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UMA TARDE EM LIBRES
Como vivem os exilados brasileiros
Aspectos da fronteira argentina – Hotel 5 de Julho – A chácara Santa Faustina – Uma página viva de Samuel Smiles – Informações inéditas sobre a
marcha da Coluna Prestes – Os seus principais combates
LIBRES E URUGUAIANA
Quando os excursionistas chegaram a Uruguaiana, à noite, alguém indicou uma direção e disse: "Libres fica ali". Longe, ardia um braseiro de
cidade. E desde aquele momento começamos a sentir a presença dos compatriotas exilados. Ao que se supunha, eles deveriam acompanhar a nossa marcha
triunfal na cidade lindeira pelo risco luminoso dos fogos de artifício e, se o vento estivesse de feição, ouvir o vozerio confuso dos seis mil
entusiasmos que nos escoltavam.
A noite foi de apoteose. Depois de um dia de viagem, saturados da beleza nova da planície, deslumbrados por um sol que ao morrer teve duas longas
horas de agonia, ainda nos restavam todas as manifestações com que aquele povo saudava o seu conterrâneo: "Viva o índio!", "Viva o crioulo de
Uruguaiana!" Essa personagem era Baptista Luzardo.
O jantar só pôde ser servido à meia noite; em seguida, todos se recolheram aos aposentos, e embora a recomendação dada fosse de não acordar os
hóspedes antes do meio dia, ainda não eram 9 horas e já os jornalistas, Mauricio de Lacerda e um grupo de membros do Partido Libertador local
estavam a pé, ardendo no desejo de atravessar o Rio Uruguai.
Realizou-se o passeio. Depois de ligeiras formalidades administrativas nos dirigimos para a barranca e ali embarcamos na lancha Gaviota,
que arvorava o auriverde. Há muitas lanchas nesse serviço; as bandeiras argentina e brasileira se cruzam e entrecruzam incessantemente sobre aquelas
águas barrentas e quase imóveis. A profundidade do rio é diminuta nestes tempos e a quilha leve desliza entre bancos de areia apenas cobertos pela
toalha encardida das águas.
Do nosso lado estacionam muitas embarcações argentinas; são dragas e chatas empregadas no serviço do seu porto, porque eles têm um porto. A
barranca de Uruguaiana está anda como Deus a fez. O embarque é difícil, os passageiros afundam os pés no areiam e depois têm de equilibrar-se sobre
pranchões mal juntos, a fim de realizar a façanha de entrar numa daquelas cascas de noz.
A nossa estrada de ferro fica a dois quilômetros da barranca e um senhor, ao nosso lado, lamenta a ausência desse estirão de trilhos, pois isso
impõe transportes escassos e difíceis, de modo que a madeira exportada por Uruguaiana fica mais cara cerca de 180$000 por vagão.
Na lancha, o maquinista é argentino e o timoneiro gaúcho. Altercam, nos seus respectivos idiomas. Na fronteira vive-se em salutar tranquilidade.
Reina a mais completa harmonia entre os vizinhos. Trocam-se amabilidades e cortesias, discute-se política e como as ideias são contagiosas, há
maragatas em Libres e "personalistas" em Uruguaiana. Aqui, pelo menos, a pretendida animosidade histórica não chega a ter uma significação.
A travessia leva 20 minutos, mas o vaporzinho que partiu às 10 horas chega na outra margem às 9 horas e meia, milagre do meridiano. Libres tem um
belo porto; tem também um aparelhamento aduaneiro que se faz sentir o menos possível. Notamos, porém, que a sua grande obra portuária é inútil,
porque na vazante das águas os passageiros não se livram do areão e das pranchas e na cheia, como o nível varia muito, eles têm de grimpar por
escadinhas quase a prumo.
São os próprios passageiros que redigem a lista de bordo, à revelia do garoto que finge de comissário, por isso, quase todos figuram com 30 anos,
solteiros e com a profissão de capitalistas. Aos primeiros passos, voou um bando de pequenos pernaltas. Alguém de bom humor observou que já não
gritavam "quero-quero", mas "quiero-quiero"…
Tomamos automóveis; os choferes que nos servem são antigos soldados da revolução e ali ganham honestamente a vida, o mais próximo possível da
terra pátria. Pipoca, Mario e Geminiano já falam muito bem o espanhol, dizem estar satisfeitos e, como já têm o calo da profissão, cobram-nos dois
pesos a mais sobre a tabela.
