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CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA
Lourimar Vieira

Ator, produtor e diretor, criador do Teatro do Kaos em Cubatão, Lourimar Vieira foi tema na seção Entrevista do jornal semanário Metrópole, que circula no Litoral Paulista, na edição de 15 a 21 de julho de 2006:


"Cubatão é um celeiro de grandes artistas. Me sinto honrado em fazer parte desse cenário"
Foto: Giane Ribeiro, publicada com a matéria

LOURIMAR VIEIRA
"O teatro representa a verdadeira arte. A televisão serve para vender a imagem"

Ator, produtor e diretor. Com 25 anos dedicados ao teatro, Lourimar Vieira hoje tem o seu trabalho reconhecido em todo o Brasil. Ele acredita que, em breve, Cubatão vai se tornar o grande pólo cultural da região

Giane Ribeiro

Como você descobriu que tinha vocação para o teatro? Como foi sua trajetória?

Eu não me conformo com os jovens que não sabem o que querem ser profissionalmente. Eu, desde cedo, sabia o que queria ser da minha vida. Sempre fui apaixonado pelo circo e pelo teatro. Ficava maravilhado ao assisti-los na minha cidade. Cheguei a Santos em 1977 e dois anos depois vim morar em Cubatão, na Vila São José. Comecei a trabalhar como patrulheiro. Um dia fui convidado para fazer teatro. Antes, tive como referência a peça Can Can, em 1981, espetáculo em São Paulo, apresentada no Bloco Cultural, em Cubatão, e curti muito. Comecei a atuar na Paixão de Cristo. Em Santos, atuei na peça Bailei na curva, que me deu base para fundar, com o meu amigo, Luiz Carlos Gomes, o grupo teatral Magia da Cidade, de 1986 a 1996. Naquela época, o único grupo do município era o Cotac, que encenava a Paixão de Cristo. Em janeiro de 1997, fundei o Teatro do Kaos com o Ricardo Oliveira e o Marcelo Ariel, com a proposta de um teatro profissional. O primeiro passo foi contratar o Carlos Meceni, que é um profissional que faz novela na Globo e cinema. Ele é o nosso diretor.

Quais foram as dificuldades encontradas até a fundação do Teatro do Kaos?

Muita dificuldade e preconceito. Hoje, está na moda ser ator. Todo mundo quer ver o filho na Rede Globo. Antigamente, o ator era bicha, ladrão, maconheiro, marginal. Os artistas daquela época tinham carteirinha, ou seja, eram tidos como prostitutos. Em Cubatão, não era diferente. Não conseguia nenhum apoio e era tido como marginalizado. Não tínhamos lugar para ensaiar. Como sou obcecado pelo teatro e ele é a minha alma, persisti muito e, graças a Deus, consegui vencer os obstáculos. Se hoje eu sou respeitado do prefeito ao faxineiro da Cidade, é graças ao meu trabalho e à credibilidade que consegui adquirir com o público. Passamos da faixa de 100 mil espectadores. Com a Bela e a Fera, só na rede municipal, fora mais de 12 mil alunos.

Qual foi o seu primeiro trabalho em destaque e qual deles o tornou mais respeitado e conhecido pelo público?

É uma pergunta muito difícil de responder. Eu considero o Magia da Cidade, um trabalho de teatro amador que eu fiz de 1986 a 1996, muito importante. O Caim foi o nosso divisor de águas, mas para a grande massa, foi a encenação Caminhos da Independência, quando eu trouxe para cá, há dois anos, o ator Alexandre Borges. As pessoas gostam de atores conhecidos como o Alexandre, o Nuno Leal Maia. Existe uma visão deturpada do artista. A maioria acha que atores bons são os que trabalham na Globo, e não é. Tem gente que está na Globo só porque é bonita. A arte é diferente.

O que é a arte para você?

A filosofia diz o seguinte: todo o trabalho que conduz a uma finalidade é arte. A mais completa das artes é um conjunto, reunindo artes cênicas, a música, a dança e a arte plástica. Para mim, o teatro é a verdadeira arte. Já a televisão é para vender a imagem e se tornar popular. A arte no teatro é do ator, na televisão é do patrocinador.

Você atua como ator, produtor e diretor. Com qual das três áreas você mais se identifica?

Sempre quis ser ator. Está no meu sangue. Como eu encontrei muitas dificuldades em fazer teatro, eu mesmo comecei a arregaçar as mangas, a produzir e a dirigir. Eu já dirigi mais de 30 espetáculos, mas não me acho diretor. Com a produção é a mesma coisa. Eu enchi muito o saco das pessoas, pedindo ajuda. Hoje, me oferecem ajuda. Muita gente me respeita também como produtor. Já fui premiado nas três áreas.

 

"Antigamente, havia muito preconceito. Os artistas daquela época tinham carteirinha. Ou seja, eram tidos como prostitutos"

 

O Teatro do Kaos é conhecido no Brasil. Tudo começou em Cubatão. Qual a trajetória para tanto sucesso?

Consegui mais de 100 prêmios. Já fiz três temporadas em São Paulo, já viajei pelo interior afora. As notícias correm. Já foi noticiado na TV Gazeta, no Ronnie Von e no programa Altas Horas. O espetáculo A Bela e a Fera vai estrear em outubro ou novembro, em São Paulo. Há também um convite para realizarmos uma temporada no Rio de Janeiro. Sou muito grato à Administração Municipal por acreditar no meu trabalho, no Lourimar, no Teatro do Kaos. Devo grande parte das minhas conquistas ao prefeito Clermont Silveira Castor. Ele me doou uma casa antiga, que eu restaurei, e hoje é a sede do teatro, no Largo do Sapo. Conseguimos mais três terrenos para fazer a Encenação da Independência. E, no final do ano passado, também através dele, o Banespa doou uma verba para comprarmos o circo. Teve prefeito, não vou citar nomes, que me impediu até de usar próprios municipais para ensaiar.

