A cada dia que passa surgem novos e precários barracos na favela que possui vários trechos sujeitos
a deslizamentos e já é considerada uma das maiores da cidade
Foto: Edison Baraçal, publicada com a
matéria
HABITAÇÃO
Favela no Morro da Bela Vista, na entrada da cidade, registra
alto índice de expansão
Segundo levantamentos recentes, a população atual da área é de aproximadamente
3.500 pessoas
Ricardo Costa
Da Sucursal
O surgimento de favelas na região da Baixada já não se
constitui em novidade para a população. Decorrentes das sucessivas crises econômicas e de uma economia que alcança a taxa histórica de 17% de
desemprego, elas aparecem por todos os lados. Mas, em Guarujá, a Favela da Bela Vista, também conhecida por Morro do Macaco Molhado, vem chamando a
atenção por um dado bastante significativo: em apenas 60 dias, ela cresceu 227,54%.
Localizado nas proximidades da estação rodoviária, no lado direito do trevo de entrada da Cidade e
paralelo à Rodovia Don Domênico Rangoni (antiga Cubatão-Guarujá), esse núcleo carente que em julho último
possuía 167 barracos contabiliza agora cerca de 540. Todos eles estão cadastrados em dois livros-atas da Associação dos Moradores.
Para se ter uma idéia do que esses números representam, basta citar as estatísticas do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que indicam que as favelas dos bairros-cota, localizadas na região da Serra do Mar, em Cubatão, levaram 20
anos para ter seu espaço aumentado em aproximadamente 200%.
Conforme os levantamentos do órgão, as invasões no Parque Ecológico da Serra do Mar ocupavam, no
ano de 75, um espaço de cerca de 24 hectares (240 mil m²). Já no ano passado a área ocupada por barracos foi calculada em 70 hectares (700 mil m²).
Segundo depoimentos de pessoas que moram no local e que não quiseram se identificar, a própria
prefeitura incentivou a invasão da área, que pertence ao Município e à Sabesp. Elas afirmam que várias famílias desapropriadas em julho de um
terreno particular no Perequê foram transferidas para o morro.
Eleição - Quem visita o local fica impressionado com as precárias condições de vida dos
moradores. Para chegar até aos precários casebres de madeira, é necessário subir uma encosta durante cinco minutos. Não há escadas e a trilha é
feita por entre barrancos e rochas. Crianças sem agasalho, descalças e subnutridas, brincam descontraidamente, correndo por entre paredes de madeira
impregnadas de cartazes de candidatos às próximas eleições municipais.
"Eles deveriam ter mais compromisso e não ficar fazendo festa. Estamos abandonados. Falta saúde,
alimentação e moradia. É fácil vir aqui e prometer", disse, revoltada, a moradora Cenilda do Socorro Passos Senna, presidente da associação de
moradores.
Segundo ela, o local não tem energia elétrica e nem água encanada. Explicou que, em conjunto, os
moradores já construíram uma caixa d'água comunitária e um galpão para a instalação de uma futura creche. "Aos domingos distribuímos comida para
cerca de mil crianças. Muitas não têm o que comer durante a semana".
Protesto - Desiludidas com o descaso das autoridades, cerca de 500 pessoas realizaram, na
semana passada, uma manifestação de protesto pelas ruas próximas à favela, para exigir ligações de água e energia elétrica. "Há muitas ligações
clandestinas principalmente de luz. Isto pode acarretar em uma tragédia", comentou a presidente da Associação de Moradores. Cerca de 60 casas estão
no local há pelo menos 12 anos. Há 10 anos, aproximadamente, a Prefeitura desativou um lixão que funcionava nas proximidades da favela.
Prefeitura - A Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Guarujá informou que o
Departamento Jurídico já está movendo uma ação de reintegração de posse. A área é considerada de risco. Cerca de 40 casas podem desabar a qualquer
momento e estão na iminência de interdição por parte da Defesa Civil.
O órgão explicou que as invasões são incentivadas por candidatos a cargos políticos. Observou,
também, que um recente levantamento feito pela própria Prefeitura constatou que boa parte das famílias já possui residência em outros locais.
Déficit - Guarujá possui um déficit habitacional de 15 mil moradias. Nos últimos quatro
anos, cerca de 50 casas populares foram construídas no Sítio dos Morrinhos III. Outros lotes foram utilizados para o assentamento de 900 famílias.
Atualmente, residem na Favela Boa Vista cerca de 3.500 pessoas, das quais 2.500 são crianças. Cada
casal tem em média três filhos. A Tribuna esteve na área e observou outros 15 barracos em processo de construção. |