RESUMO
Hoje em dia
verifica-se a crescente preocupação com o desenvolvimento
e o crescimento populacional, e suas conseqüências ambientais.
Neste sentido, nota-se cada dia mais presente nas escolas a necessidade
de conscientizar os estudantes quanto a um desenvolvimento sustentável.
O presente
projeto consiste no desenvolvimento de uma piscicultura na Escola Municipal
de Ensino Fundamental "Bernardo José Maria de Lorena" como uma ferramenta
para a um processo de educação ambiental, dimensionada para
as características particulares da comunidade, cujos objetivos são
de promover a inclusão social, geração de emprego
e renda, através da percepção de sua importância
econômica, social e ambiental, assim como reverter toda produção
para a merenda escolar, como forma de se criar um adequado hábito
alimentar, incentivando ainda outros projetos ambientais sustentáveis.
Para tanto,
contamos com apoio da Prefeitura Municipal de Cubatão para a montagem
de um sistema de recirculação contínua de água,
justificável pela sua baixa disponibilidade desta e boa disposição
para investimentos. Utilizaremos para o manejo a espécie tilápia
nilótica (Oreochromis niloticus), a qual melhor se adapta
aos objetivos propostos, por crescer e se reproduzir rapidamente em altas
temperaturas, assim como se alimentar de uma grande variedade de comida
natural e artificial.
O grande crescimento
da aqüicultura, e, conseqüentemente da piscicultura no Brasil
e no mundo, reforçam a idéia de que a piscicultura é
uma forma importante de preservação ambiental, geração
de emprego e renda e também nutrição.
ABSTRACT
Nowadays it
is verified an increasing concern with the development and the population
growth, and its environmental consequences. In this direction it’s noticed
each time more present in the schools the need for the students to acquire
knowledge for a sustainable development.
The present
project consists in the development of a fish culture in Escola Municipal
de Ensino Fundamental "Bernardo Jose Maria de Lorena" as a tool for a process
of environmental education, designed for the particular characteristics
of the community, which objectives are to promote social inclusion, generation
of jobs and income through the perception of its economic, social and environmental
importance, as well as revert all the production to school meal, as a way
to create an adequate alimentary habit, stimulating other sustainable environmental
projects.
For this purpose,
we count on the support of the City hall of Cubatão for the assembly
of a continuous water recirculation system, justifiable for its low availability
of water and good disposal for investments. We will use for the handling
the species nile tilapia (Oreochromis niloticus), which best fits
to the considered objectives, due to its quickly growth and reproduction
in high temperatures as well as feed from a wide variety of natural and
artificial food.
The great growth
of the aqüiculture and consequently of the fish culture in Brazil
and in the world, strengthens the idea that fish culture is an important
way for environmental preservation, generation of jobs, income and also
nutrition.
CAPÍTULO
1 Introdução
1.1. Educação
Ambiental
A notória
e crescente queda de qualidade ambiental e exploração predatória
dos recursos naturais levou ao surgimento da Educação Ambiental,
cujas características, segundo Dias (1992), incorporam as dimensões
sócio-econômica, política, cultural e histórica,
não podendo basear-se em pautas rígidas e de aplicação
universal, devendo considerar as condições e o estágio
de cada país, região e comunidade, sob uma perspectiva histórica.
Assim sendo,
ainda segundo o autor, a educação ambiental deve permitir
a compreensão da natureza complexa do meio-ambiente e interpretar
a interdependência entre os diversos elementos que conformam o ambiente,
com vistas a utilizar racionalmente os recursos do meio na satisfação
material e espiritual da sociedade no presente e no futuro.
Vários
movimentos com estas propostas passaram a ser chamados Ambientalistas e
começaram a ganhar espaço em instituições governamentais,
no pensamento de intelectuais e nos meios de comunicação
(DIAS, op cit.). Muitas conferências e encontros foram celebrados
desde então, como a Conferência de Belgrado. Em Tbilisi, Geórgia,
300 especialistas, representantes de 68 países, participaram da
I Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental.
As recomendações da Conferência de Tbilisi, como ficou
conhecida, se converteram em uma referência indispensável
para as pessoas e instituições preocupadas com a educação,
cujos objetivos, segundo Dias (1999), foram:
a) favorecer
a compreensão e preocupação da interdependência
econômica, social, política e ecológica nas áreas
rurais e urbanas;
b) oferecer
a todas as pessoas a oportunidade de adquirir os conhecimentos, valores,
atitudes, compromissos e capacidades necessárias para proteger e
melhorar o meio-ambiente;
c) criar novas
normas de conduta em indivíduos e grupos e na sociedade em geral,
em relação ao meio-ambiente.
