Santos, 27 de outubro de 2001.
Querido amigo Tota,
Primeiro de tudo, gostaria de te dar os parabéns pela tua nova
data de aniversário: 25 de outubro de 2001, dia em que você nasceu na
Dimensão Celeste.
Faço isso com muito amor fraternal e a felicidade de saber que
você está ao lado d'Êle, mas confesso que essa alegria pela tua
entrada
triunfal na Nova Vida me traz lágrimas copiosas, já que a distância
que nos
separa, agora, resulta em saudades, né?
Sabe, Tota, dias atrás eu havia enviado aos colegas das listas
uma mensagem na qual estava expressa toda a minha admiração por você,
e eu
dissera que os todos os profetas haviam sido reconhecidos após as
suas
mortes, tendo sido, alguns deles, até mesmo assassinados.
Amigão, eu não quiz que você partisse, por causa daquela
afirmação, apensa justificava a NOSSA escolha, minha e dos colegas,
pela tua
"presidência", pelo teu magistério entre nós, entre os nordestinos,
entre os
brasileiros.
Veja, querido amigo, agora você não tem como escapar de ser
NUCLEAR, todos nós gravitando em torno de ti, das tuas idéias,
girando
fortemente atraídos pela sabedoria das tuas palavras, idéias,
chistes...
Somente um ser nuclear pode ter tanta força de atração como
tu tinhas, quando da tua passagem pelo nosso planetinha azul, e
incrementaste mais ainda, nessa, agora, tua nova Jornada
Celestial.
Perdoe-me se pareço tolo, seu cabra arretado, mas apesar do
desconsolo de não podermos ter, os colegas das listas e eu, as tuas
mensagens físicas, nem podermos mais ouvir a tua voz forte e pausada,
quase
indolente, nem termos mais como sentir esse forte sotaque paraibano a
nos
brindar com as luzes que emanavam do teu cérebro, quero que recebas
esta
carta, e a leias com carinho, pois esta mensagem, que o Grande
Carteiro
Celestial há de te entregar, contém não mais uma homenagem, mas um
agradecimento por tudo o que fizeste e trouxeste para nós outros.
Observe, Aristóteles, que mundo maravilhoso poderíamos ter,
se a vida pudesse ser vivida de acordo com o que o Criador nos
sugeriu.
Veja nós dois: nesta Terra fomos amigos, sem nunca nos
termos visto pessoalmente, apenas falado telefonicamente, e por
correio
eletrônico, mas tendo um com o outro uma forte ligação fraternal, com
total
identidade de pensamentos e ideais, apesar das inúmeras diferenças
que
tínhamos e vivenciamos.
Eu, um descendente de árabes, que teve todas as
oportunidades na vida. Você, de origem judaica, que viu todas as
oportunidades passarem ao largo dos teus dias.
Eu, um cristão ortodoxo que viveu o Islamismo na Arábia
Saudita. Você, um ser TOTAL, que nos mostrou, a mim e a todos os que
conviveram contigo neste lapso temporal terreno, a essência do
Judaísmo, o
sincretismo religioso que vige no Nordeste brasileiro, ao mesmo tempo
em que
vivia, sem alardear, as raízes do Cristianismo, do Budismo, do
Xintoísmo, em
uma maravilhosa e espetacular vida ecumênica, plena de Fé, como só
mesmo um
Iluminado como tu poderia viver.
Exercemos a unidade dentro da diversidade.
Quando uma vez eu disse, na lista do voto-e, "Aristóteles
para Presidente", alguém disse "Haddad para vice!", e tenho, por
isso,
sérias desconfianças que você quiz me "sacanear", subindo aos céus só
para
me deixar com esse "mico" na mão, né?
Mas não quero substituir você, amigão, nem tenho estofo
para isso!
Confira só, querido Tota: você agregou gente das mais
variadas origens, formações, idades, raças...
Tem o Professor Del Picchia (em São Paulo), o talentoso
guri Fontolan (no Paraná), a Rejane Lüthermaier (no Rio Grande do
Sul), a
Professora Maria Luiza (na Universidade Federal do Rio Grande do
Sul), o
nosso Kika Brunazo (aqui de Santos), Evandro (nas Alterosas),
Maneschy (ao
lado da estátua do Cristo Redentor, que você agora conhece
pessoalmente, por
estar à direita d'Ele...), Gil (também no Rio), o Paulo Gustavo (no
Piauí),
Paulo Mora (lá na França! ...), Paulo Henrique (em Sampa), o
portentoso
Carlos Pimentel (que te reconheceu um espaço obrigatório, no Novo
Milênio!),
a Rita Polli (em Brasília, mas longe do Anhangá!), Marcos Pacheco (em
Floripa...), o Washington Neves (na Bahia), os amigos de Umuarama, o
Leamartine (que, lá do Rio, tem por ti uma admiração inobliterável!),
Benjamim (da turma do Rio), tanta gente, Tota!
Tem, também, o Coronel Roberto Carvalho, lá de Curitiba,
que também expressou a sua admiração por ti, mas não soube, ainda,
dessa tua
Viagem inesperada e definitiva.
Só mesmo alguém muito especial como você, Aristóteles
Gomes, o Tota, para que essa união mágica, esotérica, quase
metafísica
pudesse ocorrer!
Você deve estar vendo que estamos todos te aplaudindo,
porque a tua vida foi um exemplo para todos nós, não só os teus
amigos, mas
todos os brasileiros que têm compromissos com a Nação, com a Pátria,
com a
DIGNIDADE do SER HUMANO.
Temos que ver Deus em cada um dos nossos semelhantes, né
Tota?
Você VIU Deus em cada um daqueles com quem conviveu, e
isso é que te fez o Tota, e não apenas mais um aristóteles na vida.