Há muitos brasileiros trabalhando em Libres. Rodamos pelas principais ruas, que são bastante modestas. Crianças que se dirigem à escola chegam de
pontos afastados cavalgando pilecas; usam casquete e trazem a cartilha debaixo do braço. Fortes, escuros, silenciosos, denunciam avôs indígenas.
Libres não tem calçamento, nem água encanada, nem esgotos, tal como Uruguaiana. Informam-nos também que em toda a fronteira as nossas cidades,
apesar de tudo, são mais confortáveis e ricas que as argentinas; isso explica o número de argentinos ricos e pobres que conosco vivem. Perguntamos
sobre contrabando. Existe de fato; entretanto, menos do que se imagina, pois um acordo tácito entre as duas alfândegas consente uma permuta de
gêneros em que levamos desvantagem, mas que se realizaria de qualquer maneira, pela necessidade absoluta.
Aquela cidade argentina vive do câmbio; é uma espécie de mercado onde os gaúchos fazem compras, pois tudo ali é infinitamente mais barato para
clientes diários e infinitamente mais caro para quem ali aporta pela primeira vez. Para a vida destas duas coletividades, a tabela cambial tem uma
importância desconhecida do grande público paulista. Toda gente entende de câmbio e finge trazer algarismos no bolso. Nas casas de comércio, os
preços são dados nas duas moedas: "Dos pesos o siete mil…"
Uruguaiana exporta madeiras e mate do alto Paraná, assim como fumo em rolo, mas recebe de Libres tudo que come, mesmo aquilo que, com relativa
facilidade, poderia obter da excelência de suas terras. Ali compra manteiga, queijo, verdura, fruta, feijão, batata, galinhas, ovos, tudo. Em
Uruguaiana, nas mesas ricas, come-se banana de Santos – comprada em Libres.
A infiltração da língua espanhola em nossa fronteira é muito escassa, quasenula e só se torna perceptível na intimidade dos lares, por um "tié"
que corresponde ao "tché" argentino, ou pelos "todavia", "em seguida" e "o homem aquele", ressuscitados do nosso idioma pela vizinhança da língua em
que são correntes. Quase todo gaúcho fala o castelhano, como ornamento intelectual, mas conversando ou escrevendo mantém a integridade da língua
nacional. Do outro lado, o aspecto muda: ninguém fala português porque essa língua é reputada dificílima, mas inúmeros dos nossos vocábulos ali
parecem circular livremente, como a nossa moeda.
O automóvel para. Estamos diante do Hotel 5 de Julho, fundado por um exilado e hoje propriedade de outro, o capitão Solon Lopes de Oliveira. É uma
velha casa de porta larga e janelas amplas. Entra-se por um corredor abobadado para o jardim interno. É uma recordação dos velhos "pátios" da
Andaluzia. Desde Bagé que vimos encontrando esses recatados jardins de leitura e meditação. As janelas internas são enredadas de trepadeiras e os
poiais são baixos e largos, "profonds come des tombeuax", na expressão baudelairiana. Os canteiros estão floridos e a água da cisterna
aveluda o ar quente.
Ao oficial proprietário que nos recebe declaramos a nossa qualidade de jornalistas e perguntamos pelo general Isidoro Dias Lopes, a quem desejamos
fazer uma rápida visita. Infelizmente não podemos nos avistar com o ilustre patrício, pois há dias ele se encontra em Alvear. Ficamos ainda um
momento a palestrar no pátio aberto, sob o céu sem manchas daquela região tórrida. Depois, saímos. Os automóveis nos esperam. Os choferes fumam
cigarros brasileiros, puxando fumaradas melancólicas.
- Agora, toquem para a chácara do general Miguel Costa.
NA CHÁCARA SANTA FAUSTINA
Alguns minutos de corrida pelo campo e estamos diante de uma casa de tijolos, cercada de laranjeiras, com terrenos pautados de plantações novas.
Duas formosas crianças brincam na terra solta. É a chácara do general Miguel Costa. Os automóveis param diante da porteira e os dois meninos correm
para abri-la aos visitantes.
A história dessa chácara é uma página viva de Samuel Smiles. Representa o esforço e a inteligência de um grupo de oficiais paulista que o acaso da
luta atirou, sem recursos, nos arredores pobres de Paso de los Libres, mesmo à vista de Uruguaiana. Depois de penosos dias em que os exilados menos
sofriam por si do que pelas notícias que lhes chegavam dos lares longínquos, o general Miguel Costa recorreu a amigos da cidade fronteiriça e
adquiriu aquela porção de terra que, por sinal, em nada se parecia, então, com o que lá está.
