Aeronáutica prepara a desativação da Base Aérea
Por decisão do Comando Geral de Operações Aéreas do Ministério da Defesa, o curso de
formação de pilotos de helicóptero da Base Aérea de Santos será transferido para uma unidade militar em Natal, no Rio Grande do Norte. A medida deve
provocar a desativação da Base Aérea, que funciona desde 1922 em Vicente de Carvalho. O Comando criou um grupo de trabalho que deverá definir o
futuro da unidade. Por sua vez, o prefeito de Guarujá, Farid Madi, entende que o encerramento das atividades da Base vai facilitar a implantação do
Aeroporto Civil Metropolitano no local.
DECISÃO - Grupo de trabalho discutirá o futuro da unidade,
que está em Vicente de Carvalho desde 1922
Foto: Carlos Marques, publicada com a matéria
AERONÁUTICA
Base Aérea de Santos deve ser desativada
Curso de formação de pilotos de helicóptero foi transferido para Natal
Nilson Regalado
Da Sucursal
O Comando Geral de Operações Aéreas do Ministério da
Defesa decidiu transferir o curso de formação de pilotos de helicóptero da Base Aérea de Santos para uma unidade militar localizada em Natal, no Rio
Grande do Norte. Essa decisão deve provocar a desativação da Base Aérea, que funciona desde 1922 no Distrito de Vicente de Carvalho, em Guarujá.
A transferência do curso deverá estar consumada até janeiro de 2007, quando os
aspirantes a oficiais aviadores já deverão começar a receber a instrução na base aérea localizada na Região Nordeste do País.
No mesmo despacho, o Comando Geral de Operações Aéreas criou um grupo de trabalho que
deverá definir o futuro da unidade militar, que fica às margens do Estuário.
Como a principal atividade militar desenvolvida na Base Aérea é a formação desses
pilotos e de mecânicos de helicóptero, a transferência tornaria desnecessária a manutenção da infra-estrutura atual.
Com isso, a tendência é que os cerca de 700 militares lotados em Guarujá que não estão
vinculados diretamente à formação dos pilotos e mecânicos, ou seja, não pertencem ao 1º Esquadrão do 11º Grupo de Aviação (1º/11º GAv), sejam
remanejados para unidades da Aeronáutica espalhadas pelo território nacional.
"Com a saída do 1º/11º GAv a Base Aérea não terá razão para existir. Se viesse outra
unidade para cá a Base Aérea até continuaria com suas atividades", resume o comandante da Base Aérea, o coronel-aviador Fernando Sousa Bezerra.
Prejuízos - A estimativa do comando da unidade militar é que cerca de R$ 60
milhões por ano deixem de circular na economia regional a partir da virtual desativação da Base Aérea.
Desse montante, R$ 20 milhões compõem a massa salarial de oficiais, sargentos, cabos e
soldados. Os outros R$ 40 milhões estão relacionados ao custeio da unidade militar.
Outro prejuízo para a Região Metropolitana da Baixada Santista é com o fim do serviço
militar para 150 jovens que cumprem o período de recrutamento anualmente na Base Aérea. Esse contingente recebe um soldo mensal de R$ 300,00, além
de treinamento diário e, principalmente, ensinamentos de ética e disciplina.
Mesmo sem prestar concurso público, esses jovens podem permanecer até seis anos como
militares, o que representa uma perspectiva de emprego em uma área com alta densidade populacional e carente de opções.
Apesar da perspectiva de encerramento das atividades, o comandante da Base Aérea
salienta que "nenhuma decisão vai ser tomada de forma intempestiva".
A primeira reunião do grupo de trabalho que vai traçar o futuro da unidade militar
está agendado para o próximo dia 10, no Comando Geral de Operações Aéreas, em Brasília.
O grupo de trabalho é formado por sete oficiais. Tanto o coronel Bezerra quanto o
tenente-coronel-aviador Álvaro Falcão Ferreira, que comanda o 1º/11º GAv, participam do grupo de trabalho. "Vamos levar para a reunião, em Brasília,
a apreensão que a Cidade começa a demonstrar", antecipa o comandante da Base Aérea.