Eu fico emocionado com as os pequenos detalhes da nossa
curta convivência, Tota, e um dos fatos que mais me marcou a vida foi
quando
você me disse que seria melhor não colocar o teu nome no livro do
voto-e,
porque poderia haver alguma represália na universidade. Mas que se eu
entendesse que seria necessário, então que eu pusesse, que você
concordaria.
Por esse gesto de desprendimento, que os amigos da lista nunca
ficaram
sabendo, eu sugeri que te fosse dado um outro nome, lembra?
Aziz Tota Al Gharbi , um professor de uma universidade do
Nordeste brasileiro.
Porque você era Aziz (querido), Tota, e um guerreiro (Al
Gharbi), lembra?
Pois é, amigão!
Nunca vou me esquecer a risada que você deu, e a aprovação
imediata ao nome! ...
Um descendente de judeus com nome árabe!
Esse deveria ser um sonho digno de John Lennon, que nem
pensou nessa possibilidade, quando compôs "Imagine", né?
Quando você me falou daquele faca árabe que te havia sido
dada de presente, em São José dos Campos, e que havia sido perdida em
uma
mudança, eu te prometi que te daria outra, não é mesmo? Bem, eu não
viajei
para o Líbano, mas como havia me lembrado disso no começo da semana,
após a
mensagem em que eu expressei a minha admiração por ti, encomendei uma
novinha, aqui em Santos, em um excelente armeiro que mora perto do
meu
escritório. Ficará pronta em 45 dias, é toda dourada, com o cabo
cravejado
de pedras brasileiras (que é mais adequado para uma homenagem a um
brasileiro da gema...), mas ainda não sei como te enviar...
Eu queria, como te disse, te entregar a faca quando te
visitasse em João Pessoa, e já estava planejando fazer isso em
dezembro.
Mas agora...
Tota: estou feliz por ti, porque você trocou esta
Terra, e a tua querida Paraíba, todos eles locais áridos, cheios de
desigualdades, injustiças, desamor, e que te faziam sofrer angústias
e
agruras inomináveis, por um Lugar verdejante, confortável,
Luminoso, onde
não há dor, nem tristeza, nem lamentação, mas Vida Eterna.
Aqui, eu te senti "entregar os pontos" quando houve
aquela barbaridade no Congresso, em que os corruptos e corruptores
impediram
que as máquinas de opinar, como você chamava as urnas
eletrônicas,
sofressem as modificações que garantiriam dias melhores para o
Brasil, pela
via do voto seguro. Você perguntava "e agora? a quem recorrer?"
Nós continuaremos aqui, lutando pelos TEUS ideais, que
são, também, os nossos.
Afinal, "amigo é coisa prá se guardar do lado esquerdo do
peito..."
Vamos perseverar, e recorrer a tudo e a quem for possível.
Você, nosso Presidente, agora Celestialmente Nuclear
(deve ser, certamente, designado pelo Criador para comandar e
liderar uma
grande Legião, uma das maiores Falanges, de Anjos Protetores) poderá
impetrar ações em um Foro bem mais privilegiado que esses aqui
nossos, que
são bem chinfrins, comparados com os teus.
(Mais uma vez você, com méritos, está bem acima de todos
nós! ...)
Dê lembranças para os anjos Nagib (meu pai), Tannus e
Labibe (meus avós maternos), Salim e Hadla (avós paternos), que se
ainda não
te foram apresentados, mais um pouco sê-lo-ão.
Ouvi dizer que está havendo Aí uma grande Festa para
comemorar a tua chegada, com a presença de todos aqueles filósofos e
profetas que te antecederam, e que foram reconhecidos só após as suas
passagens pela Transição.
Não se preocupe nem aflija com as minhas lágrimas,
querido amigo Tota, que elas, apesar de abundantes, são só de
saudades.
Em nome da Fraternidade, do sentimento maior que deve
unir os seres humanos, quero me despedir, nesta carta, com um
versinho de
uma canção popular:
"Eu tenho tanto que te falar,
mas com palavras, não sei dizer
como é grande, o meu amor por você!"
Luz e Paz, Tota!
Tota! ...
Do teu amigo
Carlos Tebecherani Haddad.
P.S. Não ligue para os erros de concordância, regência, o escambau,
que tudo
o que eu escrevi saiu, como sempre, do fundo do meu coração.
Carlos.
O nosso Tota era amigo pessoal do meu pai. Ambos eram radioamadores (PR7AEH
e PT7CLD) e se conheciam pessoalmente em razão do radiomadorismo. Falavam-se todas as manhãs, numa rodada conhecida como "café
da manhã" entre os operadores de rádio (...).
Hoje, mais uma vez, o Carlos T. Haddad fala com o coração e é
absolutamente feliz, principalmente quando se refere ao Tota no presente, porque é assim que a lembrança dele, seus
ensinamentos, suas lições e sua vida devem ser lembrados.
Peço - agora publicamente - licença ao Carlos para subscrever sua
mensagem "in totum" (ou seria "in TOTAm?"), prestando, desta forma, meu sincero tributo ao homem que aprendi a respeitar e
gostar, ao longo do tempo, mesmo quando dele divergia diametralmente, o que era raro.
Acho que fomos todos privilegiados pela convivência com o Tota. E
devemos agradecer ao Senhor por isso.
Tota já deve estar aprontando horrores lá no céu. Deve estar
discutindo a autoridade de Pedro pois, afinal, foi colocado como guardião do céu sem eleição direta. Por outro lado, não deve
estar querendo aceitar o pedacinho privilegiado do céu que o Senhor reservou para ele, argumentando com Pedro: -"como posso
ficar aqui, no bem bom, se tantos irmãos estão no purgatório?"
O Tota é assim... especial em tudo!
Um abraço,
Paulo Henrique M. de Oliveira |