O serviço de catraias entre o Distrito e o Centro de Santos
atende cerca de oito mil pessoas por dia (na imagem, o desembarque em Vicente de
Carvalho)
Foto: publicada com a matéria
ABANDONO
Terminal de catraias em VC encontra-se à beira da ruína
Última reforma feita no embarcadouro foi em 1982, na gestão do ex-prefeito Jayme
Daige
Da Sucursal
Mais popular meio de transporte marítimo entre
Vicente de Carvalho, Distrito de Guarujá, e o Centro de Santos, as catraias
vivem uma crise financeira sem precedentes. O maior reflexo dessa dificuldade é o terminal de embarque e desembarque de Vicente de Carvalho. Sem
reformas desde 1982, quando o então prefeito Jayme Daige construiu o prédio, o terminal está à beira da ruína. E o pior é que o Governo do Estado
acaba de investir quase R$ 2 milhões na reforma da estação onde atracam as barcas do Dersa, ao lado, criando uma concorrência desigual que só
aprofundou a crise dos catraieiros.
O telhado, impróprio, transforma o local em uma autêntica panela de pressão nos dias
de calor. No espaço onde seriam construídos os banheiros, os blocos não foram sequer rebocados. O piso de cimento irregular oferece risco de queda
aos usuários e as paredes, sem nenhum tipo de revestimento, não recebem uma pintura há muito tempo.
"Quem sofre é o usuário porque, por mais que os catraieiros queiram melhorar a
infra-estrutura, não temos condições financeiras de dar mais conforto aos passageiros", lamenta o presidente da Associação, Walter Ferreira da
Nóbrega, que trabalha no serviço desde os 8 anos de idade.
Por dia, cerca de oito mil pessoas circulam pelo terminal. Porém, o movimento já foi
maior. Até a década de 80, as 80 embarcações que fazem o serviço chegavam a transportar até 18 mil passageiros por dia.
Estado e Prefeitura - A estimativa da Associação dos Catraieiros é que seriam
necessários cerca de R$ 180 mil para reforma e modernização da estação de embarque e desembarque, dinheiro que a categoria não dispõe, já que as
dívidas de quase R$ 900 mil consomem quase toda a contribuição mensal dos associados.
Diante da crise financeira da categoria e do precário estado do terminal, a Associação
vem tentando obter recursos junto ao Governo do Estado e à Prefeitura para reformar o prédio. A entidade não tem fins lucrativos e foi declarada de
Utilidade Pública Municipal pela Câmara ainda nos anos 80.
"Estamos tentando marcar audiências com o governador (Geraldo Alckmin) e com o
prefeito (Farid Madi) para ver se eles podem nos ajudar; afinal, prestamos um serviço que é de interesse social e que ajudou a desenvolver Vicente
de Carvalho e o Guarujá", salienta Nóbrega.
Nos últimos três anos, todos os terminais de transporte metropolitano do Município
foram reformados, incluindo o píer das lanchas que fazem a travessia entre Guarujá e a Ponta da Praia, em
Santos, e os terminais de ônibus de Vicente de Carvalho e do Bairro Santa Rosa.
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Associação estima em R$ 180 mil o custo da reforma
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Atividade aguarda regulamentação
A crise financeira da Associação dos Catraieiros começou em 1986, com a transferência
da fiscalização sobre o serviço da extinta Superintendência de Marinha Mercante (Sunamam) pelo ex-presidente José Sarney. Com a decisão federal, o
transporte de passageiros por catraias passou à competência do Governo do Estado. Porém, passados 19 anos, o Palácio dos Bandeirantes sequer
regulamentou o serviço.
Diante da omissão do Estado, não há regras claras sobre quem comanda o serviço: a
Secretaria dos Transportes ou a Secretaria dos Transportes Metropolitanos. Isso dificulta a definição de regras de segurança e, principalmente, a
fixação das tarifas, que não sofrem reajuste significativo desde 1999, acumulando uma defasagem de 33% em seu valor.
"Precisaríamos estar cobrando R$ 1,00 por passageiro. O secretário dos Transportes
(Dario Rais Lopes) chegou a prometer um aumento para o dia 1º de janeiro mas, até agora, nada", lamenta o presidente da Associação dos Catraieiros,
Walter Ferreira da Nóbrega.
"As barcas do Dersa só conseguem manter a tarifa em R$ 0,75 porque recebem um subsídio
de 40% por parte do Estado. Nós não temos esse suporte e ainda transportamos de graça os policiais e idosos", completa o presidente da Associação.
A situação da categoria piorou ainda mais em 1989, por conta do acidente com o barco
Bateau Mouche, que naufragou na noite do Réveillon na Baía da Guanabara, deixando dezenas de mortos. A partir daí, a lotação das catraias foi
reduzida de 25 para apenas 17 passageiros por viagem, o que aumentou os custos para os marítimos.
Embarque santista é feito na Bacia do Mercado (Praça
Iguatemi Martins)
Foto: Irandy Ribas, publicada em 6/1/2005 no jornal santista A Tribuna
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