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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - CBJr
Charlie Brown Jr./Chorão (3)

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Banda formada em Santos em 1992, por músicos santistas, a Charlie Brown Jr. teve como vocalista o paulistano Alexandre Magno (Chorão), apaixonado por skate e pelo futebol do Santos F.C., cuja morte foi assim noticiada no jornal santista A Tribuna, na quinta-feira, 7 de março de 2013, páginas A-1, D-1, D-2 e D-4 :

1970-2013 - CHORÃO 'VOCÊ DEIXOU SAUDADE" - Um dia inteiro de incredulidade, lágrimas e lamentos. Foi assim que milhares de fãs, amigos e curiosos acompanharam as notícias sobre a morte de Chorão, fundador do Charlie Brown Jr. O corpo está sendo velado na Arena Santos e será sepultado hoje, na Memorial Necrópole Ecumênica, com a presença apenas da família. Entre a música e o skate, muitas histórias

Imagem: reprodução parcial da primeira página do jornal A Tribuna em 7 de março de 2013

Cidade tem luto oficial de três dias
A homenagem, que foi decretada ontem pelo prefeito Paulo Alexandre Barbosa, vigora até amanhã, em função da morte do cantor

Ele teve coragem de ser jovem a vida inteira

Amigos de sempre recordam histórias vividas com Chorão

Ineide Souza Di Renzo, José Luiz Aarújo e César Miranda

Da Redação

"Se estou falando com você agora é graças a ele, Chorão salvou a minha vida". O depoimento emocionado é do músico Tarso Wierdack dos Santos, integrante da banda santista de heavy metal Carnal Desire, e amigo do líder da banda Charlie Brown Jr., que morreu ontem em São Paulo.

Tarso soube da morte quando deixava o trabalho como segurança. "
Eu estava desligando a tevê quando ouvi a notícia, fiquei em choque. Ele me ajudou quando mais precisei. E mesmo que tenha ficado a imagem do sujeito brigão, ele era amigo verdadeiro".

Em 2010, Tarso foi internado no PS Central de Santos com risco de perder não só a perna, mas a vida. Foram 13 dias de agonia, até que o médico comunicou aos amigos de Tarso que a perna estava necrosando e se ele não recebesse tratamento adequado não resistiria.

"Alguém lembrou que eu era amigo do Chorão e resolveu ligar. Meia hora depois, ele chegou e me levou para a Casa de Saúde, o médico não cobrou a cirurgia na qual foram amputados dois dedos do pé direito. Fiquei internado mais de um mês, Chorão bancou tudo. Acho que custou mais de R$ 50 mil. Depois disso, não nos encontramos, quando precisava falar com ele, eu deixava bilhetes na portaria de seu prédio". Foram 20 anos de amizade.

Agora, no próximo dia 22, a Carnal Desire se apresenta na Tribal e, como não poderia deixar de ser, Tarso vai homenagear o amigo. "
Daqui para a frente todos os shows da banda serão em homenagem a ele".

Tarso é só gratidão por ajuda que recebeu, ...

Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria, na página D-1

Pelado - O baterista da formação original da banda Charlie Brown Jr., Renato Pelado, 48 anos, lamentou a perda de ex-parceiro Chorão, que considerava um "poeta". Ele estava na Igreja Bola de Neve quando soube da notícia da morte e chegou a pensar que era boato. "Foi uma sensação muito triste. Um sentimento de não poder fazer nada. Ele será eterno com suas canções. Eu o amava. Ficará sempre no meu coração, de sua família e fãs".

Pelado esteve na banda entre 1992 a 2005. "
Demos muito duro juntos até o grupo engrenar. Fui sempre agradecido a ele pelas coisas que conquistei. Há sete anos, não tínhamos contato".

O ex-baterista diz que havia desentendimento como existe em qualquer banda, mas não foi esse fato que o fez deixar os parceiros. Pelado admite que problema com drogas o fez abandonar. Mesmo afastado, o vício ainda lhe causou prejuízos. "
Quase morri", confessa. "Não dava mais, queria seguir outro caminho. Hoje me libertei. Precisei abrir mão".

