Programação inclui deposição de flores no busto do poeta e atividades culturais

A corbelha de flores depositada ontem no busto do poeta Vicente de Carvalho marcou o início das festividades em homenagem à antiga Vila de Itapema, em Guarujá, que hoje abriga 130 mil habitantes, o que representa quase a metade da população da cidade. Para marcar o Dia de Vicente de Carvalho foram realizadas ainda atividades culturais na Praça 14 Bis.

Além de populoso, Vicente de Carvalho foi responsável por mais da metade dos R$ 26 milhões arrecadados pela Prefeitura no ano passado com o Imposto Sobre Serviços (ISS).

Esse detalhe demonstra a pujança da economia do Distrito, que abriga terminais de contêineres e de fertilizantes, além da Base Aérea de Santos, onde está instalado o Aeroporto Civil Metropolitano e um comércio diversificado, considerado um dos mais fortes da região.

Além de contribuir com a arrecadação do Município, o Distrito que cresceu a partir da chegada de migrantes nordestinos e santistas expulsos dos morros após o desabamento das encostas, em 1957 (N.E.: o desabamento foi no ano anterior), também apresenta baixos índices de inadimplência entre os contribuintes de Guarujá.

Para se ter uma idéia, dos R$ 37 milhões 313 mil inscritos na dívida ativa do Município, apenas R$ 5 milhões 151 mil são devidos por contribuintes do antigo Itapema. O restante é fruto do calote de moradores de bairros mais nobres de Guarujá.

As festividades pela passagem do Dia de Vicente de Carvalho foram organizadas em parceria entre a Prefeitura e a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL). A homenagem foi instituída há 26 anos, por meio da Lei Municipal 01374. À noite, estavam programadas apresentações de grupos de pagode.

Política - Além de sua importância para a economia da região, Vicente de Carvalho, que hoje tem 17 bairros, também revelou destaques da política da Cidade, como o prefeito Maurici Mariano, que iniciou suas atividades profissionais no Distrito na década de 60.

"Devo muito a Vicente de Carvalho", resume Maurici, que presidiu a solenidade de criação da Sociedade Amigos do Distrito, em 21 de janeiro de 1963. O evento aconteceu na sede do Brasil Atlético Clube e reuniu os primeiros moradores do núcleo, além de comerciantes que começaram suas atividades próximo à Estação das Barcas.

Naquela época, o pedreiro Rosalvo Pereira dos Santos, de 70 anos, já morava em Vicente de Carvalho, recém-chegado da Bahia, de onde veio com a família em busca de uma vida melhor, como aconteceu com milhares de nordestinos que encontraram abrigo no Distrito a partir dos anos 50: "Para mim, não tem lugar no mundo melhor para morar".

Moradores mais antigos relembram o velho Itapema

Dos tempos em que o Itapema não passava de uma pequena vila cercada de mangues, restaram as recordações: "Quando cheguei aqui, só tinha lama. Na (Avenida) Thiago Ferreira só tinha três prédios, o resto eram casas de madeira", lembra a aposentada Maria São Pedro de Jesus, de 67 anos. Baiana, ela trocou Ilhéus pela Vila Alice em 1974. A exemplo de milhares de nordestinos, Maria criou os seis filhos e dois bisnetos em Vicente de Carvalho.

No Distrito, ela teve acesso à cidadania, representada pelo emprego com carteira assinada que lhe deu direito à aposentadoria. "Essa é uma terra abençoada. Eu passava muitas dificuldades em Ilhéus, vendi tudo e vim para cá, fui à luta e trabalhei muito. Aqui, tive as oportunidades que não tinha na Bahia", lembra a aposentada, com um misto de orgulho e saudade.

Apesar da satisfação, Maria lembra que ao chegar em Vicente de Carvalho enfrentou muitas dificuldades, a ponto de ter de trabalhar a bordo de um pau-de-arara que transportava operários à Cooperativa de Pesca Nipo-Brasileira quando os ônibus que serviam o Distrito quebravam.

Viajando pela história, ela guarda na retina imagens de um passado não muito distante, mas bastante diferente dos dias atuais. "No (Sítio) Conceiçãozinha, só tinha bananeira e caranguejo. Hoje, tem indústria".

Outra que demonstra orgulho por morar no Distrito é a comerciante Maria Stela de Jesus Santos, de 44 anos: "Agora, Vicente de Carvalho está ótimo. Antes, eu trabalhava em Santos e saía da casa de botas, com água quase na cintura e valas a céu aberto. Tinha de levar uma sandália na bolsa para não passar vergonha".