No programa de estréia de Fando e Lis, a vanguarda e a criatividade
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Patrícia, Pagu, Pat...
"... tenha até pesadelos se necessário for, mas sonhe"
(de carta escrita por Pat a Lúcio Menezes)
Edição: Ana Maria Pereira Sachetto
Fotos: Arquivo
A par de seu amor pela literatura - sua produção é aqui
muito bem analisada por Roldão Mendes Rosa -, uma das grandes paixões de Patrícia Galvão foi o teatro. Em Santos, ela lutou pela criação de um
teatro municipal, pela aglutinação dos amadores. Talvez a partir dela o movimento teatral amador de Santos tenha crescido para atingir um dos pontos
mais altos de sua história, apesar de hoje nem de longe lembrar esse período de ouro, conforme diz em seu artigo o dramaturgo
Evêncio da Quinta.
Já nos seus últimos anos de vida, janeiro de 59, Patrícia descobriu Arrabal. Sobre
ele, escreveu em Palcos e Atores, suplemento nº 96 de A Tribuna, sob o título Na Vanguarda da Dramaturgia, o Teatro de Arrabal:
"... E surge-nos um nome, simples, mas de musicalidade permanente: Arrabal. Encontramos o seu recueil de quatro peças numa das livrarias da
Paulicéia. Muito pouca gente sabe quem é esse espanhol de 25 anos, escolhido severamente por Maurice Nadeau para a sua coleção Les Lettres
Nouvelles, editada por Julliard, em Paris".
Pois foi em torno da figura de Arrabal que Pagu acabou reunindo alguns nomes
que até hoje se destacam nas artes santistas, a maioria relacionada com o teatro, outros em meios diversos de expressões artísticas. Patrícia
estava, nesses últimos anos de vida, muito ligada a Santos. Companheira de Geraldo Ferraz, haviam aqui fixado residência, e foi nessa época que ela
anunciou, em 30 de agosto de 59, também em Palcos e Atores, suplemento nº 127, a preparação do espetáculo de Arrabal, Fando e Lis.
Pagu traduziu o texto "para experimentar a montagem possível, a interpretação através de um grupo", e atraiu vários santistas para um trabalho
que visava à estréia mundial, em Santos, de Fando e Lis.
Assim, a 31 de outubro de 59, o Grupo Experimental de Teatro GETI - dirigido por
Pagu e Paulo Lara - apresentava Arrabal no II Festival Regional do Teatro Amador de Santos. A peça conquistou quatro prêmios e três menções
honrosas e Geraldo Ferraz escreveu em A Tribuna, edição de 1º de novembro: "Até onde estou informado, trata-se de uma première mondiale,
o que não é de espantar porque se trata mesmo da aventura em grande escala, essa aventura à rebours da ordem estabelecida, da tranqüilidade
do rebanho".
Esse acontecimento na vida artística da Santos de 1959 é muito bem lembrado, até hoje,
por todos quantos estiveram envolvidos na "aventura em grande escala". São algumas dessas pessoas que agora prestam seu depoimento sobre Patrícia,
todas lembrando-se muito bem da figura de Pagu, da sua importância como personalidade renovadora, apesar de se encontrar já no término de sua
vida. Mais do que isso, essas pessoas dedicam um carinho muito especial à memória de Pagu.
Que falta que tu fazes...
Evêncio da Quinta
E já lá se vão vinte anos. O que a princípio foi um espanto mudo, transformou-se em saudade doce e agora é
memória feliz. Estes vinte anos pertencem à lembrança de Patrícia Galvão. De lá para cá, isto é, desde o dia de sua morte, o que de início
parecia tornar-se uma lembrança viva apenas entre amigos saudosos está-se agigantando e transformando nossa amiga numa espécie de mito.
Escrevem-se peças de teatro sobre ela, cita-se seu nome em filmes e livros, aliás escreve-se um livro inteiro sobre ela. Portanto, a lembrança
de Patrícia não é mais exclusiva da sua turminha de teatro. É um patrimônio paulista e nacional.