... enquanto Murilo Lima enaltece legado de Chorão

Foto: arquivo, publicada com a matéria, na página D-1

Murilo Lima - Tristeza, apreensão, informações desencontradas e incerteza. Assim foram as primeiras horas vividas por parte da família do cantor Murilo Lima, cuja irmã é mãe do Alexandre Abrão, 23 anos, filho único de Chorão.

"
Eu dormi em São Paulo na terça-feira, onde estavam meu pai, minha irmã e meu sobrinho. Foi ela quem deu a notícia ao Xande. A Grazie (Graziela Gonçalves, que ficou casada com Chorão até novembro passado) chegou e depois ficamos todos juntos".

Sua relação com o cantor, conta, sempre foi tranquila, embora eles não se encontrassem muito em função das agendas profissionais. "
Mas quando nos encontrávamos era legal, e a última vez foi durante o cruzeiro dos 100 anos do Santos F. C.".

Murilo não quis dar detalhes da vida pessoal de Chorão, dizendo que não sabia se ele estava depressivo com a separação da esposa. "
Estão falando muita bobagem, como overdose, e ninguém pode afirmar nada com certeza".

Como pai, revela ele, Chorão, nos últimos dez anos, foi sempre presente, mas dentro das possibilidades, já que vida de músico, ainda mais conhecido nacionalmente, é escrava da agenda lotada. "
Ele se dava muito bem com meu sobrinho. Tanto que Xande estava trabalhando com ele, fazendo vídeos da banda. Mas era aquela coisa do Chorão, um pai nada ortodoxo, que por vezes esquecia um compromisso. Mas nada que abalasse o relacionamento deles".

Como artista, Murilo avalia como uma enorme perda. "
Ele era muito talentoso e tinha enorme facilidade para escrever. Também tinha grande carisma e sabia comandar a plateia como poucos artistas. Eu gostava das músicas da banda, mas meus filhos de 10, 11 e 12 anos gostam bem mais".

Charge de Padron, publicada com a matéria, na página D-1

Noite mágica, de energia, mas de susto

Noite mágica e de energia, mas algo estava estranho aos olhos acostumados ao ambiente: parecia ter muito mais gente. "Fui ver os ingressos e havia 500 falsos (havíamos vendido 1 mil verdadeiros). Não havia como retirar as pessoas, só rezar para que tudo terminasse bem. Graças a Deus, ocorreu".

O relato é do empresário e percussionista Michel Pereira e o ano era o de 1997. A banda Charlie Brown Júnior se apresentava pela primeira vez em sua história para um grande público após conquistar os fãs com Te Levar que, em 1999, entrou na trilha sonora de Malhação. O show foi no Bar do 3. Embora não tenha registrado a apresentação em vídeo, foi gravada. "
Até hoje tenho o áudio, mas não sei onde está, preciso procurar. Dá para sentir toda a energia daquela noite".

Michel não era tão próximo de Chorão, mas sempre que se encontravam o papo era legal e o cantor repetia um batido pedido: cuide do meu irmão para mim. "
O Fabinho trabalha comigo até hoje. É técnico de som e DJ, um menino sensacional".

Legado - Por trabalhar na noite (é dono do Torto), Michel conhece os demais integrantes da famosa banda, que sempre se apresentou com outras formações. A Charlie Brown Jr, diz, deixou um legado ao rock porque, além das músicas e letras, o som influenciou diversos grupos. "
Algo como Jorge Ben Jor. Deixou um estilo que a gente escuta no escuro e identifica".

"
O artista se doa muito e vive intensamente. Ganha (fama, dinheiro) e perde (a privacidade). Escutei de uma prima do Chorão que ele cantava e embalava uma multidão, mas se sentia sozinho. Acredito que o artista sofre esse conflito interno. Não sei do que ele morreu. Seja qual for a razão, não me compete fazer julgamento. Cada um escreve a sua história".

