FEBEANET
"Amai-vos uns..."
Pelo amor a Deus, cristãos
matam crianças, árabes e judeus também
Existe
absurdo maior que matar pessoas inocentes, ao acaso, em nome de uma religião?
O ser humano já foi ao espaço,
já explorou o fundo do mar e aprendeu a dividir uma partícula
que por definição é indivisível (átomo,
de a-tomos, sem divisão). Brinca de Deus, clonando seres vivos (em
breve, a super-produção: o clone humano...).
Mas, da mesma forma como as medidas
do ônibus espacial ultra-moderno estão relacionadas
à largura das ancas dos cavalos romanos, parece que vários
milênios depois dos profetas bíblicos, dois mil anos após
a crucifixão de Cristo, quase mil e quatrocentos anos após
a migração de Maomé, seus seguidores continuam fazendo
as mesmas coisas... e pior.
No centro europeu da civilização
ocidental, católicos e protestantes se enfrentam nas ruas de Belfast,
na Irlanda do Norte. Matam-se, por amor a um mesmo Deus, cada um defendendo
sua forma de amá-lo.
No centro da civilização
oriental, nas próprias terras bíblicas em que viveram os
profetas, Cristo e Maomé, palestinos e israelenses brigam por um
pedaço de terra dia após dia, século após século.
Dois mil anos após Cristo ser morto na cruz por defender uma concepção
religiosa, vários de seus seguidores passam por um julgamento no
Afeganistão. Seu crime, segundo a milícia islâmica
Talibã, que controla o país: eles pregaram a fé católica.
Para os dirigentes afegãos, tal crime deve ser punido com a morte.
Tudo isso está sendo acompanhado
em tempo real, ao vivo e a cores, pelo mundo inteiro, através de
modernos meios de comunicação como a televisão, o
rádio, os jornais, a Internet.
É por meio deles que vemos,
estarrecidos, a maior das besteiras - como se matar em nome
de fé religiosa não fosse por si só um absurdo. Vemos
crianças sendo vitimadas pelos conflitos, mortas no caminho da escola,
no berçário, em casa mesmo. Na casa, na escola, no berçário
que caem, destruídos por uma bomba. Que foi preparada por um terrorista
precisamente para causar essa destruição. Em nome de Deus.
É a imagem de uma força
policial, acompanhada por um batalhão de repórteres de todo
o mundo, para garantir a simples (simples?) segurança da ida de
crianças à escola - crianças católicas, passando
por uma rua dominada pelos protestantes, no nono mês do terceiro
milênio cristão - que merece e justifica esta inscrição
dos conflitos religiosos internacionais no Festival de Besteiras que Assola
a Internet (Febeanet).
Afinal, depois de verem seus colegas
vitimados por bombas e tiros, o que essas crianças podem ainda aprender
na escola? Filosofia?
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