Em redor dele se agruparam alguns emigrados e, depois da luta com os homens, começou a luta com a terra. Quando lhe perguntamos como passaram os
primeiros dias, eles sorriram e mudaram de assunto, mas pela sua vida de agora que as plantações vicejam e as vacas dão leite abundante se pode
avaliar a tristeza do início. Esses oito oficiais despendem consigo, por mês, uma soma equivalente a 350$000, isto é, pouco mais de 40$000 por
pessoa, numa terra onde a subsistência é muito mais cara do que no Brasil.
Aquela casa que ali está, quase faceira, entre árvores, com cisterna, galinheiro de arame e os primeiros prenúncios de conforto, começou por ser
um teto sobre quatro estacas. Depois, para esperar os rigores do inverno, os habitantes fizeram tijolos crus e ergueram quatro pares. Mas uma noite
veio o temporal e as torrentes "dissolveram" a casa. Os tijolos precisavam, pois, ser cozidos e, diante dessa necessidade, improvisou-se a olaria e
dentro de poucos dias o forno fumegou alegremente. E a lenha? Tudo quanto prometia um pouco de calor foi atirado à fornalha, dos excrementos secos
do gado à varredura do terreiro.
Aqueles homens de ferro se revezam no trabalho e enquanto uns seguram na rabiça do arado e levaram a terra, outros se entregam aos misteres da
casa, mas tudo isso é feito de bom humor, quase sempre a comentar as raras notícias que lhes vão do Brasil. Cada estação que chega traz a sua
colheita: é feijão, é milho, é abóbora… Aos visitantes foi dado provar a primeira mandioca deste ano, que se abria e esfarinhava sobre um prato de
folha.
O capitão Thales do Prado acorda às três e meia e com o sargento Dyonisio vai para o estábulo tirar o leite das vacas. Às cinco horas levanta-se o
capitão Procopio, dá comida e água às galinhas, traz a piloca, atrela-a na carreta e em seguida vai levar o leite à cidade. Este oficial está
paralítico da perna direita, em consequência de um ferimento que não teve curativo.
Mas ei-los que chegam para o almoço. O coronel João Alberto, que foi na grande marcha o braço direito do general Luiz Carlos Prestes, recebe-nos à
porta, sorridente. Tinha chegado há poucos dias, por isso ainda apresentava um chapéu muito "citadino" e umas botas polidas. Naquele dia, pelo
menos, era o elegante da casa. Os seus companheiros vestem-se à gaúcha e o seu traje de trabalho é o do último dos peões. Ali vem o capitão Thales,
que nem suspeita de que tem visitas; esteve plantando aveia para as vacas e está irreconhecível.
Apertamos a sua mão; é a mão de um calceteiro. Os dois meninos, que são seus filhos e vieram para Libres por debilitados, saltam-lhe ao colo. Há
dois dias sua mãe regressou a São Paulo, onde ganha a existência como datilógrafa em um escritório. O sargento Dyonisio esteve colhendo laranjas e
volta com uma cesta cheia: no dia seguinte serão vendidas aos "bolicheros" da cidade. Mas eis que na estrada surge a carreta do capitão Procópio.
Ele vem à boleia, tendo estendida para a frente a perna mutilada; atrás, há uma barrica, que serve de carroceria; levou leite para a cidade e traz
gêneros e sementes. As crianças querem ver a novidade do dia, mas pouca coisa encontram: um quilo de biscoitos de carregação e um pacote de mudas
ainda cheias de terra.
Vê-se por último o general Miguel Costa. Alto, magro, grisalho mas rijo como um cerne. Veste-se com absoluta sobriedade, pouco melhor que seus
companheiros, mas conserva uma linha acentuadamente militar, que contrasta com a expansão dos demais exilados. Ele nunca está de mau humor, nem
tampouco de bom humor. Afável, acolhedor, de fisionomia serena, mas imutável. Poderia, a qualquer momento, julgar-se diante de dez mil homens em
parada; ele continua a sentir-se perenemente no comando de uma floresta de baionetas. Em conversa não manifesta esperança nem desolação, não se
exalta nem se lamenta, aceitou com doçura a sua situação e só se trai pelo fogo dos olhos quando alguém lhe fala em anistia. "Ou tudo, ou nada",
diz, e volta à sua serenidade impenetrável.
