Chargista J. C. Lôbo morre aos 82

Júnior Batista

Da Redação

Mesmo quem não é entusiasta de futebol deve se lembrar das memoráveis ilustrações de J. C. Lôbo, codinome de José Carlos Lôbo, santista que fez carreira nos jornais A Tribuna, Cidade de Santos e Diário do Litoral. Sobretudo, do ex-jogador Pelé, retratado desde sua chegada a Santos de Bauru, em 1956. Lôbo morreu ontem de madrugada, aos 82 anos, por insuficiência respiratória.

Na memória de amigos, parentes e pessoas próximas ao profissional, fica a lembrança do que fez em mais de 50 anos como chargista. "Ele era um gênio", define Adilson Gonçalves. "Apesar de ser são-paulino, Lôbo tinha paixão por futebol e pelo Rei Pelé. Ele ouvia os jogos do São Paulo num radinho, escondido, pra ninguém ficar tirando sarro dele".

A mulher, Maria Antonieta Lôbo, de 74 anos, lembra-se com carinho do marido, com quem faria 52 anos de casamento amanhã e teve dois filhos. "Ele tinha um gênio difícil, é verdade. Mas era muito talentoso. Tinha verdadeira paixão pelo que fazia", conta.

J. C. Lôbo entrou em A Tribuna em 1955, como chargista. Foi o jornalista Adriano Neiva da Motta e Silva, o De Vaney, que o levou para a Redação por reconhecer seu talento para desenho crítico, que fazia na antiga Hugo Paiva Publicidade.

Ficou no jornal até 1967, fazendo ilustrações, principalmente, do Santos e de Pelé - que chegou a bater bola com o chargista.

Com a fundação do jornal Cidade de Santos, mudou de emprego. Desenvolveu também charges políticas. "Ele era muito crítico, observador. Com ele mesmo e com os outros. Acabou passando isso para os desenhos, fazendo muito barulho. Tinha um temperamento difícil. Mas acho que todo artista tem", diz a viúva.

Mostras - Seus desenhos, os mais famosos sobre o Santos, viraram tema de exposições em Santos e outras cidades.

"A primeira vez que ele expôs foi na praia, no (extinto restaurante) Baleia, onde atualmente é o Moby. Também teve a exposição no Super Centro Boqueirão, antes de começar na Capital e em ouros lugares", conta o sobrinho, Antônio Calos Lôbo Filho, de 56 anos.

Em 2003, o amigo Adilson Gonçalves lembra da exposição do chargista no Sesc Bauru, que reuniu 100 das 115 charges de Lôbo sobre Pelé.

De madrugada - Maria Antonieta conta que, até há três anos, trabalhava para o jornal Diário do Litoral. "Ele sempre teve essa vontade de criar. Saía de madrugada e dizia que ia se inspirar. Ficava andando e andando, dizia que a mente funcionava melhor daquele jeito".

No entanto, o fumo em excesso - havia parado há quatro anos - influenciou em sua saúde. No dia 12, foi internado com erisipela.

Em nota, o Santos Futebol Clube lamentou a morte do desenhista.

Morre J. C. Lôbo, recordista em charges do Rei Pelé

Da Reportagem
De Santos
 

"Eu dominei Pelé. Ninguém conseguiu pegar Pelé como eu dentro do meu trabalho. Aquilo virou uma religião". A declaração, dada em entrevista ao Diário do Litoral em 2012, é de José Carlos Lôbo, o J.C. Lôbo, recordista em charges do Rei do Futebol, que morreu na madrugada de ontem Santa Casa de Santos. O sepultamento foi realizado às 16h, no Cemitério da Areia Branca.

Devido a problemas de saúde, J.C. Lôbo estava afastado do ofício no Diário do Litoral desde 2013. A morte ocorreu devido a problemas respiratórios, segundo as primeiras informações divulgadas.

Com mais de 100 trabalhos tendo Pelé como protagonista, o chargista, que passou por diversos veículos de comunicação – A Tribuna, Cidade de Santos e Gazeta Esportiva – se orgulhava da carta que recebeu do Rei do Futebol em 9 de janeiro de 1998.

Em um dos trechos o Atleta do Século escreveu: "Apesar de naquele tempo eu ainda não ter grande conhecimento de charges, o que me chamou atenção em seu trabalho, além da criatividade, foi a quantidade de detalhes que ele se preocupa em colocar, tornando suas charges verdadeiras obras de arte e já modernas para a época".

A carta, conforme o plano de J.C. Lôbo, seria usada em um prefácio para um livro sobre ex-camisa 10. Apesar dos esforços do chargista por diversos anos, incluindo a busca por apoio do Poder Público, em Santos, a publicação nunca foi lançada porque enfrentou problemas, em 2012, relacionados à falta de autorização do uso da imagem pela empresa que cuidava à época dos direitos de imagem do Rei.

Homenagens. O diretor-presidente do Diário do Litoral, Sergio Souza, lamentou a morte e ressaltou a importância do trabalho de J.C. Lôbo na história do jornal. “Ele tinha uma alma boa, era uma pessoa sensível, que acreditava no ser humano”.

Em homenagem, Souza anunciou que a partir de segunda-feira será publicada uma charge por dia de J.C. Lôbo por uma semana.

Ex-secretário de Cultura de Santos e articulista do Diário do Litoral, o jornalista Carlos Pinto afirma que guarda várias charges do profissional. "O traço dele era inconfundível, um dos melhores chargistas eu conheci, sem dúvida", afirma.

Para o jornalista Paulo Schiff, também articulista do Diário, o chargista tinha um talento superlativo, um traço característico e um domínio absoluto da linguagem da charge. "Tive a honra de conviver com ele na página 2 do Diário do Litoral".

Schiff afirma que desde adolescente acompanhou o trabalho do chargista. "Uma perda".

O professor universitário, cartunista e ilustrador Osvaldo DaCosta diz que as caricaturas, principalmente no início da carreira do Rei do Futebol, eram belas. "Temos que reconhecer esse detalhe do grande desenhista de humor".

O chargista Seri recorda que conheceu J.C. Lôbo quando começou a desenhar profissionalmente. "Ele tinha um ótimo traço".

Por meio de nota oficial, o Santos Futebol Clube também lamentou o falecimento.

Charge do cartunista J. C. Lôbo publicada em 13/7/1977 no jornal Cidade de Santos)

Charge do cartunista J. C. Lôbo publicada em 17/7/1977 no jornal Cidade de Santos)

Charge do cartunista J. C. Lôbo publicada em 17/7/1977 no jornal Cidade de Santos)

Charge do cartunista J. C. Lôbo publicada em 26/1/1978 no jornal Cidade de Santos)

Charge do cartunista J. C. Lôbo publicada em 28/1/1978 no jornal Cidade de Santos)

Charge do cartunista J. C. Lôbo publicada em 2/2/1978 no jornal Cidade de Santos)

Charge do cartunista J. C. Lôbo publicada em 8/2/1978, página 2, no jornal Cidade de Santos)