Qual o trabalho que você considera o mais importante?

Um Sonho de Verão foi muito lindo. Até hoje o público me cobra. Mas sempre digo que o meu último trabalho é o mais importante. Hoje é A Bela e a Fera. Sabe o que é chegar em uma escola e colocar mais de 400 alunos sentados no chão e eles ficarem colados, prestando atenção, enquanto o professor se mata para fazer 20 alunos calarem a boca? Isso não tem preço. Na hora que a Bela beija a Fera é um momento mágico. Os alunos explodem de alegria. O melhor hoje é a Bela e a Fera. Amanhã, será O Caminho da Independência.

Como aconteceu a primeira Encenação da Independência?

Eu não tinha grana, aí pedi à Petrobrás R$ 20 mil. Liguei para o Tanah Corrêa, que é o meu amigo de faculdade e pai do Alexandre Borges, para que dirigisse a peça. Falei: olha, só tenho R$ 20 mil, que foram doados, e meu Pálio 0 km para vender. Ele topou. Colocamos no jornal uma foto imensa minha, do Tanah e do Alexandre divulgado o espetáculo. No mesmo dia, a Petrobrás me ligou avisando que iria doar R$ 50 mil. Foi o maior sucesso. O Alexandre realmente é maravilhoso. Eu não acreditei, parecia um sonho. Pegamos credibilidade. O Poder Público gostou tanto que colocou o evento no calendário oficial da cidade e todo ano nos dão uma verba para a Encenação. Vamos para a 5ª edição. Eu só trago pessoas boas como o Alexandre, o Nuno Leal Maia, a Sheila Mello, o Tiago Armani, o Raymundo de Souza e o Juan Alba.

Quais os artistas que estão cogitados para a Encenação de 2007?

Descobrimos que o sucesso está no casal D. Pedro e Leopoldina. Estou cogitando a Sheila Carvalho e o Cauã Raymond, que beijou a Fernanda Montenegro no último capítulo da novela Belíssima. A mulherada vai ficar enlouquecida.

Quais são os seus próximos projetos?

Eu estou com um projeto em que todo mês vou oferecer à comunidade espetáculos de São Paulo e do Rio de Janeiro para a popularização do teatro com um preço simbólico, no valor de R$ 1,00 a R$ 2,00, no máximo. Desde 1998 eu trabalho fazendo teatro nas escolas. É muito difícil em Cubatão ter um adolescente que não tenha visto uma peça minha. Vou continuar levando o teatro, que é muito bom, para a cultura dos alunos. Já apresentamos o Pinóquio, o Guarani e a Bela e a Fera. Em janeiro de 2007 eu devo montar Romeu e Julieta com a participação do grupo Rinascita para o aniversário da cidade.

Qual é o conselho para quem quer seguir a carreira do teatro?

O teatro é uma arte que exige muita dedicação e trabalho. É muito difícil e complicado. Já passaram comigo mais de 800 pessoas, e poucas foram as que ficaram. Por isso, só fazendo um curso, atuando em uma peça, que a pessoa vai perceber se é isso mesmo que ela quer. Se tiver a certeza, corre atrás, procura fazer cursos. Sempre tem que estar se aprimorando, só a faculdade de Artes Cênicas não é o suficiente. Eu faço, uma vez por semana, curso em São Paulo com Chico de Assis, que é o grande mestre dos artistas brasileiros. Vale muito a pena. Eu agradeço a Deus por ele ter colocado o teatro na minha vida. Eu casei com o teatro. Ele é o meu companheiro, a minha razão. Se eu consegui chegar até aqui, qualquer um pode chegar.

Qual será o futuro de Cubatão da área cultural?

Afonso Schmidt sonhou que Cubatão seria um grande pólo cultural da região no ano de 2029. Na minha opinião, ele foi um profeta. O município está progredindo muito. Temos o coral Zanzalá, o grupo Rinascita, a banda sinfônica, a banda marcial, o grupo de dança do conservatório e grandes músicos. Cubatão é um celeiro de grandes artistas e eu me orgulho desse cenário. Eu quero que a cultura de Cubatão seja respeitada na Europa. Quero levar os meus espetáculos pra lá e não está longe disso acontecer. Eu estou fazendo tudo com muito amor. Estou plantando, pensando no amanhã. E quem planta com amor, sem egoísmo, consegue alcançar. Essa é a filosofia que eu tenho de vida, de trabalho e para Cubatão.


"Devo grande parte da minha conquista à atual administração por acreditar no meu trabalho"
Foto: Giane Ribeiro, publicada com a matéria

QUEM É
Ator, produtor e diretor de teatro, Lourimar Vieira é de Piauí. Chegou a Cubatão em 1979 e é formado em Artes Cênicas pela Fundação Lusíada. Com 25 anos dedicados ao teatro, Lourimar se tornou conhecido em todo o Brasil e recebeu mais de 100 prêmios: como melhor ator (Santos, Itu e Campinas); melhor produtor (Itu e Cubatão) e melhor diretor (Campinas). Foi também indicado como melhor ator no Festival Estadual de Marília/SP. Encenou mais de 30 peças de grande sucesso, entre elas Caim, A Aurora da Minha Vida, Um Sonho de Verão, Pinóquio, A Bela e A Fera e Caminhos da Independência.


No povoado de Sabiá, no Piauí, a casa em que nasceu Lourimar Vieira, por ele visitada em 1994
Foto divulgada pelo autor na rede social Facebook (acesso: 27/8/2013)