Imagem: reprodução parcial da página D-1 do jornal A Tribuna em 7 de março de 2013

ARTIGO

Um menino o tempo todo

Julinho Bittencourt

Era o mesmo. Não tinha essa de fama, assessoria de imprensa, o que iam dizer ou deixar de dizer. Era o mesmo de antes, quando era menino, em Santos, e não engolia meio desaforo de ninguém. Falava e fazia o que queria e pronto! Muitas vezes pagou caro por isso. Em outras ganhou muito, com suas canções sinceras e diretas, coisas que vinham do peito, da alma, do seu talento indiscutível.

Era o mesmo também quando chegava de volta à sua praia, aos seus amigos. Não tinha essa de sou bom e famoso, sou o Cara, sou o Chorão. Reclamava do que estava errado, celebrava o que estava certo e não escondia. Adorava estar de volta: "Pô, cara, adoro voltar pra esse lugar!"

Ao contrário da imensa maioria dos homens públicos, Chorão errou em público ao invés da fazer escondido, acovardado pelo mainstream, pela mídia que poupa os que fazem o papel que ela acha que deva ser feito. Nunca foi daqueles que davam uma de bonzinho quando ligavam as câmeras.

Mas, sobretudo, ele era o mesmo quando ia fazer o que mais sabia e gostava: a música. Tinha aquilo que é o mais valioso em um artista. Não dissimulava nada. Sua canção era a sua vida, o palco o seu habitat, sua voz e discurso o que tinha pra oferecer. Era o próprio garoto santista, marrento e alegre, skatista de dia e músico de noite. Logo nos versos iniciais de O Coro vai Comê, um de seus primeiros sucessos, revelava o sotaque da praia paulista e a troca característica do pronome: "Meu, tu não sabe o que aconteceu, os caras do Charlie Brown invadiram a cidade".

E foi uma invasão mesmo. Dali em diante, o menino que batalhava duro por um lugar ao sol, batendo em gravadoras com suas demos, virou mania nacional. Munido de uma banda poderosa, que contava com as guitarras de Thiago e Marcão, o baixo do Champignon e a tonitruante bateria do lendário Renato Pelado – o único que nunca voltou a tocar no grupo – conquistou o País, virou um ídolo que nunca deixou de ser santista. Aonde ia falava da Cidade, do seu time, sempre com o sotaque típico, com um cantado carregado, trocando os esses pelo xis.

Nesta manhã calorenta, com o metrô empanturrado de gente, a notícia de sua morte surge surpreendentemente como um pesadelo no monitor do veículo. Vários passageiros se espantam e lamentam. São meninas e meninos, office-boys, estudantes, jovens em sua maioria, chocados com a partida prematura do ídolo.

A vida segue em São Paulo e em todo o País, como sempre tem que ser. A imprensa vai manter a história por algumas semanas, até que a indústria de entretenimento devore outro.

Para nós fica uma perda muito maior. A do menino Alexandre que um dia sonhou – e conseguiu – ter uma grande banda de rock contando as coisas que vivia e acreditava. Um garoto engraçado, despachado, marrento, cheio de talento e opiniões. Um menino que incorporou como poucos a nossa alma santista e a levou adiante.

Fora todas as versões que vão surgir nos próximos dias, a única coisa líquida e certa nisso tudo é que eu adoraria não estar escrevendo este texto.

Foto: divulgação, publicada com a matéria, na página D-2
N.E.: Em 14/7/2023, o fotógrafo Jerri Rossato Lima se identificou para Novo Milênio como autor da foto acima

Dependência química venceu o vocalista

Da Redação

No ano passado, o vocalista Chorão estava lutando contra a dependência química. O relato é de uma fonte muito próxima a Graziela Gonçalves, com quem ele estava casado, uma vez que não houve oficialização do divórcio. A informação foi checada pela Reportagem com outra pessoa muito ligada ao cantor, que a confirmou. A preocupação com o estado da saúde de Chorão era tanta que houve até mesmo uma tentativa de interná-lo contra sua vontade, a partir de um laudo médico que preconizava compulsoriamente o procedimento.

Isso foi há duas semanas. "
Eles foram à Cracolândia para tentar encontrar o juiz de plantão, mas ele não estava. Foram ao hotel em que o Chorão estava hospedado, mas o gerente não deixou ninguém subir. Pior, mais tarde contou a ele que estivemos lá e qual era o nosso propósito".