É curioso pensar nela como um patrimônio. Patrícia simplesmente abominava os patrimônios. Ela era a favor da
revolução permanente e achava que o que era velho devia ser arquivado. Pois no que se refere à sua pessoa, que hoje estaria com respeitáveis
setenta e tantos anos, ela não foi de modo nenhum arquivada. Viveu e espalhou sementes, e neste ponto cabe a pergunta: e o que foi feito destas
sementes? Germinaram?
Algumas sim, outras não. Há sempre uma margem de fracasso implícita em qualquer tentativa. De qualquer modo, é
penoso constatar que o movimento teatral que ela inspirou e liderou está hoje virtualmente morto. Morto, não, que estas coisas não morreram, mas
está abúlico por falta de quem o faça andar de novo. Da velha turma, alguns se profissionalizaram e mergulharam no limbo da obscuridade, que a
arte nem sempre traz a fama consigo, embora esta seja o sonho principal de quem faz da arte sua ferramenta de trabalho. Outros simplesmente
abandonaram tudo, por cansaço, desfastio ou desencanto, ou tudo junto. Outros mais atingiram um ponto ótimo de popularidade e parecem agora não
saber o que fazer com ela.
Enfim, para ser franco, o movimento esfacelou-se e o que se vê, hoje em dia, é uma cidade prenhe de
potencialidades completamente estanque, sem fazer nada, sem criar nada, sem emocionar-se com nada, graças aos caldeiras e barbosas da vida
(N.E.: Carlos Caldeira Filho e Paulo Gomes Barbosa,
prefeitos nomeados para Santos pelo governo federal), que nos foram impingidos e aqui chegaram sem saber que esta cidade era, nos tempos
de Patrícia, uma verdadeira fornalha criativa, que transbordava de vitalidade e nos fazia pensar alegremente que vivíamos numa espécie de Atenas
tropical, onde em cada esquina podia-se encontrar um autor pensando na sua próxima peça, ou um diretor imaginando o próximo sucesso da
temporada. As outras artes eclipsavam-se diante do furacão que a turma do teatro armou, mas mesmo assim vicejavam e competiam. Vivia-se, então,
a festa permanente do espírito.
De repente, parece que tudo terminou. Por falar nisso, por onde anda a orquestra sinfônica municipal? Depois
que o maestro tornou-se funcionário público, a coisa simplesmente degringolou. Com o afastamento dos antigos - aliás, afastamento imperioso,
ditado pelo tempo de serviço e necessidade de reciclagem - a arte em Santos conheceu tempos ominosos, onde qualquer parvenu achava-se
capacitado a dirigir uma peça de teatro. O resultado, naturalmente, só poderia ser traduzido por palavras impublicáveis.
Patrícia, precisavas ter visto o último festival de teatro amador feito cá na terrinha. Já não sei nem em que
ano foi, só consigo me lembrar do Hamlet entrando em cena carregando a caveira como se fosse uma bola de futebol. Nem tua boa vontade
multiplicada por 10 ou 20 conseguiria salvar esta gente da mediocridade enfatuada em que mergulharam. Em suma, tua escola, teu esforço, teu
carinho ficaram mesmo para os teus contemporâneos, que hoje vêem maravilhados a tua transformação em figura histórica.
Há quem atribua a decadência do teatro em particular, e das artes em geral, à inflação. Está tudo muito caro,
dizem, e é parcialmente verdadeiro. Claro, neste país meio ensandecido muita coisa tem que ser posta de lado por causa das artes maiores do
gordo sinistro (N.E.: na época, o corporal e politicamente avantajado ministro da Economia era Delfim Netto), mas
isto não desculpa o marasmo e a falta de entusiasmo, principalmente dos estudantes, que há 20 anos eram uma das colunas mestras do movimento.
