Algumas pessoas chegaram a acreditar que se tratasse de um raio emitido por uma nave espacial
Foto: Vanessa Rodrigues, publicada com a matéria
É um pássaro, um avião? Fim do mistério que envolve o raio verde
O assunto foi discutido em várias esferas de Cubatão. Das mesas dos bares, migrou para a Internet. Mas a ciência esclarece o caso
Thiago Macedo
Da Redação
Há tempos que a mesa de bar é palco das mais homéricas discussões. No bar, entre um gole e outro, colocar o Brasil no primeiro
mundo vira tarefa fácil. Acabar com a fome? É moleza. Conquistar o hexa na copa da África: Missão fácil, se não fosse o Dunga. É assim. Na mesa do boteco, os cervejeiros salvam o mundo, condenam e absolvem. Sempre tem um assunto que rende horas e
horas de debates dignos de eleições presidenciais.
Mas, desde o ano passado, um tema se tornou frequente na roda dos pós-graduados na arte de palpitar: o raio verde que, vira e mexe, corta o céu de Cubatão. As teorias e respostas para a
origem do bendito raio são muitas. "Esse raio vem de um aeroporto de São Paulo. É para orientar os aviões", disse um. "Que nada. Isso é alguma mira a laser", rebateu o outro. Até que, no auge de sua sabedoria, uma das figuras mais conhecidas
da Cidade, membro do primeiro escalão do Governo Marcia Rosa, decretou: "Esse raio é o rastro deixado por um avião supersônico". Pronto, os botequeiros ganharam mais um motivo para as chacotas noturnas regadas a cerveja.
Isso é o que importa. O resto, pode ir pro raio que o parta.
A polêmica extrapolou o muro do bar, que para muitos é um verdadeiro santuário, a panaceia de todos os problemas, e foi parar no mundo virtual. Na maior comunidade de Cubatão no Orkut
(site de relacionamentos) tem um tópico de discussão exclusivo para a tal luz verde com 54 comentários.
Na Internet, ambiente sem limites para a imaginação, as respostas para o tal raio foram surreais. "É o prelúdio de 2012 (data em que o planeta Terra chegará ao fim, segundo a teoria
maia)". "Essa luz é a fumaça do cachimbo da paz". "É a luz de uma nave espacial" ou "é a luz de um ET palmeirense".
Deixando de lado devaneios e teorias, o que seria e de onde vem o abençoado raio verde?
Sem dúvida |
A Tribuna encontrou resposta para o mistério do raio verde no Centro de Capacitação e Pesquisa em Meio Ambiente da Universidade de São Paulo |
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Para acabar com as especulações, decidimos ir pesquisar. Alguns telefonemas depois, a resposta: a luz verde sai do Centro de Capacitação e Pesquisa em Meio Ambiente (Cepema) da
Universidade de São Paulo, em Cubatão, às margens da Rodovia Cônego Domênico Rangoni.
Mar para que serve esse raio verde? Quem respondeu foi a atenciosa pesquisadora do Cepema Juliana Steffens. A luz verde, motivo de horas e horas de debates e origem das mais esdrúxulas
teorias, trata-se de um laser emitido por um equipamento chamado Lidar, sigla para Light Detection and Ranging, ou, em bom português, detecção de luz e distância.
O Lidar é um equipamento que emite um raio laser com alcance de 120 quilômetros. Esse raio mede a concentração de poluentes na atmosfera, como ozônio, gás carbônico e material
particulado, por exemplo.
De uma forma didática, explica Juliana, o laser, ao tocar nessas partículas, é refletido e captado por um telescópio instalado na base do equipamento. Essas informações são mandadas para
uma espécie de detector que transforma as informações ópticas em pulsos elétricos que vão para o computador. Por refletir em tudo o que toca na atmosfera, muitas vezes o raio parece que vem de várias direções e surge acima das nuvens.
Por enquanto, o Lidar ainda não identifica quais os compostos que estão na atmosfera, somente a concentração. Mas o próximo passo, conta Juliana, é trabalhar com um feixe de laser capaz
de informar em tempo real qual é exatamente o tipo de poluente. "Quando dominarmos essa técnica, poderemos pôr o equipamento em um veículo e nos deslocarmos até a possível fonte poluidora", explica Juliana.
Em uma linguagem mais simples, será possível escanear o céu ou mapear as emissões atmosféricas, direcionando o laser para chaminés industriais, por exemplo.
Em todo o mundo, somente 20 grupos utilizam essa tecnologia, principalmente no campo meteorológico. E agora ela está sendo voltada para o monitoramento da qualidade do ar graças aos
pesquisadores do Cepema, também ligados ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Estudos do Meio Ambiente.
Enfim, é isso. Agora que o mistério do raio verde acabou, os amigos do bar terão de encontrar um novo tema para os seus debates.
COMO FUNCIONA - A sigla Lidar deriva da frase do inglês Light Detection and Ranging que significa detecção de luz à distância. O aparelho funciona
como um radar, só que utiliza pulsos de luz em vez de ondas de rádio, com o objetivo de detectar diversos compostos químicos na atmosfera