Eles levam mais a sério do que se imagina a sua condição de agricultores. Estudam, fazem experiências de adubos, escolhem os produtos mais
remuneradores e discutem ferozmente preços com os compradores. No estábulo há oito vacas, presente dos seus amigos de Uruguaiana. Acontece, porém,
que os animais ou eram da primeira cria, ou estavam habituados a ser mungidos por mulheres. Resultado: estranharam o capitão Thales quando uma bela
manhã ele se apresentou com a vasilha disposto a pedir-lhes o leite. É ele quem nos descreve a cena:
- O cobre estava curto, havia não sei quanto tempo que a gente só comia abóbora… Um dia eu disse que havia de tirar o leite das vacas custasse o
que custasse. Os bichos só de me verem abriam a boca no mundo. Mas não tem nada, disse eu, e munido de um pau entrei no estábulo onde as vacas só
podiam estar num magote. Foi uma tourada, meninos, com oito animais que atacavam e se defendiam de todos os modos. Venci a quase todas. Ainda há uma
que quando me vê emagrece; os úberes vão mirrando, mirrando, que nem bola de elástico quando fura.
A muito custo, os viajantes levaram o general Miguel Costa para almoçar em sua companhia, num hotel da cidade. Por uma coincidência muito comum,
contara-se treze à mesa. Todos se olharam sorridentes e alguém perguntou: "Não há espionagem em Libres?" "Há, respondeu Miguel Costa, mas nós temos
muito pouco o que esconder; chegamos a tolerar, às vezes, a presença dos que nos espionam". A verdade é que mais tarde contamos os presentes e só
encontramos doze. O conviva n. 13 tinha sentido àquela mesa.
À saída, Miguel Costa juntou quatro preciosíssimas bananas que haviam ficado da sobremesa, meteu-as no bolso e levou-as consigo. Não se tinha
esquecido dos companheiros.
UM POUCO DE ESTATÍSTICA SOBRE
A COLUNA PRESTES
Os arquivos da revolução se encontram na Bolívia. Ali estão guardados preciosos documentos. Entretanto, a pedido dos jornalistas presentes, os
srs. general Miguel Costa e coronel João Alberto foram buscar os seus papéis e ali onde todos estávamos reunidos – num banco de carpinteiro sob
árvores copadas – nos foram comunicadas informações ainda inéditas sobre a grande marcha através do território brasileiro, que teve início no dia 29
de abril de 1925.
Em 647 dias caminharam mais de 24.000 quilômetros. Nunca pararam mais de 48 horas no mesmo lugar. O número de seus homens foi sempre de 800 a
1.000. Nesse feito militar eles se utilizaram de mais de 100.000 cavalos. Para o consumo, abateram cerca de 30.000 reses. Morreram perto de 600
soldados e 70 oficiais. Entre os últimos, trazem de memória os seguintes: major Lyra, em Solis; major Francisco Vieira de Barros, idem; capitão
Ildebrando, em Teresina; capitão Ludovico Pinto, em Umburana; capitão Philogenio Antonio Theodoro, em Rio Branco; capitão Luis Carreteiro, em
Pernambuco, este de desastre ocasionado pela arma que conduzia; capitão Modesto Guimarães, em Zeca Lopes; tenente Vicente Manenti, idem; tenente
Leopoldo Ribeiro Junior, em Mucuge, e tenente Sabino Lopes, em Sanaurim, afogado numa travessia.