A partir desta
Conferência, muitas outras reuniões aconteceram em que estes
objetivos foram reiterados. Na Conferência Internacional sobre Meio-Ambiente
e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992, os especialistas
relacionaram a Educação Ambiental com os problemas mais preocupantes
do desenvolvimento humano, dedicando um capítulo da Agenda 21 para
ressaltar a importância da mudança de hábitos da população,
principalmente nos países mais ricos (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO
PAULO, 1995).
Os encontros
- tanto nacionais, como, e sobretudo, internacionais - organizados a partir
da RIO 92 adotaram definitivamente os aspectos ligados ao desenvolvimento
sustentável e à ética em relação ao
ambiente. Naturalmente, cresceu o interesse geral pelos processos educativos
e a sua contribuição, aliada a outras medidas, para amenizar
e reverter os processos degenerativos em curso.
1.2. A inserção
da Educação Ambiental nas escolas brasileiras
Inicialmente,
a preocupação com a questão ambiental no Brasil restringia-se
a um círculo de poucos intelectuais. No entanto, segundo Dias (1999),
no mesmo ano da promulgação da Constituição
Brasileira de 1891, já houvera iniciado uma das práticas
mais demagógicas pelos políticos brasileiros: a anunciação
de unidades de conservação sem sua posterior efetivação.
Durante o regime
ditatorial, o Brasil encontrava-se na "contra-mão" da tendência
internacional de preocupação com o ambiente, mostrando iniciativas
de alto poder de degradação ambiental, como o Projeto Carajás
e a Usina Hidrelétrica de Tucuruí (DIAS, op cit.).
De acordo com
Governo do Estado de São Paulo (1994), as propostas de educação
ambiental surgiram inicialmente vinculadas a órgãos de gerenciamento
do meio-ambiente e não àqueles ligados ao sistema educacional.
Posteriormente, deu-se origem a parcerias entre instituições
de meio-ambiente e as Secretarias de Educação dos Estados
(DIAS, op cit.), culminando, na década de 80, com a incorporação
pela Escola dessa perspectiva de trabalho.
Atualmente,
muitas iniciativas têm sido tomadas por educadores de todo o país
no sentido de conscientizar quanto à urgência em garantir
o futuro da humanidade. Por essas razões, vê-se a importância
de incluir Meio-Ambiente nos currículos escolares como Tema Transversal,
permeando toda prática educacional, sendo fundamental, na sua abordagem,
considerar os aspectos físicos e biológicos e, principalmente,
os modos de interação do ser humano com a natureza, por meio
de suas relações sociais, do trabalho, da ciência,
da arte e da tecnologia (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL,
1998).
Ainda segundo
esta, os temas transversais tratam de processos que estão sendo
intensamente vividos pela sociedade, pelas comunidades, pelas famílias,
pelos alunos e educadores em seu cotidiano, e sua complexidade faz com
que nenhuma das áreas do currículo escolar seja isoladamente
suficiente para explicá-los. Ao contrário, a problemática
dos temas transversais atravessa os diferentes campos do conhecimento,
ou seja, não está associada a nenhuma disciplina específica,
mas deve estar presente em todas as áreas do conhecimento.
Segundo Fazenda
(2001), nas novas propostas educacionais verifica-se mais pronunciadamente
o uso do termo interdisciplinaridade não só no Brasil
mas no mundo, e sua implementação na educação
gera grande perplexidade, traduzida por alguns na tentativa de construção
de novos projetos para o ensino. De acordo com a autora, percebe-se em
todos esses projetos a marca da insegurança, porém considera
necessário que se assuma a insegurança em vez de a postergar,
mas assumi-la pressupondo o fato de a exercer com responsabilidade.
1.3. Piscicultura
e pesca
De acordo com
Castagnolli (1992), a piscicultura teve início na China há
mais de 2.500 anos, com o monocultivo de carpa. Da Ásia, a piscicultura
penetrou na Europa, onde, segundo Azevedo (1972), durante a Idade Média,
faziam-se referências à criação de carpas.
Segundo Azevedo
(op cit.), na América a piscicultura penetrou mais tarde,
por volta de 1877 nos Estados Unidos e em 1904 no Brasil. Porém,
aqui seus estudos somente adquiriram profundidade por volta de 1927.
Azevedo (op
cit.) cita várias finalidades para a piscicultura; dentre elas,
consumo, ornamentação, higiene, teste de laboratório,
povoamento e repovoamento de rios e lagos. No entanto, ainda de acordo
com o autor, os fins que visam ao consumo são os mais difundidos
em todo o mundo, por serem os que fornecem o alimento ao homem.
A piscicultura
comercial, de acordo com Castagnolli (op cit.), começou há
pouco mais de 150 anos no Japão e, segundo Moreira (1998), a crescente
evolução da técnica de reprodução artificial
e induzida de peixes (hipofisação), as pesquisas relativas
à nutrição de peixes, nos anos 50 - especialmente
para as espécies carpa, truta arco-íris e bagre de canal
- e o aprimoramento das técnicas de transporte verificado no pós-guerra,
foram os fatores responsáveis pelo seu desenvolvimento.
