matéria

Entidade não recebe apoio do governo

Ironicamente, as duas turbinas e os dois geradores que levaram a luz ao até então distante Jardim Solemar continuam funcionando. O problema é que a energia produzida a partir da água que desce a Serra do Mar fazendo girar as turbinas não pode mais ser distribuída porque os cabos de transmissão foram furtados.

"Só no mês passado, os ladrões invadiram duas vezes nossas instalações para furtar os fios de cobre. Só não estamos no escuro porque um técnico improvisou outros fios", salienta o tesoureiro da entidade, que estima um prejuízo de R$ 2 mil só com a fiação que terá de ser reposta.

Até a fábrica que produzia botas especiais e calçava os operários do Pólo Industrial de Cubatão perdeu o passo. Nos bons tempos, a unidade de produção de calçados conduzida por monitores adultos e pelos menores chegou a responder por 40% de toda a arrecadação do complexo educacional. O telhado do antigo ginásio de esportes ruiu e nunca foi reposto, dando espaço para que as árvores cresçam no piso da velha quadra e o limo se espalhe pelas paredes.

Sem auxílio financeiro do Governo do Estado ou do Governo Federal, a Cidade da Criança recebe uma ajuda de custo da Prefeitura para pagamento da conta de luz. Até a memória dos beneméritos que ergueram o maior complexo educacional da Baixada Santista foi obscurecida pelo descaso. Por serem de metal, as letras que formavam os nomes dos responsáveis pela construção da Cidade da Criança foram roubadas.

Mourão anuncia investimento de R$ 4 mi

O prefeito Alberto Mourão anunciou no meio da semana passada um projeto que prevê investimentos de R$ 4 milhões ao longo dos próximos 12 meses na Cidade da Criança. A idéia é transformar o complexo em uma escola de período integral, com laboratórios, teatro, prática esportiva e ensino para o trabalho. Segundo Mourão, a licitação deve ser lançada nos próximos dias e deve duplicar a Escola Municipal Cidade da Criança, que passará das atuais oito classes para 16 salas.

"Vamos melhorar o aspecto da Cidade da Criança, reformar os antigos salões e o anfiteatro, de forma que, enquanto uma turma estiver na sala de aula, a outra estará aprendendo uma profissão ou praticando uma atividade esportiva ou cultural", resume o prefeito.

A nova proposta substitui um antigo projeto para a recuperação do complexo educacional. Apresentada formalmente em 2001, a proposta não saiu do papel porque o empreendimento de R$ 80 milhões não despertou a atenção dos investidores. Caso a proposta viesse a sera implementada, a Cidade da Criança seria transformada numa vila olímpica, com auditório e fazenda experimental.

"Toda nossa infra-estrutura está subutilizada", disse a pedagoga e coordenadora de cursos da Cidade da Criança, Angélica Rose. Apesar da precariedade das instalações, a Associação ainda consegue manter cursos variados no local, oferecendo oficinas de artesanato, balé, teatro, futebol, vôlei feminino e capoeira. No total, 450 crianças são atendidas.

Leva para a página seguinte da série