CAPÍTULO
2 Contextualização
2.1. O crescimento
da cidade de Cubatão (SP) e suas conseqüências
O desenvolvimento
econômico de Cubatão pode ser dividido em três grandes
períodos (GUTBERLET, 1996). Até a segunda metade do século
XIX, a subsistência de Cubatão estava centrada na sua função
portuária, sendo o elo entre a Baixada e o Planalto Paulista - Fase
Colonial. Mas, devido à construção da estrada de Ferro
Santos-Jundiaí, a região entrou em franco declínio,
uma vez que a ferrovia absorveu grande parte do transporte de produtos
e, dessa forma, a agricultura (com o cultivo de banana), assim como a extração
de areia e pedras, se tornaram as fontes de renda para a cidade (BORGES
et
al, 2002).
Em seguida,
segundo Gutberlet (op cit.) e Borges et al (op cit.), dá-se
início à Fase Inicial de Industrialização,
com a construção de indústrias de processamento de
matérias-primas e a expansão da infra-estrutura com os recursos
advindos da exportação do café.
Nesta fase,
destacam-se a Cia. Santista de Papel, a Cia. Anilinas de Produtos Chímicos
do Brasil e a construção da Usina Henry Borden pela São
Paulo Light S.A. - Serviços de Eletricidade (BORGES et al,
op
cit.).
Vantagens na
localização, como a proximidade do porto, a abertura de estradas,
a possibilidade de obtenção de energia hidrelétrica,
a existência de madeira para queima, de rios para o abastecimento
e o lançamento dos detritos, e de terra para uma eventual expansão
futura, foram decisivos para os primeiros assentamentos e para todos os
investimentos que se seguiram no setor industrial de Cubatão (GUTBERLET,
op
cit.).
Posteriormente,
segundo Gutberlet (op cit.), na Fase de Industrialização,
a partir de 1930, o então presidente Getúlio Vargas concentrou
esforços para a instalação de indústrias de
base no país, com a atração de investimentos estrangeiros,
gerando grandes transformações na cidade, como a ampliação
das ligações rodoviárias entre São Paulo e
Cubatão (inauguração do Caminho do Mar), uso de água
da represa Billings para o abastecimento da Usina Henry Borden, construção
da Rodovia Anchieta entre São Paulo e Santos, apoio institucional,
ou seja, autorizações excepcionais e facilidades tributárias
garantidas, construção da Rodovia dos Imigrantes ligando
o planalto a Cubatão, atraindo grande contingente de mão-de-obra
barata - principalmente migrantes.
Segundo Goldenstein
(1965), o afluxo crescente de migrantes procedentes do Brasil inteiro à
procura de trabalho no setor secundário permitiu o aumento da população
urbana do município, sendo que se construíam ali duas casas
em média por dia. Portanto, como em 1960 havia cerca de 5.400 casas,
em 1963 seria de se esperar aproximadamente 7.600 casas, o equivalente
a um crescimento de 41% em apenas 3 anos.
A restrição
pelas extensas áreas de mangue e da escarpa da Serra do Mar, assim
como a concorrência com a expansão do uso industrial do solo,
restringiram o assentamento dos migrantes desprovidos de recursos financeiros
a poucos terrenos de fácil acesso, na periferia da cidade (GUTBERLET,
1996).
Segundo Gutberlet
(op cit.), com o golpe militar de 1964, a orientação
para o desenvolvimento seguia a mesma, porém, com interferência
do Estado em grande parte das atividades econômicas e a fase do "milagre
brasileiro" desta época, caracterizou-se por altas taxas de crescimento
econômico, mas também por repressão política
e grandes disparidades na distribuição de renda.
Em 1955 e 1963,
com o início das operações respectivamente da Refinaria
Presidente Bernardes (PETROBRÁS) e da Cia. Siderúrgica Paulista,
consolidou-se o processo de industrialização. Em fins dos
anos 70, Cubatão havia se firmado como o maior Pólo Industrial
da América Latina, possuindo, como elementos básicos da produção,
o trinômio energia-aço-petróleo (BORGES et al,
2002).
No entanto,
de acordo com Goldenstein (op cit.), todo o crescimento do complexo
industrial de Cubatão não foi uma conseqüência
do núcleo urbano, não existiu nem mesmo uma interdependência
entre um e outro. Ao contrário, do ponto de vista urbano, a cidade
não acompanhou o desenvolvimento industrial da região. Segundo
Gutberlet (op cit.), entre 1980 e 1985, o crescimento da área
industrial foi de 45%, em comparação com os 10% da área
habitacional.