A fonte cita que Chorão chegou a se submeter a dois meses de tratamento sob supervisão médica, mas não o seguiu à risca e nem quis fazer os exames necessários para internação, que era o mais recomendável. "
Ele foi, a intervalos cada vez mais curtos, tendo recaídas com o vício, e não quis dar continuidade ao tratamento".

Nos últimos quatro anos, Chorão, por conta do problema, mudou muito de comportamento em casa, o que culminou, no final do ano passado, com a separação. "A Graziela (mesmo tendo aguentado muitas coisas nos últimos quatro anos) disse que o ajudaria a tentar reverter o quadro, mas foi ele, na verdade, quem saiu de casa, deixando um bilhete dizendo que a amava. Ele sabia que ela não aguentava mais ficar ao lado dele assim. Foi uma escolha dele viver daquela forma, e cada vez mais estava se afundando no vício".

A mesma fonte revela, ainda, que não corresponde à verdade que Chorão estava completamente deprimido devido à separação. "
Segunda-feira retrasada (dia 25 de fevereiro) ele foi à casa dela e conversaram numa boa. Graziela disse que ele poderia voltar, mas Chorão não quis".

As declarações da fonte visam evitar que Graziela ("
de modo injusto") saia dessa história como vilã, uma vez que a mídia tem batido na tecla de que ele estava consumindo bebidas alcoólicas, remédios e substâncias ilícitas devido à separação.

Para embasar a preocupação, a fonte cita as declarações de Sonia Abrão (uma pessoa de alcance nacional) sobre a depressão do cantor com o fim do relacionamento. "
Ela nunca nem ligou para o Alexandre nos aniversários dele, não eram próximos. É uma oportunista. Para dar uma ideia, no casamento dele ela foi convidada como parente, mas apareceu com o marido e uma equipe de televisão para gravar a cerimônia. Todos foram barrados, somente ela entrou".

Chorão, revela a fonte, era uma pessoa doce, do bem e que, em vários momentos, dava carinho ou apoio incondicional quando pessoas muito ligadas à família (como essa fonte) precisavam. "
Mas ele tinha esse problema com o vício e, nos últimos tempos, estava paranoico e quebrava as coisas. Isso tudo é muito triste e ainda ficam inventando coisas. Quem era realmente amigo ou trabalhava de perto com ele sabia da situação, mas foram poucos os que tentaram ajudá-lo".

Rumores

Logo que a morte de Chorão veio a público na manhã de ontem, começaram os rumores de que ele estaria com depressão por conta do fim de seu casamento com a estilista Graziela Gonçalves. Fontes muito próximas a ela, entretanto, explicam que há duas semanas foram feitas tentativas para interná-lo, pois havia um laudo médico que indicava a necessidade de internação. "Quem era realmente amigo ou trabalhava com ele sabia da situação, mas poucos o ajudaram"

 

Foto: Fernanda Luz, publicada com a matéria, na página D-4

 

Foto: Irandy Ribas, publicada com a matéria, na página D-4

 

Foto: Irandy Ribas, publicada com a matéria, na página D-4

 

Os fãs de Chorão manifestaram seu carinho deixando mensagens no Chorão Skate Park ou enviando flores, como Angélica e Luciano Huck. Outros aguardavam na Arena Santos, onde foi realizado o velório

A VIDA DE CHORÃO - Roqueiro, cantor, compositor, roteirista, skatista, polêmico, língua ferina, brigão. Um homem com a emoção à flor da pele que, apesar da personalidade forte e difícil, não hesitava em ajudar um amigo em necessidade

1970 - Sai o primeiro disco, Transpiração Contínua Prolongada, que emplaca os hits O Coro Vai Comê!, Proibida pra Mim (Grazon) eTudo que Ela Gosta de Escutar Alexandre Magno Abrão nasceu em 9 de abril de 1970, em São Paulo. Levava uma vida tranquila até a separação dos pais. Ainda pequeno se interessou pela prática de skate

1987 - Aos 17 anos, veio morar em Santos. Aqui, passou a praticar skate quando ganhou dos amigos o apelido de Chorão. Atualmente, era dono do Chorão Skate Park, pista de skate indoor

