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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 10/17/01 15:39:16
FEBEANET
Curto-circuito no governo
Completa-se o golpe anunciado cinco meses antes...

Se consome eletricidade, o cidadão é multado, tem a eletricidade cortada por não ter cumprido a meta de racionamento de energia necessária para reduzir os danos causados pela imbecilidade do governo. Se não consome energia elétrica, prejudicando seu trabalho e seu lazer, como bom respeitador das leis, atendendo à necesidade de colaborar para que o Brasil não tenha sua crise energética agravada, o cidadão é punido por um (des)governo que tem o descaramento de propor (como noticiado no Jornal da Globo (Rede Globo de Televisão) na madrugada de 17/10/2001) o aumento das tarifas de energia elétrica em pelo menos 6%, em razão da queda na receita das concessionárias do sistema elétrico nacional.

Quando Novo Milênio fez em 5/2001 os primeiros comentários sobre os absurdos que estão ocorrendo no Brasil, no artigo Raios! Apagaram o governo!, já incluía no bestialógico federal o sexto ítem, premonitório: "... quanto mais o  consumidor economiza, mais caro paga..."
 
Sexta besteira - convencer o consumidor a economizar energia. Todo brasileiro sabe que as empresas distribuidoras de energia elétrica dependem do consumo de eletricidade para obter fluxo positivo de caixa. Se as pessoas economizam eletricidade, as distribuidoras de energia começam a chorar, pois a receita cai e aí não dá para suportar os custos, vão ter problemas de caixa, prejuízo. Rapidinho, o governo corre a acudi-las, lascando um aumento na tarifa de energia elétrica. Ou seja, quanto mais o consumidor economiza, mais caro paga.

Confirmando as previsões de cinco meses antes, agora em 10/2001 está na mesa do presidente da República o estudo que promove um aumento extra de 6% nas tarifas de energia elétrica, para cobrir o prejuízo causado às empresas pelo racionamento. Completa-se o curto-circuito e, como de costume, quem leva o choque é o cidadão, desrespeitado em seus direitos constitucionais como consumidor dos serviços elétricos, pobre boi a caminho do abatedouro...

Pois as concessionárias de eletricidade estão no melhor dos mundos: por estranha falha nos contratos de concessão, não são obrigadas a investir - embora recolham do contribuinte - recursos na melhoria do sistema elétrico. Têm o monopólio do serviço em suas regiões de atuação, e nem correm risco de falência, pois se a receita cai o governo as autoriza a esfolar o consumidor mais um pouco.

Negligência - Nem adianta argumentar com um (des)governo que tem tamanha cara-de-pau, mostrando por exemplo que o prejuízo - caso realmente tenha ocorrido e não possa ser suportado pelas empresas, da mesma forma que as demais empresas nacionais estão suportando prejuízos e até falindo por conta do racionamento - deveria ser coberto pelas empresas governamentais de geração de energia, que não foram capazes de investir em geração e linhas de distribuição no tempo certo para evitar o racionamento. E, nessas geradoras, quem não tomou a decisão de investir deveria no mínimo responder civil e criminalmente por sua imperícia e imprudência. Ou negligência (ainda não há provas suficientes que permitam considerar alternativas de dano causado propositalmente ao País).

Em um país com governo mais sério, o ministro da pasta correspondente renuncia (em casos extremados, em que a autoridade não suporta conviver com a vergonha de sua incompetência e os danos que causou ao país, às vezes até se suicida). No Brasil, chama-se o parente para compor uma comissão, devidamente comissionada, e debate-se a maneira mais vantajosa de conduzir o rebanho ao abatedouro... 
 

Ante a reação, à tarde (13h47), o governo adiou o reajuste, em Brasília. Imagens: TV Band News Mas não antes de (às 13h46) anunciar novos cortes: feriados para comemorar o apagão... Imagens: TV Band News

Isonomia - Diante de mais esse ataque ao bolso do cidadão, cabe perguntar se os trabalhadores que perderam os empregos devido ao racionamento, as empresas que tiveram seus custos elevados ou deixaram de produzir e comercializar seus produtos em razão da crise, e todas as outras vítimas diretas ou indiretas do racionamento de energia, podem contar com um reembolso do governo que compense completamente a queda em sua receita, da mesma forma que o solicitado pelas concessionárias de energia elétrica. 

Em tese, aliás, deveria bastar apenas a formalização por escrito do pedido ao governo, sem ao menos apresentar provas convincentes à sociedade da extensão do prejuízo obtido... 

Bem, o apagão do governo nacional já estava inscrito desde 5/2001 no Festival de Besteiras que Assola a Internet (Febeanet). A novidade de agora apenas serve para reforçar a inscrição. O governo faz questão absoluta de ganhar esse festival...