Mais de 80% da tropa, inclusive oficiais, foi ferida nos combates, dentre os quais se destacam os seguintes, de maior importância:
Panchita, em Mato Grosso, em que se empenharam 200 homens da coluna Prestes sob o comando de João Alberto contra 150 homens das forças do coronel
Pericles, que foram completamente destroçados;
Patrimônio União, em Mato Grosso, 200 homens do coronel Pericles contra 150 de João Alberto, em que os do governo foram destroçados;
Apa, Mato Grosso, 1.200 legalistas comandados por Klinger, contra 150 do João Alberto, com resultado indeciso;
Apa, idem, 120 revolucionários de Siqueira Campos contra 1.200 homens de Klinger, onde os objetivos revolucionários foram alcançados;
Rio Pardo, Mato Grosso, 350 homens das polícias de S. Paulo e Minas, contra 350 de João Alberto e Siqueira Campos, sendo alcançados os objetivos
revolucionários;
Dois Córregos, em Mato Grosso, 400 legalistas de Klinger e polícia de Minas contra 350 homens de Cordeiro de Faria e Siqueira Campos, sendo
alcançados os objetivos dos revolucionários;
Mineiros, em Goiás, forças de Klinger e polícia mineira em número de 450, contra 160 homens de Siqueira Campos, onde os objetivos revolucionários
foram alcançados;
Zeca Lopes, em Goiás, 400 homens de Klinger e polícia mineira contra toda a coluna Prestes, contando 800 homens, com todos os objetivos alcançados
pelos revolucionários;
Anápolis, em Goiás, 130 homens de Klinger e polícia mineira contra 180 revolucionários de João Alberto, com vitória completa para os últimos;
São Romão, na Bahia, 500 homens da polícia baiana contra 100 do comando de João Alberto, com vitória completa para os revolucionários;
São Francisco, na Bahia, 300 homens da polícia baiana contra 120 de Djalma Dutra, sendo alcançados os objetivos revolucionários;
Benedito Leite, no Maranhão, 800 homens da polícia do Piauí, do exército e jagunços contra 120 de Djalma Dutra, que alcançou vitória completa;
Teresina, Piauí, a divisão do general João Gomes contando 600 homens, contra toda a coluna, orçando por 900 revolucionários, com resultado
indeciso;
Valença, no Piauí, 200 homens da polícia de Pernambuco contra 150 de Siqueira Campos, sendo alcançados os objetivos revolucionários;
Picos, no Piauí, 200 homens da polícia de Pernambuco contra 80 de Cordeiro de Faria, sendo alcançados os objetivos destes últimos;
Simões, no Ceará, 500 homens das forças do deputado Floro Bartholomeu e 40 do major revolucionário Ary, que alcançou os seus objetivos;
Crateús, no Ceará, 150 homens da polícia do Ceará contra 100 do comando de João Alberto, que alcançou os seus fins;
São Miguel, no Rio Grande do Norte, 120 policiais contra 150 homens de João Alberto, com a vitória completa dos últimos;
Boqueirão, na Paraíba, 100 homens da polícia estadual contra 80 do major Ary, com vitória deste último;
Piancó, na Paraíba, 250 homens do padre Aristides contra 300 revolucionários de Cordeiro e Dutra, sendo os legalistas completamente destroçados;
Patos, na Paraíba, 800 homens do exército e da polícia paraibana contra 100 de João Alberto, com resultado indeciso;
Umburana, em Pernambuco, 250 homens da polícia pernambucana contra 30 de João Alberto e Dutra, sendo os legalistas completamente destroçados;
Pageú, em Pernambuco, 800 homens das forças do padre Cícero contra 150 de Siqueira Campos, tendo os revolucionários alcançado os seus objetivos;
Riacho do Navio, em Pernambuco, 2.000 homens do padre Cícero, do exército e da polícia estadual contra toda a coluna Prestes, então de 800 homens,
tendo os revolucionários obtido os fins visados;
Água de Régu, na Bahia, 100 homens de Horacio de Mattos contra 120 de Siqueira Campos, sendo os legalistas destroçados;
Grão Mogol, em Minas, 300 jagunços contra 80 homens de João Alberto, que alcançou os fins desejados;
Montugé, na Bahia, 250 homens da polícia estadual contra 150 do major revolucionário Dutra, sendo alcançados os fins visados pelos
revolucionários;
Tabuleiro Alto, na Bahia, 250 jagunços contra 130 homens de Siqueira Campos, sendo alcançados os fins dos revolucionários;
Santa Sé, na Bahia, 250 jagunços contra 150 homens de Siqueira Campos, sendo alcançados os fins visados pelos últimos;
Cana Brava, na Bahia, 150 jagunços contra 150 homens de Siqueira Campos, sendo os legalistas destroçados;
