Os pequenos varredores
Pela escura avenida arborizada,
ninguém. Lá para cima,
escuta-se um rumor que se aproxima,
nuvens que rolam pelo chão, mais nada...
Depois, a noite se enche de pavores,
há risos, pragas, uivos;
dançam, ao longe, contra o vento, ruivos
de poeiras, pequeninos varredores.
De ombros estreitos e de faces cavas,
lutam com seus destinos
nas horas em que todos os meninos
dormem e sonham com princesas flavas,
Há entre eles alguns que são precoces,
fumam e bebem. Vários,
transitam para a noite dos ossários,
têm o pulmão comido pelas tosses.
Arrastando o esqualor destas sarjetas,
dirão, olhos em brasa,
que é melhor acabar na Santa Casa
do que viver assim, como os grilhetas.
E lá se vão. A nuvem se adelgaça;
um senhor, na alameda
sem luz, toma do lenço que é de seda,
tapa o nariz, inclina a fonte e passa...
Jardins fechados
Outrora, estes jardins
eram fechados
por venerandas grades de arabescos;
defesa inútil contra os namorados
madrigalescos...
Os logradouros eram
cidadelas
e fortalezas de uma idade morta;
havia guardiães e sentinelas
em cada porta.
- "O povo com seus hábitos
libertos,
não respeita os recantos mais sagrados",
pensava-se. - E os jardins, agora abertos
eram fechados.
Mas, eis que vingam todas
as verdades
que se julgavam meras fantasias:
nossos jardins livraram-se das grades
e dos vigias;
no entanto, antigamente, a sete
chaves,
presas daqueles guardas aguerridos,
seus canteiros não eram tão suaves,
nem tão floridos.
Vendo-os, eu digo aos homens
condenados
que a Terra mudará - ficai bem certos! -
do mais escuro dos jardins fechados
no mais soberbo dos jardins abertos.