Dizem - não sei ao certo porque não freqüento as escolas - que nem mesmo estudar os estudantes querem. Eles,
como muita gente boa, estão mesmo é a fim de ficar vendo a banda passar. No vazio formado entre tua morte e o momento em que escrevo este
desabafo, surgiu uma formidável geração de espectadores. Espectadores para tudo: desfiles de carnaval, corridas de Fórmula-1, futebol
(ultimamente também em fase de descrédito), vôlei (em grande alta), festivais de música popular e até, eventualmente, uma peça de teatro. Desde
que seja boa, naturalmente.
Eu gostaria de saber o que pensas do teatro atual. Lógico, com tua condescendência certamente irias achar tudo
maravilhoso, porque o teu maior defeito era exatamente este: todos eram lindos e belos, desde que estivessem mergulhados na aventura do teatro.
No teu entender, o teatro tinha o poder mágico de absolver a pessoa de suas faltas.
No entanto, os que conviveram contigo adquiriram senso mais crítico e menos - digamos assim - maternal para as
coisas. Alfredo Mesquita, que cometeu a proeza de fundar e dirigir a Escola de Arte Dramática, herdeiro de tua biblioteca, portanto pessoa que
vivia num canto de teu coração, simplesmente passou a Escola para a USP, recolheu-se à sua fazenda e não quer nem mais ouvir falar em teatro.
Para ele, o que se faz atualmente não é teatro, pelo menos não o teatro que ele entende e ensinava. Por isto, como tantos outros daquele tempo,
prefere retirar-se, sair de lado e deixar que os que chegam façam do modo como melhor souberem.
Enfim, minha cara Pati (este apelido o Augusto de Campos não registrou no seu livro sobre Patrícia) está
fazendo falta. Curioso: ela não representava, tentou escrever alguma coisa e não chegou a terminar, não dirigia, não projetava cenários nem os
pintava. Sentava-se na platéia, durante os ensaios, e incentivava. Era o que ela sabia fazer de melhor no teatro: incentivar com palavras, com
artigos, com sua simples presença. É isto aí. A luz não nos conduz pelo caminho. A luz apenas indica o caminho, clareia a trilha e mostra onde
está a pedra. O resto, tem que ser por conta de quem caminha. |
Patrícia adolescente e bonita
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José Greghi Filho, premiado autor teatral para a
infância, juventude e público adultos, até hoje residindo e trabalhando em Santos, foi um dos que mantiveram íntima convivência com Pagu nos
seus últimos três anos de vida: "Pelas suas mãos subi ao palco e tudo que de teatro aprendi, tive-a como mestra. Juntos descortinamos os complexos
caminhos da arte com toda a sua magia".
Não era, no entanto, a época de ouro do teatro amador santista: "Isso viria mais
tarde, como conseqüência de todo um trabalho que tinha em Patrícia uma precursora. A ela devemos informações de que carecíamos sobre o teatro de
vanguarda. A estréia mundial de Fando e Lis, aqui em Santos, foi realmente um marco na nossa história de teatro. Nessa época - fins da década
de cinqüenta - paralelamente despontavam outros trabalhos liderados por Evêncio da Quinta, Paulo Lara, Faraco, Leituga, que juntamente com Patrícia
davam seqüência ao trabalho iniciado em 50 por Newton e Itacy de Souza Telles, que haviam fundado o Teatro dos Estudantes, culminando com Carlos
Pinto, já na década de 70, que através das Federação e Confederação de Teatro Amador, elevou o teatro santista a nível nacional".
Os reflexos dessa época no teatro amador santista da atualidade são assim analisados
por Greghi FIlho: "Agora, em oitenta, é um pouco difícil de supor que o teatro santista já teve um lugar de destaque no panorama teatral
brasileiro". O autor diz que, de repente, houve o silêncio. As razões que levaram o nosso teatro a uma quase estagnação são múltiplas, e ele pode
ser comparado a uma árvore podada, mas não morta: "Em época propícia, voltará a se desenvolver e florir com maior força, e então provaremos que todo
um trabalho desenvolvido não foi em vão".
