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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA
Gastão Bousquet


Escritor, autor teatral, jornalista e poeta, Gastão Bousquet foi enfocado na edição especial de 26 de janeiro de 1939 do jornal santista A Tribuna, comemorativa do centenário da elevação de Santos à categoria de cidade (exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda - grafia atualizada nesta transcrição):
 
Gastão Bousquet (Gastão Raul de Forton Bousquet) - Nasceu em Santos, a 23 de setembro de 1870, como filho legítimo do dr. Alexandre Bousquet, cônsul da França em Santos e médico de muito conceito e reconhecido valor.

Seus primeiros estudos foram feitos em Santos, com o professor Tiburtino Mondin Pestana, chegando até os preparatórios. Destinava-se à carreira jurídica, mas uma decidida vocação jornalística desviou-o dela, levando-o a ingressar muito moço, logo aos 16 anos, nas lutas da imprensa, no último período das duas campanhas, abolicionista e republicana, ao lado da esplêndida mocidade que secundava o trabalho dos condutores-chefes, principalmente ao lado dos moços da Bohemia Abolicionista, encabeçados por Pedro e Guilherme de Mello.

É do final desta época, 1887, a fundação, por ele e Alberto Sousa, da Revista, folha literária e republicana.

Transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1889, logo após a proclamação da República, onde entrou a fazer parte da redação do Diário de Notícias, às ordens de Rui Barbosa, seu redator-chefe, sendo, logo após, redator dos jornais cariocas O Tempo e O País, neste sob a chefia de Quintino Bocaiúva. Passou em seguida para a Gazeta de Notícias, de Ferreira de Araújo, e daí para a Cidade do Rio, onde pontificava José do Patrocínio, seu diretor, de quem se tornou íntimo e grande amigo, merecendo as maiores atenções do notável brasileiro. Algum tempo depois era redator-chefe do Correio da Manhã, e finalmente redator-secretário do Jornal do Comércio, edição da tarde.

Possuidor de peregrinas qualidades de humorista, tornaram-se notáveis e muito apreciadas as seções por ele criadas em diversos diários do Rio, nas quais usava o pseudônimo de J. Repórter, e assim tornou-se um dos bons nomes da imprensa brasileira.

Fez-se ao mesmo tempo escritor teatral e romancista. Espírito altamente religioso, dedicou-se com devotamento a muitas questões religiosas relativas ao credo que professava, tendo ocasião de publicar uma série de artigos que pretendia reunir em volume, com o título de O mês de Maria, sob o pseudônimo de Conde de Santa Maria.

Nos seus últimos anos foi redator do Correio da Manhã e correspondente da A Platéa, de São Paulo, cargos que ocupava quando morreu.

No período do governo provisório da República, em 1889, quando se encontrava na chefia da polícia do Rio de Janeiro o dr. Sampaio Ferraz, Bousquet foi delegado de uma das circunscrições policiais da cidade, e, quando governava o Estado do Rio o dr. Alfredo Backer, foi convidado a ocupar uma cadeira de deputado à Assembleia Legislativa do Estado, honra que recusou delicadamente, para não abandonar suas queridas lides jornalísticas.

Gastão Bousquet ainda voltou à sua terra, em 1901, entrando para a redação do Diário de Santos, em que permaneceu poucos meses, retornando à capital do país, onde durante 17 anos, foi um dos vultos principais da imprensa.

Além de sua grande bagagem jornalística, e das peças teatrais que ficaram em manuscrito, apesar de várias vezes representadas, como das inúmeras poesias que publicou, deixou Gastão Bousquet as seguintes obras impressas: Guanabara, revista, de colaboração com Arthur Azevedo; Santo Antonio, burleta; Nenem, burleta; Tá fechado, revista de costumes santistas (de grande êxito) e O Barba Azul, romance, com seis edições consecutivas.

Faleceu em Niterói, a 17 de março de 1918, sendo sepultado no cemitério de Maruí.


Convite para missa realizada em Santos no dia 30/3/1918 por Gastão Bousquet

Anúncio publicado no domingo, 24 de março de 1918 no jornal santista A Tribuna, página 9

Sobre ele - que também atuou nos primeiros números do jornal santista Gazetinha, de 1886 -, o antigo jornal Commercio de Santos publicou, na edição especial pelo centenário da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1922 (ortografia atualizada nesta transcrição):

[..] Poeta muito apreciado das donzelas casadoiras conterrâneas, no último quartel do século passado (N.E.: século XIX), foi Gastão Bousquet, um caráter e uma inteligência que, sobre ser um delicado versejador de galanterias, militou durante longos anos na imprensa local, revelando-se um jornalista vigoroso. As quadrinhas abaixo eram recitadas, com requebros de voz e de olhar, pelos peraltas, nos saraus familiares de Santos de antanho:

Na Praia de S. Vicente

A última vez que nos vimos,

Foi na praia, junto à fonte.

Com que dor nos despedimos!

Como lhe beijei a fronte!

