FEBEANET
Laranjas na Amazônia
E
tu dormes, ó Piaga divino!
E
Anhangá te proíbe sonhar!
E
tu dormes, ó Piaga, e não sabes,
E
não podes augúrios cantar?! |
(De:
O Canto do Piaga, de Gonçalves Dias)
Sobre
imagem da TV Espanha com helicóptero dos EUA aplicando o herbicida
na Colômbia |
O mesmo
país - Estados Unidos - que brada ao mundo pela necessidade de se
conservar intacto o ecossistema da Amazônia (ao mesmo tempo que se
recusa a assinar o Protocolo de Quioto sobre a não-emissão
de gases poluentes, com a desculpa de que isso prejudicaria sua indústria)
está praticando uma grande agressão ambiental justamente
contra a biodiversidade da Floresta Amazônica, e não se observa
a mesma ênfase - tanto no Brasil como nos países vizinhos,
e por parte das organizações ambientalistas de todo o mundo
- no trato desse problema. Como sempre, dois pesos e duas medidas, o que
faz torna tal história merecedora da inscrição neste
Festival de Besteiras que Assola a Internet (Febeanet).
Um dos primeiros a chamar a atenção
para o caso nas listas de debates foi o recentemente falecido Aristóteles
Gomes, que residia em João Pessoa, na Paraíba. Seu alerta,
em 8/10/2001, como tema "fora do tópico" na lista de debates Idioma:
Alguns
rios da Amazônia estão sendo contaminados por agente laranja.
Muitos de nós estamos morrendo. Mas os nossos mortos são
menos importantes que os mortos dos outros.
Veja
abaixo: |
Herbicidas
envenenam a vida na Amazônia
Como era esperado
e sabido, o Plano Colômbia começou a vazar água para
o território brasileiro. E não é uma água saudável,
como a que sacia a nossa sede e que passarinhos podem até beber.
Mas um tipo
parecido com aquele "agente químico laranja", que as tropas
americanas usaram na Guerra do Vietnã, e que deixou seqüelas
terríveis em pelo menos 500 mil crianças vietnamitas.
Financiado
pelo governo norte-americano, a um custo de US$ 1,3 bilhão - a pretexto
de, ao mesmo tempo, combater a guerrilha colombiana e as plantações
de coca e papoula -, o que se verificou até agora, nestes primeiros
10 meses de operação, é que o solo do país
andino está sendo bombardeado diariamente por sete toneladas de
herbicidas, deixando um rastro de destruição ambiental. Que
atinge desde a população até rios, fauna e flora.
Um fato revelador
nesta megaoperação é que o principal fornecedor do
agente químico glifosato, para fumegação das plantações
que dão origem às drogas, é nada menos que a Monsanto,
também uma das financiadoras da campanha "vitoriosa" do presidente
Bush.
Que é
a mesma multinacional das lavouras de soja transgênica do Rio Grande
do Sul. (Que provocou toda aquela confusão, quando o francês
José Bové arrancou com as próprias mãos alguns
feixes. Agora se entende melhor o porquê da santa ira do criador
de ovelhas das bretanhas francesas. Na realidade ele é que estava
sabendo das coisas e os jornalões brasileiros, nos seus respectivos
jeitos de serem subservientes ao capital estrangeiro, o atacaram impiedosamente.)
A Monsanto
de santo só lembra o nome, porque no resto é apenas uma marca
de fantasia, interessada tão somente em faturar fortunas, fabricando
e vendendo agentes químicos ecologicamente incorretos e que comprometem
seriamente o meio-ambiente dos países subdesenvolvidos. Nos Estados
Unidos, onde tem sua matriz, é submetida a rigores bem maiores.
As toneladas
do herbicida glifosato que já foram jogadas no solo colombiano,
por conta de uma verdadeira guerra biológica, também conhecida
como Plano Colômbia, chegaram mais cedo ao território brasileiro,
especialmente na região amazônica, do que a vã filosofia
das autoridades brasileiras pensava a respeito. Os riscos são reais,
admite o cientista colombiano Richard Vargas, para quem os rios Japurá
e Içá, no Estado do Amazonas, estão ameaçados.