Greghi acredita até que isso já pode começar a ser verificado, com a recente montagem
de Curso de Amor por Wilson Geraldo, Cida Celestino e Adolfo Andrade, com o apoio de Nélia Silva: "São forças maiores, que chamamos de velha
guarda. Em Guarujá, estreou um texto de Perito Sampaio, contando também com elementos representativos de nosso teatro. E há ainda a considerar que,
durante esse período de quase estagnação, o GAL, o Tecas e o Força Atuante não deixaram a chama se extinguir. Com o retorno à ativa da velha guarda,
aliado ao trabalho desenvolvido por esses grupos jovens, verificamos que a herança deixada por Patrícia e outros mais, não se perdeu. A árvore
começa a florir...".
Mas a par de toda essa colocação sobre teatro amador santista, Greghi Filho fala
especificamente de Patrícia e do que ela representou para o Brasil em termos de gente e cultura. E reconhece que não é uma tarefa fácil: "Possuidora
de uma incrível versatilidade, vasta bagagem e imenso potencial, torna-se muito dificultoso enfocá-la sobre um só aspecto".
Por isso, Greghi prefere falar sobre o aspecto pessoal, sobre a Pagu gente, a figura
com a qual conviveu: "Estive com ela diariamente nos seus últimos três anos de vida. Juntos viajamos, participamos de festivais, conferências,
debates etc... Era uma criatura tão incrível, que não raro me surpreendia. Sensível, de aparência frágil, às vezes ingênua e criança na sua forma de
ser".
Por isso, era difícil para Greghi enfocá-la como líder política de esquerda, a "famosa
Pagu, que diversas vezes enfrentara forças policiais. O pouco que sei sobre suas atividades políticas, foi-me contado por terceiros. Ela nada
me dizia a respeito, e quando eu insistia, seu olhar tomava uma expressão de tristeza e mudava de assunto. Cedo compreendi que havia um passado
tremendamente marcado por sofrimentos".
Quase todas as noites, Patrícia e Greghi se encontravam e, depois de uns rabos de
galo no já extinto Bar Regina ou na casa de Pagu, ela se punha a falar de teatro: "Eram verdadeiras aulas. Pacientemente me explicava o
que acontecia no mundo em termos de teatro. Através dela conheci Ionesco e seu teatro do absurdo, Arrabal e suas propostas. Descortinou para mim o
maravilhoso mundo da filosofia e a sua aplicação no teatro.
Patrícia dissecava Sartre e suas obras com incrível propriedade e orientou Greghi
profissionalmente para essa área: "Ela tinha o dom de descobrir a beleza das coisas nas coisas mais simples, como simples que era. Morreu sem perder
a capacidade de sonhar que só os seres iluminados possuem. Muito aprendi com Patrícia Galvão ou Pagu, como quiserem. O que dela culturalmente
herdei, procurei transmitir com a mesma seriedade com que recebi. Muitos amadores passaram pelas minhas mãos. Alguns se profissionalizaram, outros
tomaram rumos diferentes. Sofredini, Carlos Pinto, Jonas Mello, Carlinho Silveira, Serafim Barreiros podem muito bem dar
testemunho disso, pois de uma certa forma, são herdeiros dessa criatura incrível, humana, humilde, plena de amor pelo próximo, chamada Patrícia
Galvão.
Em Santos, por volta de 1928
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Durante alguns anos, Paulo Lara atuou em Santos, sempre
ligado ao teatro amador, emprestando seu talento e sua arte às causas de sua Cidade. Mais tarde, como todos os que desejam profissionalizar-se no
meio teatral, não escapou à regra: foi para São Paulo. Hoje, é nome respeitado também na crítica especializada, colaborador efetivo de grandes
órgãos da imprensa e membro da Associação Paulista de Críticos Teatrais. Lara lembra-se bem da situação artística e cultural de Santos na época da
montagem de Fando e Lis, que ajudou a dirigir.