A alta taxa
de desemprego sazonal e os baixos salários, aliados ainda a uma
alta taxa de analfabetismo - 25,8% dos trabalhadores não sabem ler
nem escrever; 42,2% freqüentaram a escola no máximo durante
quatro anos, ou seja, não possuem formação escolar
básica completa (GUTBERLET, 1996) - criaram o ambiente propício
para a marginalização de uma grande parte da população
(uma vez que não possui bens materiais e não participa na
tomada de decisões políticas), influenciando também
o alto índice de criminalidade da cidade.
Este crescimento
desenfreado, sem refletir em melhoria na qualidade de vida e na prestação
de serviços para a comunidade, aliado à falta de leis e de
fiscalização dos dejetos industriais, assim permaneceu por
várias décadas. Em meados dos anos 80 a situação
tornou-se insustentável, culminando com o reconhecimento internacional
de Cubatão como exemplo de degradação ambiental, graças
a casos de malformações congênitas estudadas a partir
de pesquisas incontestáveis sobre a ocorrência anômala
de metemoglobinas no sangue de pacientes que procuravam hospitais da cidade
(GUTBERLET, op cit.).
Anencefalia,
fenecimento intersticial da vegetação, Vila Parisi, Vila
Socó, escorregamentos catastróficos da Serra de Paranapiacaba,
expansão descontrolada dos bairros carentes a partir de um núcleo
justificável, riscos e problemas com os bairros-cota, projetos universitários
interrompidos, administrações demagógicas e discriminação
de lideranças são exemplos de outras tragédias que
ocorreram em Cubatão (GUTBERLET, op cit.).
2.2. Inclusão
social, geração de emprego e renda
Em vista da
atual situação, faz-se necessária a promoção
do equilíbrio entre o crescimento industrial e o desenvolvimento
sustentável, assim como a compreensão de que não se
sustenta o desenvolvimento sem emprego, sem trabalho, sem dignidade para
os trabalhadores. A busca pelo resgate de conceitos éticos e também
a abertura de inovadoras oportunidades de geração de emprego
e renda, com qualidade de vida, torna-se desta forma imprescindível
para uma comunidade carente que representa em microcosmo o Brasil - já
que é formada por migrantes de todos os estados.
Segundo Moreira
(1998), especialmente nos países periféricos, a sustentabilidade
da piscicultura envolve diversas variáveis em contínuo processo
de mudança, às quais devem corresponder mecanismos sociais
efetivos que viabilizem a sua permanente identificação e
superação, os quais não dispensam o uso de instrumentos
político-econômicos de emancipação dos atores
sociais excluídos do processo de desenvolvimento.
Considerando
a situação que atravessam os pescadores artesanais e produtores
rurais ribeirinhos, sua inserção na atividade da aqüicultura,
além de configurar como importante alternativa de trabalho, ensejará
aumentos de produção de alimentos, de geração
de renda e de melhoria das condições ambientais, este último
fato em decorrência de uma menor pressão da pesca sobre os
estoques pesqueiros naturais, que pela grande degradação
ocorrida na cidade já não se encontram disponíveis
como outrora.
De acordo com
Moreira (op cit.), a piscicultura, como atividade econômica,
vem revelando crescente potencial de geração de renda e empregos,
constituindo um fator de crescimento de determinadas economias, principalmente
daquelas cuja produção pesqueira se volta majoritariamente
para a exportação, assim se tornando valioso instrumento
de geração de divisas.
2.3. Fome
e alimentação
Segundo Monteiro
(1995), a fome ocorre quando a alimentação diária,
habitual, não propicia ao indivíduo energia suficiente para
o desempenho de suas atividades cotidianas. Na escola, o resultado pode
vir a ser um mau desempenho, logo o analfabetismo.
Vários
são os problemas em decorrência da falta de alimentação.
A pobreza extrema, ou indigência, deve atingir hoje cerca de 26 milhões
de brasileiros, sem renda suficiente para satisfazer sequer suas necessidades
básicas de alimentação (MINISTÉRIO DO MEIO-AMBIENTE
et
al, 2000). A desnutrição infantil também é
grave: 15% das crianças menores de cinco anos ainda têm peso
inferior à média esperada, quando o valor presente nos países
centrais se situa entre 2,5 e 3% (MINISTÉRIO DO MEIO-AMBIENTE
et
al, 2000, op. cit.).