1992 - Chorão cria a banda, da qual fazem parte Champignon, Pelado, Marcão e Thiago. O nome ele tirou de uma barraca de venda de coco, que tinha um desenho do personagem Charlie Brown. Juntou o Jr porque os integrantes se consideravam ‘filhos’ de famosas bandas de rock

1997 - Sai o primeiro disco, Transpiração Contínua Prolongada, que emplaca os hits O Coro Vai Comê!, Proibida pra Mim (Grazon) eTudo que Ela Gosta de Escutar

1999 - A canção Te Levar vira tema de Malhação, da Globo, fazendo a banda ficar conhecida nacionalmente, sedimentando seu som e pavimentando a estrada do sucesso

Foto publicada com a matéria, na página D-4, com fundo negro

Música e skate moveram esse santista de alma e coração

Morte de Chorão abala fãs e amigos

Da Redação

Os fãs da Charlie Brown Jr. foram surpreendidos ontem com o anúncio da morte de Chorão, o fundador e líder da banda. Seu corpo foi encontrado no apartamento que possuía em São Paulo, no bairro de Pinheiros, na manhã de ontem. O cenário era desolador, ele estava de bruços no chão da cozinha e o imóvel parcialmente destruído. As imagens, em pouco tempo, estavam na internet, na televisão, inclusive fotos do corpo sendo retirado do local em um saco plástico, A partir daí, não faltaram especulações, entre elas um pó branco espalhado em um móvel, semelhante a cocaína.

Em entrevista coletiva, o delegado Itagiba Franco, da Polícia Divisionária do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), disse que o cantor achava que estava sendo perseguido. "
Chegava em casa quebrando tudo, por isso a bagunça, no apartamento". Ele ainda informou que nas últimas semanas, Chorão se hospedou em quatro hotéis. Itagiba Franco pensa ainda que haja relação entre as drogas e a morte.

"
Acredito que ele possa ter tido uma overdose por conta das evidências que tinham no local. Foi encontrado um pó branco, mas só o laudo dirá se é cocaína", disse ele. De acordo com o Boletim de Ocorrência, havia sangue pelo piso da cozinha, um saco de boxe com serragem retirada dele e espalhada pelo chão, além de bebidas alcoólicas, energéticos e restos do pó branco encontrado sobre uma bancada de pedra na cozinha. Na sala estava uma mala de viagem e roupas espalhadas, além de remédios usados, entre eles Lexotam. Partes do carpete de uma suíte haviam sido arrancadas,assim como alguns tacos de madeira da sala. Um aparelho de ar condicionado foi arrancado da parede, permanecendo pendurado pelos fios.

Paixões - Cantor, compositor, skatista, roteirista de cinema (O Magnata), o paulistano Chorão era um apaixonado por Santos. Tanto que em seus shows sempre mencionava a Cidade. Além disso, era torcedor fanático do Santos Futebol Clube, merecendo uma citação especial no site do clube ontem; 'Chorão, o Eterno Menino da Vila'. Também foi alvo de mensagens carinhosas por parte de Neymar, Léo e de Robinho (ex-Santos e atual Milan).

Com uma história de vida difícil, contestador e polêmico, Chorão veio morar em Santos em 1987, quando contava 17 anos. O apelido Chorão ganhou dos amigos skatistas. Nos anos 1990, formou a banda Charlie Brown Jr. O sucesso veio da mistura de ritmos como o hardcore, o reggae, o rap e o skate punk, com letras marcadas por críticas sociais, dentro da visão de um jovem contemporâneo.

Para a história vão ficar a briga com Pelado, que nunca foi totalmente esclarecida, as desavenças com Champignon, o primeiro a chegar ontem ao apartamento de Chorão em São Paulo, e declarar sua amizade e carinho por ele. A agressão ao músico Marcelo Camelo, ex-vocalista do grupo Los Hermanos e por aí vai. Ao mesmo tempo, era o sujeito doce, carinhoso e sempre disposto a ajudar a quem precisasse.