 

- Voltarás? - perguntou ela.

- Pois quê! duvidas? - Não sei -

Deixava-a o pranto mais bela.

Respondi-lhe - Voltarei. -

 

Parti. Já bem longe estava,

Mas ainda no fim da praia;

O adeus trêmulo avistava

Do seu lenço de cambraia.

 

Voltei. Mas, ai de mim! Antes

Nunca tivesse voltado...

Nada há pior que os amantes

Do que chorar o passado.

 

A praia de S. Vicente

E a fonte, as mesmas achei.

A praia e a fonte somente,

Que ela... não mais encontrei...

 

Como não mais a encontrasse,

Tudo ali senti deserto,

E fui, qual ébrio que errasse,

Pela praia a passo incerto.

 

Caía a tarde, tranquila...

Já muito longe, parei.

E para os lados da vila,

Os turvos olhos voltei.

 

Uma garça o voo abria

Perto da fonte, na praia.

Chorei. O adeus parecia

Do seu lenço de cambraia...

Gastão Bousquet

Imagem: reprodução da nota original publicada no jornal de 7/9/1922

Gastão Bousquet

Poeta, colocou a sua lira ao serviço da abolição da escravatura. Foi um abolicionista ardoroso.

Ao morrer, há anos, deixou uma farta obra literária, infelizmente quase toda dispersa nos jornais a que emprestou o brilho do seu talento.

Na edição de 23 de outubro de 1888, o jornal paulistano A Provincia de São Paulo (antecessor de O Estado de S. Paulo) publicou em sua página 2 este registro, saudando o aparecimento (em novembro de 1888) de um novo jornal em Santos, o vespertino redigido por Gastão Bousquet (Acervo Digital Estadão - ortografia atualizada nesta transcrição):

Carta de Santos

Mais um órgão de publicidade aparecerá em 1º do próximo mês, aqui. Terá o título - Diario da Tarde.

A sua redação será confiada ao nosso amigo Gastão Bousquet, o jovem jornalista que foi durante algum tempo, e a contento geral, redator-chefe do Correio de Santos, em cujas colunas patenteou o seu talento e vocação para o jornalismo, de modo que o seu nome, por si só, tem a força de recomendação para o novo jornal.

O Diario da Tarde se apresenta com um programa verdadeiramente simpático e com todas as probabilidades de longa duração por ser propriedade dos srs. Machado, Cabral & Comp., donos da União Typographica.

E, além de tudo, torna-se a nova folha recomendável pelo insignificante preço das assinaturas e ainda pela hora da publicação.

É sob tão bons auspícios que o Diario da Tarde inscreve o seu nome na lista dos colegas da imprensa.

Longa vida pois parece garantida ao novo lutador, assim seja.

Imagem: reprodução parcial de A Província de São Paulo de 23/10/1888, pág. 2 (Acervo Estadão)

Na edição de sábado, 3 de agosto de 1889, o mesmo jornal A Provincia de São Paulo publicou em sua primeira página este registro (Acervo Digital Estadão - ortografia atualizada nesta transcrição):

Gastão Bousquet

Retirou-se da redação do Diario de Noticias, do Rio, o nosso jovem e talentoso colega e comprovinciano Gastão Bousquet.

Prosador elegantíssimo, humorista delicioso e poeta distinto, ele por muito tempo iluminou as colunas do Diario, com os raios poderosos do seu talento sustentado com notável fecundidade e perícia duas seções diárias naquela folha: Troças, em versos, e Rapidamente, em prosa.

Gastão Bousquet vai prestar à redação d'O Paiz o concurso do seu belo talento.

Enviando ao Diario de Noticias e a Gastão Bousquet as expressões do nosso sentimento, damos parabéns, muitos parabéns ao Paiz.

- O Diario de Noticias consagra-lhe as seguintes linhas justas: "Deixou de fazer parte da redação desta folha o nosso bom amigo e talentoso colega, o sr. Gastão Bousquet, que aqui encontráramos ao tomar conta da redação, em março último, em cujo talento depositávamos muitas esperanças".

Ao nosso bom amigo e colega daqui enviamos o testemunho de todo o nosso apreço, desejando-lhe as felicidades de que é digno no cargo que vai exercer na redação do Paiz.

- As Troças, foram assim substituídas:

Trocinhas

Foram-se as Troças embora...

Acostumado a troçar,

O Baptista vai agora

Outras bandas alegrar...

 

Lá se foi todo catita,

Foi troçar n'outro paiz,

Com sua verve infinita,

Com sua rima feliz...

 

Custa a crer esta verdade!

Está lá, mas também cá.

Tem de bom isto a saudade.

Faz perto quem longe está.

 

Foi-se embora do Diario,

Foi cantar noutro lugar,

Nosso estimado canário

Que soube, preso, voar.

 

Cavaquinho

 

Imagem: reprodução parcial da pág. 1 de A Província de São Paulo de 3/8/1889 (Acervo Estadão)