De acordo com
Moreira (1998), com a evolução da piscicultura em diversos
países e com o grave problema da fome mundial, a piscicultura passou
a representar atividade potencial para a mitigação da fome
e da pobreza, e os organismos internacionais criados no pós-guerra,
principalmente a Food and Agriculture Organization of the United Nations
(FAO), viam na piscicultura a possibilidade de se gerar emprego e renda
no campo e alimento de alto valor protéico para as populações
de baixa renda nos países de baixos ingressos e com déficit
de alimentos.
O presente
trabalho difunde o conhecimento já existente em relação
à criação de peixes e seu uso como importante fonte
de nutrição humana, pois, segundo Garutti (2003), o potencial
aqüícola de água doce brasileiro é enorme. Portanto,
precisa e deve ser convenientemente explorado, para o aumento da oferta
de proteínas visando o consumo interno, para a exportação,
para a produção de iscas, de peixes ornamentais (incluindo
exportação) etc., sendo uma forma efetiva de se criar uma
boa educação alimentar, pois, de acordo com Santos (1998),
uma vez assimilada pelas pessoas, essa educação passará
de geração em geração, criando-se hábitos
alimentares adequados, favorecendo o desenvolvimento sadio da criança
e aumentando seu desempenho escolar.
A proposta
de reverter a despesca à merenda escolar ainda se encaixa perfeitamente
em iniciativas que cooperam para a execução do Programa Fome
Zero do Governo Federal, como os programas Educação para
o Consumo de Alimentos e Apoio à Amplicação
da Merenda Escolar. O primeiro se baseia numa série de ações
que buscam informar e orientar a população em geral, através
dos meios de comunicação, escolas, empresas e famílias
quanto à importância de se manter um bom hábito alimentar,
enquanto o outro visa:
Elevar
os teores calóricos da merenda escolar; Estender
o atendimento para os irmãos de escolares e para a rede infantil,
especialmente nos municípios pobres; Utilizar
produtos regionais na composição da merenda; Apoiar
tecnicamente os Conselhos Municipais de Alimentação Escolar; Campanhas
publicitárias e palestras para educar a população
sobre as necessidades de uma dieta balanceada, na prevenção
de desnutrição e da obesidade (www.fomezero.gov.br).
Os estudos
são unânimes no diagnóstico de que a causa da fome
no país, atualmente, é a falta de renda para alimentar-se
adequadamente, e essa falta de renda, traduzida por pobreza, é o
reflexo da desigualdade de renda existente no país, agravada pelos
altos níveis de desemprego, e pelas taxas de crescimento econômico
insuficientes para incorporar as pessoas que a cada ano querem ingressar
no mercado de trabalho, além da falta de políticas públicas
no campo da segurança alimentar (BELIK, 2001).
2.4. A Tilápia
nilótica (Oreochromis niloticus)
"Tilápia"
é o nome genérico de um grupo de Cichlídeos endêmicos
da África. Este grupo consiste em três gêneros de importância
para a aqüicultura - Oreochromis, Sarotherodon e Tilapia (POPMA &
MASSER, 1999).
A tilápia
do nilo é a espécie mais indicada principalmente para
a piscicultura intensiva e é facilmente conhecida pelas listas verticais
presentes na nadadeira caudal (PINTO, 1988). Possui coloração
cinza-azulada, corpo curto e alto, cabeça e caudas pequenas, é
bem receptiva à ração artificial - espécie
onívora -, restos de produtos agrícolas e industriais e,
na fase de larva e alevino, aproveita bem os microrganismos vegetais e
animais componentes do plâncton, apresentando melhor desempenho quando
alimentada com ração artificial. É bastante resistente
ao manejo e a doenças, desenvolvendo-se melhor em águas quentes,
com temperatura entre 22 e 32ºC (PINTO, op cit.).
Com 4-6 meses
de idade, começa a propagar-se, e as fêmeas param de crescer
(a fêmea deste peixe guarda os ovos fertilizados na boca e aí
eclodem e se desenvolvem as larvas) (WOYNAROVICH, 1985), enquanto os machos
crescem melhor do que as fêmeas e por isto, faz-se a hibridação
para se obter somente alevinos machos.
Segundo (PINTO,
op
cit.), a tilápia do nilo pode ser considerada como pertencente
à categoria de peixes magros, por apresentar apenas 2,09% de gordura,
favorecendo processamentos como a salga, a secagem e o congelamento - os
peixes magros, se congelados, permitem um armazenamento de até 12
meses a -15ºC -, apresenta carne de bom paladar, sem espinhos, com
um rendimento em filé em torno de 50%. |