Apesar de estar sensibilizado com a preocupação demonstrada por setores da sociedade
guarujaense, principalmente políticos, o oficial admite que o poder de decisão está diluído: "Vamos cumprir nosso papel regimental e planejar as
vantagens e desvantagens de uma eventual desativação".
A principal atividade militar na Base Aérea é a formação de pilotos e mecânicos de
helicóptero
Foto: Walter Mello, publicada com a matéria
Explicação é necessidade de reforçar fronteira
Extra-oficialmente, a justificativa para o esvaziamento das atividades militares na
Base Aérea de Santos e nas demais unidades das três Forças Armadas localizadas no litoral brasileiro foi a necessidade de proteção das fronteiras e
da biodiversidade da Amazônia. Nesse contexto, o Ministério da Defesa transferiu, nos últimos anos, sete unidades de estados como Rio de Janeiro e
Rio Grande do Sul, para a região Norte do País.
"Nas últimas décadas houve uma mudança do potencial ofensivo do Oceano Atlântico para
a Amazônia. Estamos saindo do litoral para gerenciar uma maior necessidade de proteção na Amazônia", justifica o comandante da Base Aérea,
coronel-aviador Fernando Sousa Bezerra.
Porém, como explicar a transferência do 1º Esquadrão do 11º Grupo de Aviação (1º/11º
GAv) para Natal, que fica no litoral do Rio Grande do Norte? Nem o coronel Bezerra consegue encontrar uma justificativa.
Diante da necessidade de marcar presença na região Norte do País, a Aeronáutica criou,
nos últimos anos, cinco novas unidades nas cidades de Boa Vista, capital de Roraima; Porto Velho e Vilhena, em Rondônia; São Gabriel da Cachoeira e
Eirunepé, ambas no Estado de Amazonas.
Pressão política - O presidente da Sociedade Amigos da Base Aérea, João Cândido
Bala, sugere a união das forças políticas da Região Metropolitana no sentido de reverter o virtual encerramento das atividades na unidade militar.
Ligado à unidade da Aeronáutica no Guarujá desde 1990, quando começou a participar e promover confraternizações entre civis e militares, Bala
considera a provável desativação um retrocesso para a região.
"Acho uma pena a desativação da Base Aérea porque isso mexerá com a economia da região
e os jovens não vão ter mais essa opção, fora o que a Base Aérea movimenta em termos de soldos. Esse pessoal gasta aqui na região", salienta Bala.
João Bala pede a união de forças políticas para reverter situação
Foto: Walter Mello, publicada com a matéria
Farid acredita que medida viabiliza o aeroporto
O prefeito Farid Madi demonstrou "otimismo e preocupação" com o virtual encerramento
das atividades da Base Aérea. A preocupação se deve ao fim dos recursos transferidos para o comércio de Guarujá com o pagamento de soldos, impacto
negativo "que não podemos desprezar". No entanto, Farid entende que a transferência das atividades do 1º Esquadrão do 11º Grupo de Aviação (1º/11º
GAv) para Natal vai facilitar a implantação do Aeroporto Civil Metropolitano na área da Base Aérea.
"Do ponto de vista estratégico, a saída do curso para Natal faz com que o projeto do
Aeroporto Metropolitano se concretize com mais facilidade porque a operação de aviões civis não vai conflitar com as atividades militares", salienta
o prefeito.
Farid estima que a área dos hangares destinados à proteção e manutenção dos
helicópteros poderá ser utilizada para implantação do terminal de cargas e para a área alfandegada que o prefeito fez questão de incluir no projeto
apresentado em 2005 ao 4º Comando Aéreo Regional (4º Comar).
Apesar de demonstrar otimismo com uma possível viabilização do aeroporto a partir do
fim das atividades com helicópteros na Base Aérea, Farid entende que a melhor alternativa seria a manutenção das atividades militares que não
dependem do curso de formação de pilotos.
