Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/cultura/cult003a.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 11/03/07 16:28:23
Clique na imagem para voltar à página principal
CULTURA/ESPORTE NA BAIXADA SANTISTA - LYDIA
Lydia Federici (1)

Leva para a página anterior

Esta matéria foi publicada em 3 de junho de 1994 no jornal santista A Tribuna:

Lydia Federici morre aos 75 anos, de enfarto

A jornalista Lydia Federici, que atuava em A Tribuna desde 1939, morreu ontem, em conseqüência de enfarto. O velório está sendo realizado no salão nobre da Santa Casa. Ontem, por volta das 15 horas, ela enviou para a Redação, por fax, sua última crônica, "Solidão", que está publicada na página C-3

Lydia Federici escrevia desde 1939
Foto: arquivo, publicada com a matéria

Morre a cronista Lydia Federici

Da Editoria Local e da Pesquisa

A jornalista Lydia Federici, que atuava em A Tribuna desde 1939, morreu ontem, por volta das 18 horas, em conseqüência de enfarto, quando cuidava do jardim de sua casa. O velório está sendo realizado no salão nobre da Santa Casa de Santos e o sepultamento acontece hoje.

Ainda ontem, por volta das 15 horas, Lydia entrou em contato telefônico com a Redação, avisando que acabara de enviar, por fax, a crônica intitulada Solidão. O texto está publicado hoje na página C-3.

Carreira - Jornalista e economista, Lydia Federici nasceu em São Paulo, em 16 de abril de 1919, mas veio para Santos com apenas um mês de idade. Começou sua carreira em A Tribuna comentando esportes em 1939, quando lançou a coluna Quando elas voleibolam.

Publicou sua primeira crônica para a coluna Gente e Coisas da Cidade em dezembro de 1961. Lydia também escreveu crônicas esportivas para outros jornais, tendo participado de 14 entidades esportivas e cívicas, como diretora ou membro do conselho.

Campeã - Na década de 40, foi uma figura de destaque no esporte santista. Começou praticando vôlei e, levada para uma pista de atletismo dois meses depois do primeiro treinamento, foi campeã no arremesso de disco da Taça Ademar de Barros. Mas uma contusão no joelho afastou-a das pistas.

Em 1976, junto com amigos, criou o Grupo Andarilhos do Enguaguaçu, entidade ecológica da Cidade. No dia 5 de outubro de 1988, recebeu o título de Cidadã Santista, na Câmara de Santos.

Nesses 55 anos em que escreveu em A Tribuna, Lydia conquistou a fidelidade de inúmeros leitores. Ainda ontem à noite, muitos deles telefonaram para a Redação para confirmar a notícia de sua morte.


Lydia Federici
Foto: arquivo, publicada com a matéria

GENTE E COISAS DA CIDADE

Solidão

Lydia Federici
Colaboradora

Conto-lhe um caso de repentina solidão. Você imaginará outros. Que há, nesta terra de umas quinhentas mil pessoas, muitas que, de repente, ficam sós. E sentem o vazio que esse isolamento e solidão lhes podem trazer à vida.

Vamos lá, então:

Ela fora casada. Fora é passado. A ausência do marido, no entanto, não a deixara só. O casamento fora abençoado com o nascimento de uma filha. Criaturinha muito amorosa. Assim, mãe e filha, morando juntas, se faziam companhia. Solidão: Nem sabiam o que fosse.

A menina cresceu, ficou moça. Enamorou-se. Ela e o rapagão casaram-se.

Mas estava escrito que a avó do nenê nascido dessa união não teria, por muito tempo, a companhia da nova família. Sua filha, num dia de muita tristeza, também desapareceu do mundo dos vivos. E aconteceu que, na sua falta, a nenezinha acabou ficando aos seus cuidados. Aos cuidados de uma avó muito responsável e amorosa. Sozinhas as duas, uma fazia companhia à outra. Nada do vazio ou das agulhadas de uma vida passada a sós, entende?

Foi só quando a garota, atingindo os dezesseis ou dezessete anos, obteve uma bolsa de estudos no estrangeiro, que a avó se sentiu verdadeiramente só. Não em inútil solidão. Que ela tinha a companhia dos livros. Com que preenchia, em casa, as horas livres. Em outras horas, freqüentava a faculdade para os idosos.

Nesses momentos não se sentia tão isolada assim, sabe? Mas não gostava, nada, nada, desse jeito de viver.

Como pergunta, amiga? Se ela e a neta não se correspondiam. Se não se telefonavam? Claro que sim. Mas isso não é a mesma coisa que ter a presença de outrem ao lado, pense um pouco!

 

"Adoraria ter novamente alguém à mesa, com quem conversar. 
A quem desejar bom dia"

 

Aí, um casal amigo, encontrando-a no Gonzaga, parou. Para bater um ligeiro papo. A avó falou da neta. Perguntou para onde os dois iam indo. Com todos aqueles livros sob os braços. Estariam de mudança?

Provisória, sim. Veja: estavam dedetizando sua casa. Iam dormir, então em hotel.

Eram amigas íntimas, sabe? Desde os primeiros tempos de estudos. Que bobagem era aquela de passar uns dias em hotel, se tinham todos os quartos e salas da amiga provisoriamente só, vazios? À disposição?

"Não queremos incomodar, querida. Nem tirar a privacidade que sempre você tanto defendeu. Em encontros passados, lembra?

Ah! Mas agora era diferente. A casa encontrava-se praticamente vazia. Com a neta longe. E ela, sem ninguém ali, para fazer-lhe companhia. Por que não dividir?

"Venham quebrar a solidão que estou suportando. Venham alegrar minha casa. E a mim". Acabaram concordando.

Então, para o café da manhã seguinte, a anfitriã voltou a pôr em uso a louça bonita que havia tempos, guardado. Preparou "aquele" desjejum! E principalmente, segundo confessou, para quebrar qualquer escrúpulo da amiga e marido, adorara ter novamente alguém à mesa. Com quem conversar. A quem desejar bom dia! De quem receber, num abraço amigo, um bom dia caloroso.

Dividira a casa, sim, com amigos, mas, apenas por um pouco de tempo, o necessário para impedir a intoxicação pela dedetização. E, no fim, ficaram todos pensando. Inclusive os beneficiados. É uma pena que gente só, que sente a solidão, não descubra o que, em amizade, e trocar, se podem dar e que a humanidade, onde vivem muitos penando sua solidão, não descubra o bom desses encontros, não?

Pois é!

Leva para a página seguinte da série