Um outro cientista,
o biólogo holandês Martin Jelsma, do Instituto Transnacional
- que se dedica à pesquisa do narcotráfico em todo o mundo
-, com sede em Amsterdã, afirma que o efeito imediato dos agentes
químicos nos rios é que espécies inteiras de peixes
desaparecerão. E alerta que a ingestão da água ou
alimentos naquelas condições tem provocado na população
local vômitos, diarréia, dores de cabeça e náuseas.
E, ainda segundo ele, sabe-se lá que outras moléstias virão
disto.
Informações
recentes do Sul da Colômbia, das áreas que estão sendo
bombardeadas
com glifosato, dão conta de que centenas de pessoas estão
enfermas, em razão de algum tipo de contato que tiveram com o agente
químico. Que motivou, por parte de seis governadores das províncias
contaminadas, um pedido ao presidente colombiano, Andrés Pastrana,
para que suspendesse de imediato os bombardeios intoxicantes. Ele não
só lhes negou atender as justas reivindicações, como
alegou que uma das exigências do governo americano, para aprovar
a ajuda no combate às plantações de coca e papoula,
era continuar com os lançamentos aéreos de herbicidas.
O governo Pastrana
levou US$ 1,3 bilhão do governo norte-americano para envenenar os
rios, as florestas, os povos ribeirinhos e nativos do seu país.
Os objetivos
iniciais que anunciaram ao mundo para justificar tão elevados investimentos
- a erradicação do plantio de coca e de papoula - , não
estão sendo alcançados. Mas o mal já foi feito e é
irreversível. Quanto deve ter custado o silêncio do presidente
Fernando Henrique Cardoso, que em momento algum levanta sua voz para defender
a Amazônia dos riscos de também ser envenenada?
São
por essas e outras coisas piores que o Brasil, no seu governo, tornou-se
colônia das potências estrangeiras. E em razão deste
seu desapreço pela própria soberania é que elas insistem
tanto neste alto negócio de internacionalização da
Região Amazônica.
(*)
Antonio Avellar é jornalista |
No dia 6/12/2001, a emissora de televisão
espanhola TV Espanha Internacional, em programa sobre Ecologia (do qual
foram colhidas as imagens desta página), entrevistou autoridades
colombianas que protestam contra o uso desses produtos químicos
pelos estadunidenses, lembrando que o mesmo efeito poderia ser obtido com
outros produtos que só destruiriam tais plantações,
sem acabar com uma das áreas de maior biodiversidade do planeta...
Fugireis
procurando um asilo,
Triste
asilo por ínvio sertão;
Anhangá
de prazer há de rir-se,
Vendo
os vossos quão poucos serão.
Vossos
Deuses, ó Piaga, conjura,
Susta
as iras do fero Anhangá.
Manitôs
já fugiram da Taba,
Ó
desgraça! ó ruína!! ó Tupá!
(De:
O Canto do Piaga, de Gonçalves Dias)
Sobre
imagem da TV Espanha com helicóptero dos EUA aplicando o herbicida
na Colômbia |
Caro Aristóteles, se aí
no andar de cima encontrar com o saudoso Stanislaw Ponte Preta, por gentileza
transmita-lhe a certeza de que, infelizmente, continua sendo necessário
neste mundo manter algo como sua genial criação Febeapá
(Festival de Besteiras que Assola o País) - agora adaptada aos novos
tempos da Internet, mas ainda com o mesmo objetivo. Ao Barão de
Itararé, diga que a batalha que não houve ainda assim continua.
Ao Chacrinha, velho guerreiro, mande "aquele abraço" e diga que,
como "quem não se comunica se trumbica", vamos comunicando, para
ver se alguém ouve o que dizemos e evita que o Brasil se trumbique
(ainda mais)...
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