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Prefeito anuncia relatório ambiental preliminar
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Relatório Ambiental - Farid anunciou ontem a conclusão do Relatório Ambiental
Preliminar (RAP), documento fundamental para obtenção das autorizações ambientais visando a construção da infra-estrutura do futuro Aeroporto Civil.
"Já estamos marcando uma data, provavelmente na semana que vem, para entregar esse RAP
na Secretaria (de Estado do Meio Ambiente)", adianta o prefeito.
Prefeito demonstrou otimismo caso se confirme a desativação
Foto: Walter Mello, publicada com a matéria
Comando deve sugerir uso para o terreno
Caso a hipótese de desativação da Base Aérea se concretize, o grupo de trabalho
formado pelo Comando Geral de Operações terá a missão de sugerir uma nova finalidade para o terreno ocupado pela unidade militar em Guarujá.
Dentre as hipóteses visualizadas pelo comandante da Base Aérea, o coronel-aviador
Fernando Sousa Bezerra, estão a transferência do imóvel para a Prefeitura, Estado, iniciativa privada ou para a Marinha, proprietária do terreno até
1941.
Porém, segundo o coronel Bezerra, essa transferência só seria possível em caso de
permuta por outro imóvel. Essa transação só seria viabilizada com o aval do 4º Comando Aérea Regional (4º Comar), com sede em São Paulo.
Questionado ontem a respeito da possibilidade de permuta, o prefeito Farid Madi
adiantou que se o grupo de trabalho propuser essa hipótese, ele colocará imóveis à disposição do 4º Comar para poder obter a posse do terreno da
Base Aérea.
O imóvel da Base Aérea pode ir para a Prefeitura de Guarujá
Foto: Walter Mello, publicada com a matéria
Local foi chamado de Ninho de Helicópteros
Da Pesquisa
Apesar de instalada no distrito de Vicente de Carvalho, em Guarujá, a Base Aérea da
Baixada Santista leva o nome de Santos. Isto ocorre porque quando ela foi criada, em 22 de outubro de 1922, a área ainda pertencia ao município
santista.
Inaugurada com a presença do presidente Epitácio Pessoa, a pedra fundamental foi
lançada no Sítio Conceiçãozinha. Na ocasião, a unidade tinha como principal atribuição a guarda do Porto de Santos e patrulhamento do litoral.
Pouco depois, devido ao sítio ter sido considerado local impróprio para a construção
da Base Aérea, foi escolhida outra área, localizada junto à Vila de Bocaina.
Segundo arquivos da unidade, a antiga vila de pescadores, que existia no local, foi
deslocada para onde existem, hoje, a travessia das barcas, dando origem ao bairro de Vicente de Carvalho.
A Base foi incorporada ao Ministério da Aeronáutica em 1941 e, a partir da década de
60, a unidade ficou conhecida como "ninho dos helicópteros", propiciando treinamento e formação de pilotos e mecânicos nesse tipo de aeronave.
Resgate - Durante a Segunda Guerra Mundial, pilotos da Base participaram de
operações de patrulhamento do Atlântico Sul contra as forças do Eixo. Mais recentemente, o incêndio do Edifício Joelma, em 1974, na Capital, também
teve a ajuda da Base Aérea, de onde partiram helicópteros para o resgate de sobreviventes.
Estas aeronaves já participaram de operações de salvamento em naufrágios no mar,
socorreram pescadores em perigo e transportaram doentes graves para São Paulo, além de contribuírem para o reflorestamento, entre outras missões.
A unidade já possuiu, também, a única escola estadual do País com o curso de 2º Grau
técnico em mecânica de aeronaves, que formava profissionais recrutados pela Varig e pela Vasp.
Em 2006, o curso de Manutenção de Aeronaves voltou a funcionar depois de dois anos
fechado, com aulas práticas ministradas pela Escola Técnica Estadual (ETE). |