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Português diz que ex-presidente do Brasil trabalhou no seu açougue antes de ser metalúrgico
28 de março de 2011, 10:58
Coimbra, 28 mar (Lusa) - Um emigrante português radicado no Brasil afirma que Lula da Silva
trabalhou ainda "muito jovem" no seu açougue, na cidade de Cubatão, um aspeto que não figura nas biografias do ex-Presidente brasileiro.
Oriundo da serra da Lousã, o negociante de carnes aposentado Claurenço Simões teve um talho no
Cubatão, no litoral do estado de São Paulo, onde deu trabalho a Luiz Inácio Lula da Silva, no que terá sido "o seu primeiro emprego".
"Ele era muito pontual e muito educado. Trabalhou comigo algumas semanas", recordou o emigrante,
nascido há 78 anos na Silveira de Cima, aldeia do concelho da Lousã hoje em ruínas.
Na quarta-feira, Lula da Silva estará na Universidade de Coimbra, a 30 quilómetros da Lousã, para
receber o grau de doutor 'honoris causa' proposto pela Faculdade de Direito, cerimónia a que assistirá a atual Presidente da República Federativa do
Brasil, Dilma Rousseff.
Lula da Silva nasceu em 1945, em Vargem Comprida, localidade do atual município de Caetés, interior
do Estado de Pernambuco.
Claurenço Simões chegou em 1951 à cidade portuária de Santos, onde trabalhavam como estivadores
centenas de compatriotas da serra da Lousã, enquanto Lula migrou com a família no ano seguinte para a mesma zona.
Nessa altura, Aristides Inácio da Silva, pai de Lula, que tinha deixado o nordeste alguns anos
antes, também tentava a sua sorte como carregador nas docas de Santos, aí constituindo uma segunda família com outra mulher.
Eurídice Ferreira de Melo, mãe de Luiz Inácio, decidiu juntar-se com os filhos ao marido Aristides,
em 1952, um ano depois de o português Claurenço ter pisado terras da Baixada Santista.
O serrano da Lousã trabalhou primeiro no comércio de carvão, em Santos. Abriu depois um açougue na
vizinha Cubatão, onde acabou por empregar o pequeno Luiz Inácio.
"Eu tinha uma bicicleta muito velha com que ele ia entregar as encomendas de carne a alguns
fregueses", contou o antigo patrão do ex-chefe de Estado do Brasil.
A corrente do velocípede "saltava muitas vezes", dificultando o trabalho do estafeta, que se sujava
frequentemente com óleo negro.
Uma irmã de Luiz pediu ao açougueiro melhores condições de trabalho. O patrão acabou por dispensar
o rapaz, que "terá ficado sentido".
Lula teve outros trabalhos temporários na região, segundo Claurenço Simões, incluindo como
engraxador.
Um dia, o talhante encontrou o antigo empregado no largo da igreja do Cubatão e aproveitou para
engraxar os sapatos.
"Ó Luiz, agora trabalhas aqui?", perguntou. O futuro presidente do Brasil respondeu
afirmativamente, mas de forma lacónica.
Claurenço teve mais tarde outro açougue em São Bernardo do Campo, onde ainda reside.
Nos anos 1970, o operário metalúrgico Lula da Silva tornou-se célebre como sindicalista nesta
cidade. Em 1980, fundou o Partido dos Trabalhadores.
"Acho que Lula terá ficado um pouco sentido comigo. Eram tempos difíceis para quem emigrava. Talvez
ele já nem se lembre mim...", lamentou.
Casimiro Simões
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