Tucano, na Bahia, 200 soldados da polícia estadual contra 1560 de João Alberto, sendo alcançados os objetivos revolucionários;
Mundo Novo, na Bahia, 400 homens da polícia estadual contra 100 de João Alberto, sendo alcançados os objetivos dos revolucionários;
Uricuri, em Pernambuco, 80 homens da polícia pernambucana contra 80 do major Dutra, sendo destroçados os legalistas;
Jurumenha, no Piauí, 200 jagunços contra 100 homens de Cordeiro de Faria, com resultado indeciso;
Rio Preto, na Bahia, 160 jagunços contra 100 homens de João Alberto, tendo os revolucionários alcançado os seus fins;
Olhos d'Água, em Goiás, 200 homens da polícia de São Paulo contra 150 de Siqueira Campos, com vitória completa dos revolucionários;
Planaltina, em Goiás, 400 homens da polícia de São Paulo contra 150 de João Alberto, tendo os revolucionários alcançado os objetivos;
Anápolis, em Goiás, 200 homens da polícia goiana contra 80 de Siqueira Campos, que alcançou os fins visados;
Euclides, em Goiás, 350 jagunços contra 150 homens do major Dutra, que realizou os seus fins;
Bom Jardim, em Goiás, 200 homens da polícia de S. Paulo contra 40 do tenente Celestino, sendo os legalistas inteiramente derrotados;
Fazenda Rosalia, em Goiás, 400 homens da polícia de S. Paulo contra 150 de Siqueira Campos, com resultados indecisos;
Ponte do Jaúra, em Mato Grosso, 120 jagunços contra 160 homens de João Alberto, sendo os legalistas destroçados;
Campo Formoso, em Mato Grosso, 250 jagunços contra 150 homens de Cordeiro de Faria, com resultado indeciso;
Praia Rica, em Mato Grosso, 80 homens da polícia de Minas contra 150 de João Alberto, sendo os legalistas destroçados;
Córrego da Estrela, em Mato Grosso, 250 jagunços contra 60 homens do major Dutra, com resultado indeciso;
Pilões, em Goiás, 150 homens do Exército, do 6º batalhão de caçadores contra 150 de Cordeiro de Faria, sendo os legalistas derrotados;
Porto do Solis, em Mato Grosso, 10 jagunços contra 150 homens de João Alberto, sendo os legalistas destroçados;
Colônia dos Tachos, em Mato Grosso, 60 policiais de Minas contra 100 homens de João Alberto, sendo os legalistas destroçados;
Colônia do Sangradouro, em Mato Grosso, 80 policiais de Minas contra 120 homens do major Ary, sendo os legalistas destroçados. Nesta mesma
localidade se deu outro encontro entre 195 policiais de Minas com 250 homens de João Alberto, sendo idêntico o resultado;
Rio das Mortes, 60 homens do Exército contra 100 de João Alberto, sendo os legalistas desbaratados;
Rio Manso, em Mato Grosso, 150 jagunços contra 40 homens de João Alberto, com resultado indeciso;
Pantanal, Mato Grosso, 250 jagunços contra 200 homens de Cordeiro de Faria, sendo os legalistas destroçados.
Os revolucionários sempre lutaram contra a falta de armas e munições e a prova disso é que nos 52 combates e nas escaramuças diárias, durante os
647 dias que durou a marcha da coluna prestes, foram gastos apenas 350.000 tiros, quando só no Iguaçu, em 5 meses, foram disparados mais de dois
milhões de tiros.
Durante a formidável aventura militar, a coluna sofreu apenas uma modificação essencial na sua organização: ela atravessou o Paraguai dividida em
duas brigadas, a Gaúcha, sob o comando de Prestes, e a Paulista, sob a direção de Juarez Távora. Miguel Costa comandava a divisão.
De 15 de julho de 1925, a formação da coluna passou a ser a seguinte:
Comandante de divisão – Miguel Costa.
Chefe do Estado Maior – Luiz Carlos Prestes.
Sub-chefe do Estado Maior – Juarez Távora.
Comandante do primeiro destacamento – Cordeiro de Faria; do segundo – João Alberto; do terceiro – Siqueira Campos; do quarto – Djalma Dutra.
Foram estes homens que os jornalistas de São Paulo e do Rio Grande encontraram em Libres, uns entregues ao comércio, outros às profissões mais
modestas e muitos – os paulistas – à agricultura. A vida que eles ali passam é austera, dura mesmo; descansam dos rudes misteres em que ganham
honestamente o pão de cada dia falando entre si de uma esperança que não morre na sua alma e também de uma preocupação que amarga a sua existência:
como passarão as suas famílias nesse Brasil tão próximo e tão distante, separado deles talvez para sempre, por um rio de águas escuras e por um
homem que tem à palavra anistia a gélida sensação que esfria a espinha dos nervosos.
Affonso Schmidt
Imagem: reprodução parcial da pagina com a matéria