O debate sobre a promoção da Língua Portuguesa nos faz olhar com mais cuidado esse bem
imaterial que nos acompanha desde o nascimento com suas cantigas e histórias, identifica-nos como cidadãos brasileiros e
aproxima-nos ao longo da vida. Sabemos que a língua é meio de comunicação, é meio de
expressão e é instrumento para decifrar, conhecer e transformar o mundo. Pode-se dizer que não é a
língua que vive em nós: somos nós que vivemos na língua. Aprender a língua da comunidade em que cada um de nós nasce é, além de
aprender alguns sons, aprender tudo o que nossa comunidade conhece do mundo. Comunidade, neste sentido, pode ser nossa família,
nossa classe, nosso bairro, a cidade, o país.
Por isto é que, cada vez que morre o último falante de uma língua, todos nós perdemos: todos
perdemos um único, determinado e irreproduzível modo de conhecer o mundo. As línguas nacionais, portanto, são bens ao mesmo
tempo naturais e culturais de um determinado grupo humano. Num certo sentido, trabalhar para preservar nosso idioma é tão
importante quanto trabalhar para preservar nossos mananciais e riquezas naturais. Nos dois casos, trata-se de cuidar para não
perder bens que são historicamente nossos, dos brasileiros.
Assim, a compreensão da língua pelos seus falantes tem de ser democratizada e facilitada, pois
ela é essencial para que o conhecimento e o auto-conhecimento de um povo, a formação da sua identidade, se dêem ao longo do
tempo. Para isso acontecer, não é necessário que o país se feche às outras línguas. Basta que o maior número de pessoas
participe dos processos de fala e possam compreender o que é dito.
Quando chamamos a atenção para o quanto desnecessário é o uso abusivo de estrangeirismos,
queremos mostrar que essa prática pode contribuir para aumentar as distâncias sociais, além de sepultar prematuramente palavras
importantes do nosso idioma.
Enquanto a globalização desrespeita facilmente e passa por cima das identidades nacionais de forma até mesmo predatória, a
universalidade reconhece e partilha as diferenças entre as nações.
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Globalização x universalidade - Vivemos um tempo em que a perplexidade e conseqüente
inércia diante da globalização é tida como fatal por alguns. Pensamos ser necessário questionar a fatalidade do que nos pode ser
tão nocivo, para não perdermos o sentido da universalidade. Enquanto a globalização desrespeita facilmente e passa por cima das
identidades nacionais de forma até mesmo predatória, a universalidade reconhece e partilha as diferenças entre as nações.
A história nos mostra que desde a antigüidade os povos são capazes de trocar conhecimento e
isso é essencial para a convivência e o crescimento do ser humano. Os alimentos, a música, as artes, a beleza e riquezas
naturais podem ser compartilhadas e não depredadas.
Qualquer pessoa, não importa de onde venha, que goste, por exemplo, de acarajé, pode comer,
pode aprender a preparar, sem que, por isto, estejamos - o Brasil - perdendo qualquer coisa; pelo contrário: cada vez que alguém
escolhe nossa culinária, o Brasil fica mais rico, sem que esse alguém se torne mais pobre. Digamos, em outras palavras, que o
acarajé sabe se defender.
No caso da língua, é tudo muito diferente: embora, ensinam os lingüistas, a língua tenha
mecanismos de acomodação para absolutamente qualquer mundo real ou possível, o resultado desta acomodação pode não ser
igualmente interessante para todos os falantes. A língua resultante pode ser mais facilmente compreensível para uns e menos
compreensível para outros. Só nestes casos é que cabe providenciar para que não haja diferenças escandalosas e por essa razão o
projeto de promoção e defesa do nosso idioma mostra-se necessário.
Partimos do princípio de que é essencial o fortalecimento da Língua Portuguesa e sugerimos uma
colaboração entre o governo, a escola, os meios de comunicação e todos os interessados em promover o idioma. Essa é para nós a
única fatalidade aceitável, a que respeita, valoriza, fortalece e preserva a nossa língua como elemento insubstituível de nossa
identidade nacional. |