Ele não acha que, numa sociedade democrática, seu desenvolvimento cultural se
estabeleça por um fato isolado: "No fim dos anos 50, Santos se configurava como uma das cidades mais politizadas do País, de onde emergiam
reivindicações trabalhistas contornando figuras políticas a nível nacional. A cultura, por sua vez, já se estabelecia por meio de alguns pontos
promissores. Havia, por exemplo, a atuação do Clube de Arte, que desenvolvia um trabalho mais arrojado. Em meio a tudo isso, Patrícia Galvão e
Geraldo Ferraz chegavam a Santos. Ele, como secretário de A Tribuna, ela como articulista no mesmo jornal, onde iria se firmar como
indiscutível incentivadora do teatro em particular e das artes em geral".
Lara lembra-se que foi através dela que os amadores se aglutinaram criando a União do
Teatro Amador de Santos, da qual Patrícia foi a primeira presidenta: "Seu prestígio no âmbito cultural do País contribuiu muito, atraindo para
Santos o mais importante evento cultural vivido pela Cidade em todos os tempos: a realização, em 59, do 2º Festival Nacional de Teatro de
Estudantes, criado pelo embaixador Paschoal Carlos Magno e que colocou diante dos olhos dos amadores locais um leque alternativo das tendências do
teatro que se fazia nos quatro cantos do País. Para se ter uma idéia da importância desse encontro, que reuniu mais de 1.200 amadores, dele
participaram nomes como José Celso Martinez Correia, Etty Fraser e Renato Borghi, do Teatro Oficina; Odavlas Petti e Aracy Balabanian, da Escola de
Arte Dramática, e Carlos Miranda, atual elemento de cúpula do Instituto Nacional de Artes Cênicas".
Para Paulo Lara, Patrícia foi, em tudo isso, o elo importante que interligou em termos
culturais Santos ao resto do País, mostrando caminhos. "Foi levado por suas mãos que penetrei na insólita e recente atmosfera do teatro do absurdo,
travando conhecimento com obras então desconhecidas, mas que propunham novas opções no campo da dramaturgia e da encenação. Fando e Lis, que
dirigimos conjuntamente, serviu para lançar Fernando Arrabal na América Latina".
Lara concorda que depois do falecimento de Patrícia muita água rolou: "Um ano e meio
depois, chegava uma revolução que iria marcar profundas mudanças no espírito político, cultural e artístico do País. E Santos, por sua atuação e
desenvolvimento, foi uma das cidades mais atingidas, perdendo uma autonomia em vão reclamada até hoje. O Centro dos Estudantes, que na época dava
grande ênfase ao teatro, teve seu patrimônio invadido e retalhado. Os fatos juntaram-se, criando-se distorções e mutações sensíveis no aspecto
cultural da Cidade".
Alguns nomes transferiram-se para a Capital, "como Plínio Marcos, para conquistar uma
fama que não é desconhecida por ninguém". Outros permaneceram, como Paulo: "Mas só até 68, tentando a criação de um núcleo cultural. Infelizmente,
sem apoio do então prefeito Sílvio Fernandes Lopes, a iniciativa morria 18 meses depois. Por aí se vê que a Cidade não conseguiu atingir a imagem
cultural alcançada nos últimos cinco anos em que Patrícia Galvão viveu em Santos. Seu teatro amador, hoje, nem de longe polariza as atenções, como
antigamente".
Mas Paulo volta à figura de Patrícia, declarando que conhecê-la de perto foi um dos
privilégios que a vida lhe ofereceu. Eles foram companheiros de longos bate-papos noite a dentro, alternando-se entre uma mesinha do ex-restaurante
São Paulo, quando chovia, e o bar que existia anexo ao Cine Atlântico, nas noites quentes. O assunto era sempre o mesmo: teatro. As discussões, ora
calmas ora acaloradas, serviam para aguçar a observação crítica e autocrítica do grupo.
Paulo lembra-se de Patrícia como uma mulher feita de contrastes: "Decidida e forte,
era ao mesmo tempo meiga e terna. Embora amasse seus amigos, não era possessiva nem paternalista. Talvez esse ponto de identificação de
personalidade tenha sido a razão principal da grande amizade que nos unia. Quando ela morreu, preferi não ir ao enterro. Durante uns momentos tentei
me comunicar com ela, onde ela estivesse. Depois, guardei a sua lembrança, viva até hoje". |