CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA -
O "Vulcão"
Martins Fontes (2)
Lembrando um dos apelidos do poeta, que foi colaborador
ativo da entidade, a Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio (SHEC) de Santos registrou, na publicação Humanitária 80
Anos - 1879-1959 - Edição Especial, comemorativa do seu 80º aniversário:
Martins Fontes: o poeta "Vulcão"
Durante longos anos o dr. José Martins Fontes - o "Zezinho" - diuturnamente
estava nos salões e corredores da Humanitária. Como médico, atendia a todos, sem fazer distinção. Poeta admirável, freqüentava a biblioteca.
Decorridos tantos anos da morte do consagrado autor de "Verão", sente-se ainda o eco
de sua voz pelas salas e corredores do edifício social... É que Martins Fontes viveu com a Humanitária. Foi um dos seus grandes filhos. Sua presença
diária dava vida diferente à Biblioteca. Sua palestra encantava. Seu coração generoso pulsava nos mesmos anseios das Humanitária: a prática do bem.
Em 1937 a Humanitária perdeu seu concurso. A morte o levou. Todavia, até hoje, para
todos que constituem a família da Humanitária, "Zezinho" Fontes está presente. O seu espírito bondoso continua imperando nesta casa.
Nesta casa ele foi o continuador da tradição de trabalho desinteressado que teve um
exemplo inesquecível na pessoa de seu progenitor (N.E.: na verdade, genitor), o dr.
Silvério Fontes, também ilustre facultativo, que muito honrou o quadro clínico da Humanitária. Com essa nobre figura de varão de Plutarco, ele
aprendeu a fazer da Medicina o meio mais prático de distribuir o Bem, com generosidade nunca desmentida.
Martins Fontes, santista sempre atento às glórias da sua terra, tornou-se genuíno
representante de todas as virtudes espirituais da sociedade em que viveu. Ante sua memória fulgurante, a Humanitária, que ele tanto estimou,
inclina-se, com respeito, na homenagem destas palavras singelas.
Martins Fontes, o poeta "Vulcão"
Foto publicada com a matéria
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Um resumo biográfico foi publicado no terceiro volume da obra conjunta História de Santos/Poliantéia
Santista, de Francisco Martins dos Santos/Fernando Martins Lichti (Santos, 1996):
SÍNTESE ANTOLÓGICA DOS POETAS DE SANTOS
Martins Fontes
José Martins Fontes nasceu a 23 de junho de 1884, em Santos, e faleceu a 25 de junho de 1937. Médico formado pela Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro. Membro correspondente da Academia Ciências de Lisboa. Poeta, conteur, ensaísta, cronista, conferencista, tradutor
e teatrólogo.
Bibliografia: "Um manifesto socialista" (de parceria com seu pai Silvério
Fontes, 1899); "O Acre" (1908); "Verão" (versos, 1917); "Granada" (poema, 1899); "A gripe em Iguape" (1920); "A transformação das classes
parasitárias em classes produtivas" (estudo social, 1920); "Boêmia Galante" (versos, 1920); "Arlequinada" (fantasia, 1922); "As cidades eternas"
(versos, 1923); "Rosicler" (versos, 1923); "Marabá" (versos, 1923); "Prometeu" (versos, 1924); "Pastoral" (versos, 1925); "Partida para Citera"
(teatro, 1925); "Volúpia" (versos, 1925); "Decameron" (contos, 1925); "Vulcão" (1926); "O céu verde" (versos, 1926); "Scheherezade" (1927); "A fada
Bombom" (versos, 1927); "Escarlate" (versos, 1928); "O Colar Partido" (crônicas poéticas-biográficas, 1927); "Santos" (conferência, 1925); "A flauta
encantada" (poesias, 1931); "Paulistânia" (poesias épicas, 1934); "Terras da Fantasia' (poesia, 1933). Obras póstumas: "Indaiá" (poesia, 1937);
"Calendário Positivista" (poesias, 1938) e mais algumas dezenas de obras poéticas, teatrais, crônicas literárias, médicas e filosóficas.
Todos Cantam Sua Terra |
Paulista eu sou, há quatrocentos anos!
Imortal, indomável, infinita,
dos mortos de que venho, ressuscita
A alma dos Bandeirantes sobre-humanos.
Tenho o orgulho dos nossos altiplanos,
tenho a paixão da gleba circunscrita.
Quero morrer, ouvindo a voz bendita
Dos pausados cantares paulistanos.
De minha terra, para minha terra,
Tenho vivido. Meu amor encerra
A Adoração de tudo quanto é nosso.
Por ela sonho num perpétuo enlevo,
E, incapaz de servi-la quanto devo,
Quero ao menos amá-la quanto posso.
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Poema publicado no jornal santista A Tribuna, em 26 de março de 1964:
Canção Praiana |
As praias paulistas são lindas, tão lindas
que em sua beleza não têm similar...
São plainos unidos, são curvas infindas,
Frutais solitários, à beira do mar...
Tais quais avenidas, velódromos, pistas
Se estendem por léguas e léguas além...
E a todos assombram as praias paulistas,
Por serem tão alvas, tão firmes também...
Ilhéus espaçados, rochedos sombrios,
Por entre nuvens de escuma e crespão...
E, ao longe, cruzando-se, os grandes navios
Que vêm da Argentina, que vão ao Japão...
A areia alvadia suspende-se em rampas,
Circunda coqueiros, em filas sem fim...
Formando desenhos, floridas estampas,
Marinhas argênteas, painéis de marfim...
Pitangas, ameixas, uvalas, amoras,
Cajás, carambolas, cajus, cambucás...
Que praias alegres, que praias sonoras!
Que abios famosos, que bons araçás!
Conheço estas plagas: por isso asseguro
Que, em sua opulência, pujança imortal,
As virgens riquezas do nosso futuro
Estão em São Paulo no seu litoral!
Não passa viv'alma... Silêncio profundo...
Palmeiras douradas, cercando a Matriz...
E a gente praiana, bem longe do mundo,
No sono da vida seu sonho bendiz!
Se as tardes são belas, as noites inspiram,
Por tanto mistério que faz delirar...
Desfolham-se estrelas, as flores suspiram,
As plantas se beijam, noivando ao luar...
Oh! dêem-se os nomes de sábios, de artistas,
De poetas e santos, do nosso fervor,
Às altas montanhas, às praias santistas,
Onde há tangerinas de um raro sabor!
Feliz, nestas largas, longuíssimas praias,
Sorrindo, brincando foi que eu me criei...
Dormindo entre avencas, murtais, samambaias,
Como os pescadores do Porto-do-Rei...
Canoas imensas de nomes galantes:
- A Flor das Queimadas! A Flor do Farol!
E as redes de arrasto, depois das vazantes,
Secando estendidas, com as malhas ao sol...
Vivi nestas praias... Espero que, um dia,
Aqui me sepultem, me deixem ficar...
Exposto, desnudo, como eu bem queria,
Num seio de areia, defronte do mar...
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