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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
Um raio verde no céu cubatense

Apenas um laser de pesquisa...

Notícia publicada no jornal santista A Tribuna, no domingo, 25 de julho de 2010, página A-14:

Algumas pessoas chegaram a acreditar que se tratasse de um raio emitido por uma nave espacial

Foto: Vanessa Rodrigues, publicada com a matéria

É um pássaro, um avião? Fim do mistério que envolve o raio verde

O assunto foi discutido em várias esferas de Cubatão. Das mesas dos bares, migrou para a Internet. Mas a ciência esclarece o caso

Thiago Macedo

Da Redação

Há tempos que a mesa de bar é palco das mais homéricas discussões. No bar, entre um gole e outro, colocar o Brasil no primeiro mundo vira tarefa fácil. Acabar com a fome? É moleza. Conquistar o hexa na copa da África: Missão fácil, se não fosse o Dunga. É assim. Na mesa do boteco, os cervejeiros salvam o mundo, condenam e absolvem. Sempre tem um assunto que rende horas e horas de debates dignos de eleições presidenciais.

Mas, desde o ano passado, um tema se tornou frequente na roda dos pós-graduados na arte de palpitar: o raio verde que, vira e mexe, corta o céu de Cubatão. As teorias e respostas para a origem do bendito raio são muitas. "Esse raio vem de um aeroporto de São Paulo. É para orientar os aviões", disse um. "Que nada. Isso é alguma mira a laser", rebateu o outro. Até que, no auge de sua sabedoria, uma das figuras mais conhecidas da Cidade, membro do primeiro escalão do Governo Marcia Rosa, decretou: "Esse raio é o rastro deixado por um avião supersônico". Pronto, os botequeiros ganharam mais um motivo para as chacotas noturnas regadas a cerveja. Isso é o que importa. O resto, pode ir pro raio que o parta.

A polêmica extrapolou o muro do bar, que para muitos é um verdadeiro santuário, a panaceia de todos os problemas, e foi parar no mundo virtual. Na maior comunidade de Cubatão no Orkut (site de relacionamentos) tem um tópico de discussão exclusivo para a tal luz verde com 54 comentários.

Na Internet, ambiente sem limites para a imaginação, as respostas para o tal raio foram surreais. "É o prelúdio de 2012 (data em que o planeta Terra chegará ao fim, segundo a teoria maia)". "Essa luz é a fumaça do cachimbo da paz". "É a luz de uma nave espacial" ou "é a luz de um ET palmeirense".

Deixando de lado devaneios e teorias, o que seria e de onde vem o abençoado raio verde?

Sem dúvida

A Tribuna encontrou resposta para o mistério do raio verde no Centro de Capacitação e Pesquisa em Meio Ambiente da Universidade de São Paulo

 

Para acabar com as especulações, decidimos ir pesquisar. Alguns telefonemas depois, a resposta: a luz verde sai do Centro de Capacitação e Pesquisa em Meio Ambiente (Cepema) da Universidade de São Paulo, em Cubatão, às margens da Rodovia Cônego Domênico Rangoni.

Mar para que serve esse raio verde? Quem respondeu foi a atenciosa pesquisadora do Cepema Juliana Steffens. A luz verde, motivo de horas e horas de debates e origem das mais esdrúxulas teorias, trata-se de um laser emitido por um equipamento chamado Lidar, sigla para Light Detection and Ranging, ou, em bom português, detecção de luz e distância.

O Lidar é um equipamento que emite um raio laser com alcance de 120 quilômetros. Esse raio mede a concentração de poluentes na atmosfera, como ozônio, gás carbônico e material particulado, por exemplo.

De uma forma didática, explica Juliana, o laser, ao tocar nessas partículas, é refletido e captado por um telescópio instalado na base do equipamento. Essas informações são mandadas para uma espécie de detector que transforma as informações ópticas em pulsos elétricos que vão para o computador. Por refletir em tudo o que toca na atmosfera, muitas vezes o raio parece que vem de várias direções e surge acima das nuvens.

Por enquanto, o Lidar ainda não identifica quais os compostos que estão na atmosfera, somente a concentração. Mas o próximo passo, conta Juliana, é trabalhar com um feixe de laser capaz de informar em tempo real qual é exatamente o tipo de poluente. "Quando dominarmos essa técnica, poderemos pôr o equipamento em um veículo e nos deslocarmos até a possível fonte poluidora", explica Juliana.

Em uma linguagem mais simples, será possível escanear o céu ou mapear as emissões atmosféricas, direcionando o laser para chaminés industriais, por exemplo.

Em todo o mundo, somente 20 grupos utilizam essa tecnologia, principalmente no campo meteorológico. E agora ela está sendo voltada para o monitoramento da qualidade do ar graças aos pesquisadores do Cepema, também ligados ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Estudos do Meio Ambiente.

Enfim, é isso. Agora que o mistério do raio verde acabou, os amigos do bar terão de encontrar um novo tema para os seus debates.

COMO FUNCIONA - A sigla Lidar deriva da frase do inglês Light Detection and Ranging que significa detecção de luz à distância. O aparelho funciona como um radar, só que utiliza pulsos de luz em vez de ondas de rádio, com o objetivo de detectar diversos compostos químicos na atmosfera

[1] O equipamento todo é operado por uma central, responsável pelo controle dos aparelhos e pela leitura e análise dos dados.

[2] Um detector é ligado a um telescópio. O detector envia as informações lidas para a central.

[3] Um telescópio de longo alcance registra os reflexos do laser nas partículas e as imagens são captadas pelo detector.

[4] O aparelho transmissor emite um feixe de laser com alcance de 120 km.

[5] No céu, o laser atinge partículas de poluição e é refletido. As informações são retiradas a partir desta reflexão.

[6] Se o feixe atinge uma nuvem muito densa, o laser pode refletir em várias direções

Infográfico publicado com a matéria

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