De acordo com
Moreira (op cit.), a aqüicultura mundial tem experimentado
uma contínua expansão desde os anos oitenta, aumentando a
sua participação na produção pesqueira mundial,
constituindo ainda uma das atividades de produção de alimentos
com maior ritmo de crescimento em todo o mundo - cerca de 10% ao ano, desde
1984 - enquanto a taxa média anual de crescimento de outras carnes
(bovina, suína, aves) é de 3% ao ano e a da produção
da pesca de captura é de 1,6% ao ano, no mesmo período.
Os problemas
existentes na pesca, tais como sobrepesca; capturas incidentais e descarte
da fauna acompanhante; redução dos estoques pesqueiros; poluição
e degradação ambiental das zonas de captura e costeiras;
riscos e incertezas das pescarias; dentre outros, que fazem estagnar, ou
mesmo reduzir a sua produção, têm redundado numa maior
atenção aos potenciais da aqüicultura, incluindo a piscicultura,
como alternativa de renda e empregos, fonte de alimentos e de segurança
alimentar, podendo advir um seu maior status, enquanto atividade
econômica e produtiva que gradativamente deixe de ser um simples
apêndice da produção pesqueira mundial; muito embora
um estudo da FAO revele dúvidas quanto a isto, pelo menos a curto
e médio prazos (MOREIRA, 1998).
No Brasil,
segundo Moreira (op cit.), a pesca foi priorizada ao longo dos anos
em detrimento da piscicultura, ou seja, as políticas públicas
favoreceram a captura e não o cultivo, em função principalmente
do fato desta se voltar à exportação e por julgar
o litoral brasileiro rico e inesgotável em recursos pesqueiros,
quando da definição das políticas de incentivo ao
setor pesqueiro. No entanto, não se pode esquecer que o atual crescimento
da aqüicultura nacional - da ordem de 190,8% em 2000, em relação
a 1996, com destaque para a região Sul (NEIVA, 2003) - deve muito
ao Projeto de Desenvolvimento Pesqueiro - PROBID/PROPESCA, implementado
pela extinta SUDEPE, com o apoio financeiro do BID, que financiou, em meados
dos anos 80, inúmeros projetos, principalmente de camarões,
peixes e rãs.
Hoje em dia
observa-se um crescente aumento do número de pesquisadores e interessados
em geral, com publicações e projetos tratando de temas como
aqüicultura, principalmente a piscicultura de tilápias. Entre
outros, podemos citar os trabalhos que tratam de avaliações
e caracterizações de piscicultura, como os trabalhos de Martins
et
al (2001) e Castellani (2002), respectivamente, de análise de
biologia populacional, estrutura e crescimento (I) e dinâmica da
reprodução (II), de Barbieri et al (2000)a e Barbieri
et
al (2000)b, respectivamente, assim como de estresse em peixes (BARCELLOS,
2000).
Torna-se necessário,
a esta altura, conceituar e apresentar as características básicas
que diferem a aqüicultura da piscicultura. A primeira pode ser definida
como a arte ou como a técnica de cultivo de animais e plantas no
meio aquático (MOREIRA, 1998), dividida em atividades distintas,
como as seguintes: piscicultura - cultivo de peixes; ostreicultura - cultivo
de ostras; mitilicultura - cultivo de mexilhões; carcinicultura
- cultivo de camarões; ranicultura - cultivo de rãs; malacocultura
- cultivo de moluscos; alginocultura - cultivo de algas. Já a piscicultura
se caracteriza por uma especialização de alto nível,
exigindo conhecimentos de várias ciências, entre elas a ictiologia,
a limnologia, a biologia, a botânica, a fisiologia e a parasitologia
(AZEVEDO, 1972).
O presente
trabalho enfoca o desenvolvimento da piscicultura na Escola Municipal de
Ensino Fundamental "Bernardo José Maria de Lorena", localizada no
município de Cubatão (SP), com o apoio da Prefeitura Municipal,
enfatizando os aspectos ecológicos, sociais e econômicos,
como forma de educar e conscientizar os alunos e toda a comunidade quanto
aos problemas ambientais regionais, pois, de acordo com Dias (1992), a
prática da Educação Ambiental requer, em primeiro
plano, o tratamento de questões que afetam seu entorno imediato,
e em seguida, de forma progressiva, das questões pertinentes às
esferas seguintes - como um modelo de vários círculos concêntricos,
de raio crescente -, até a abordagem dos grandes problemas ambientais.
Para a criação,
escolhemos a espécie tilápia nilótica (Oreochromis
niloticus), espécie exótica, originária da África,
pois, de acordo com Popma & Masser (1999), possui boas características
para aqüicultura, pois cresce rapidamente em temperaturas elevadas,
alimenta-se de uma grande variedade de comida natural e artificial e se
reproduz rapidamente em altas temperaturas. |