A trajetória de Chorão e sua banda começou em um bar da Cidade, certo dia, por acaso (o vocalista da banda precisou sair rapidamente), Chorão o substituiu. Uma pessoa da plateia gostou e o chamou para ser o vocalista da sua banda. Foi nela que ele e Champignon (que tinha 12 anos) se conheceram e formaram a banda What’s Up. Os dois convidaram Renato Pelado para ser o baterista, e mais tarde ao trio se juntaram Marcão e Thiago Castanho. Estava formada a Charlie Brown Jr. "
Foi uma coisa inusitada. Trombei (literalmente) com uma barraca de água de coco que tinha o desenho do Charlie Brown (personagem de Charles Schulz) e o Jr. é por sermos filhos do rock", disse Chorão certa vez.

No ano seguinte, a banda começou a se apresentar no circuito underground de Santos e São Paulo e em eventos de skate. Uma fita demo foi entregue a Rick Bonadio (presidente da Virgin Records no Brasil e produtor dos Mamonas Assassinas), que se interessou pelo som e os contratou. Surgiu o primeiro disco, Transpiração Contínua Prolongada.

Caíram no gosto da galera O Coro Vai Comê!, Proibida pra Mim (Grazon), Tudo que Ela Gosta de Escutar e Gimme o Anel, O sucesso nacional aconteceu em 1999, graças à canção Te Levar, que foi tema do seriado Malhação, da Globo. A banda passou a ganhar prêmios e chegou ao topo das rádios espalhadas pelo País e há pouco mais de dois anos ganhou Grammy Latino.

Em 1999, o grupo voltou com Preço Curto... Prazo Longo, com 25 canções inéditas, entre elas, Confisco, Zóio de Lula, O Preço e Não Deixe o Mar te Engolir, Nadando com os Tubarões, lançado em 2000, cujos destaques foram as faixas Rubão - O Dono do Mundo e Não é Sério. No fim de 2000, o guitarrista Thiago Castanho deixa o grupo. Como um quarteto, a banda assina com a EMI para lançar 100% Charlie Brown Jr. (Abalando a sua Fábrica) no final do ano, com canções totalmente inéditas. As faixas de maior destaque foram Hoje eu Acordei Feliz, Lugar ao Sol e Sino Dourado.

Carro com o corpo do cantor chegou à Arena Santos no fim da noite

Foto: Bruno Miani, publicada com a matéria, na página D-4

Fãs ovacionam e amigos prestam homenagens

Leonardo Costa e Carlota Cafiero

Da Redação

O corpo do cantor Chorão, da banda Charlie Brown Jr, chegou à Arena Santos no final da noite de ontem. Ovacionado pelo público, que gritava seu nome e chorava, ele será velado até por volta das 14h30 ou 15 horas de hoje. Depois, será levado para o salão nobre da Memorial Necrópole Ecumênica e o enterro será às 17 horas, com a presença apenas da família.

Integrantes da banda de rock NX Zero e o skatista Sandro Dias, conhecido como Mineirinho, hexacampeão mundial e medalha de ouro dos X-Games em 2006, esperavam para dar adeus ao vocalista.

A fila de fãs que esperam para se despedir do músico se estendia pela Av. Rangel Pestana, alcançando a sede da CET, na altura da Av. Ana Costa.

O início do velório foi fechado a parentes e amigos. A mãe do cantor, de 80 anos, só ficou sabendo da morte do filho na noite de ontem. Amigos de Chorão informaram à imprensa que ela teria sofrido um AVC recentemente, e por isso, teria sido poupada.

Apesar do desejo do cantor de ser cremado, a polícia informou que ainda são necessários exames para avaliar as causas da morte do músico.

Discografia

1997 – Transpiração Contínua Prolongada
1999 – Preço Curto...Prazo Longo
2000 – Nadando com os Tubarões
2001 – 100% Charlie Brown Jr. (Abalando a sua Fábrica)
2002 – Bocas Ordinárias
2003 – Acústico MTV
2004 - Tâmo Aí na Atividade
2005 - Imunidade Musical
2007 - Ritmo, Ritual e Responsa
2009 - Camisa 10 (Joga Bola até na Chuva)
2012 - Música Popular Caiçara (Ao Vivo)

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