O velho álbum de figurinhas mostra os principais atletas do futebol amador da época
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Afinal, quem era melhor: Dito ou Gasolina?
Eram tempos em que o futebol amador do Estado merecia manchetes nos jornais: "Comercial tentará grande vitória no jogo de hoje", estampava o
O Diário, de Santos. No clichê, exibia-se o quinteto avançado do Comercial Santista FC, formado por Maneco, Dito, Mineirinho, Cobrinha e Cabeção, que arrasou com a equipe do Praia
Grande FC, por 5 tentos a 0. Os jogadores esperavam repetir o escore contra o Bandeirantes, de Pedro de Toledo.
Na véspera do dia dessa manchete, Romeu Magalhães, casado com a sra. Iolanda Pascoal Magalhães, acaba de ser pai de dois gêmeos. Era presidente do clube e comandou os cinco
ônibus lotados de funcionários da Companhia Santista de Papel (o time era formado por trabalhadores dessa antiga empresa) que foram torcer pelo time no campo da Vila Belmiro. O
Comercial sagrou-se campeão da Liga de Futebol Amador do Litoral, em 9165.
Romeu se emociona ao contar que Dito era melhor que o Pelé, maior jogador de futebol que o mundo já conheceu. "O Dito só não teve a fama do Pelé porque se recusou a ir para a Vila Belmiro, preferiu
continuar trabalhando na Santista de Papel, onde ganhava o dobro do que lhe ofereceram para jogar no Santos. Naquele tempo, jogador de futebol não recebia a fábula de hoje e tinha uma profissão incerta".
Ele fala com saudades dos jogadores daquele tempo. "Eram artistas com a bola. Não havia só o Dito e o Cobrinha. O Comercial era muito forte, foi campeão amador do Estado. Mas, não levava grande
vantagem quando jogava com o EC Cubatão, em cuja linha de frente formavam Louro, Toninho e Dudu. Toninho, ou Antônio, como aparece no álbum, era um ponta ágil, que hoje preside a Terracom Transportes e Terraplenagem. Deu sobrenome é Diniz.
O Comercial Santista foi campeão em 1965. Venceu o Bandeirantes por 2 a 1. Dois gols de Cobrinha e uma jogada espetacular de Dito, que aos 20 minutos do primeiro tempo aplicou um chapéu no adversário
e emendou para o gol. O goleiro Tedesco agarrou, após um mergulho espetacular.
O chapéu de Dito faz Romeu recuar no tempo. Ele também se lembra do chapéu de Gasolina no beque Tião, aos 16 de junho de 1967. "O Tião perguntou ao Gasolina como tinha sido aquilo. Foi sorte, é do
jogo, disse o outro".
Naquele dia, todo mundo queria tirar a dúvida: quem era melhor, o Dito ou aquele crioulinho novinho que corria atrás dos pintinhos?
Dito não jogou. Estava machucado. O destino impediu o célebre encontro. Era dia de Gasolina, não de Benedito Fred Paschoal Soares.
No jogo contra o Comercial Santista, Gasolina marcou |
5 |
gols. Foi o seu último jogo no time amador do Santos |
Romeu não tem dúvidas: "O Dito era melhor. Tanto que foi convidado para jogar no Santos, mas preferiu continuar na Companhia Santista de Papel, onde ganhava mais.
Seu irmão, Simplício, aceitou o convite de Lula e Athié Jorge Coury. Foi jogar no Santos. Não fosse isso, creio que faria dupla com Gasolina. Naquele time amador, a linha do Santos era formada por Dorval, Gasolina,
Raimundinho, Waldir e Binho.
Final de jogo; Santos FC 7 Comercial Santista 1. O crioulinho fez cinco gols. Foi o último jogo de Gasolina no time amador do Santos.
Poucos meses depois, Gasolina sagrava-se campeão mundial na Suécia. Para quem não sabe, Gasolina era o apelido doméstico de Édson Arantes do Nascimento, mais conhecido por Pelé.
Romeu ainda tem dúvidas: "Não sei realmente dizer se o Pelé era melhor que o Dito. Gostaria de ter visto a dupla Pelé e Dito. Seria infernal".
N.R. - Gasolina era o apelido que os jogadores do Santos deram em 1956, ao garoto Zico, levado por Valdemar de Brito. Pelé, que foi titular da Seleção Brasileira antes de entrar oficialmente no time
titular do Santos, conforme o jornalista Armando Nogueira (in Bola na Rede) era um juvenil desconhecido. Ficava na concentração do Santos, em 56, rondando a mesa de buraco de Hélvio, Zito e Pepe. E para defender alguns trocados, aceitava as
tarefas subalternas da mesa".
Com a expectativa da torcida os dois times posaram para a foto antes da grande disputa
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Histórias de Dito e Cobrinha
A torcida silenciou quando apareceu o crioulinho que, segundo as histórias, dava nó em pingo d'água. E deu risada, quando o viu correr atrás de uma galinha e dos pintinhos, na beira do gramado do
Comercial Santista Futebol Clube. Era dia de festa, inauguração do novo estádio da Vila Fabril. O adversário foi escolhido a dedo: nada menos que o Santos Futebol Clube, que veio com um respeitável time de amadores.
Do outro lado, pelo Comercial Santista, Cobrinha jogaria sem o Dito, o terror das defesas das várzeas litorâneas. Mal começou o jogo, Gasolina, o garotinho que corria atrás dos pintinhos, deu um
chapéu no beque Tião, aparando uma bola vinda do escanteio. A bola era do Tião. De repente, sumiu. Quando olhou, ela estava dentro do gol. Santos um, Comercial zero. A torcida esqueceu os pintinhos. Começou a preocupar-se com os frangos que o
goleiro do Comercial ia colecionar naquele dia de festa.
O vereador Romeu Magalhães hoje é presidente da Câmara de Cubatão. Mas, naquele tempo, jogava no quadro de aspirantes do Comercial.
"Fui de tudo, no Comercial Santista, desde jogador a técnico, até presidente. Lembro dessa época com muita saudade".
Romeu era centroavante. E afirma que, embora ruim de bola, terminou sendo figurinha carimbada em álbum de futebol, graças ao apoio dos amigos.
Parece estranho, tantos anos depois, que uma Cidade copiasse a febre dos álbuns de figurinhas, coisa da nossa infância, também projetando atletas locais. Normalmente, os álbuns endeusavam os
jogadores dos times principais de São Paulo ou do escrete nacional.
O velho álbum, que Romeu guarda com carinho, destacava os principais times do campeonato de futebol amador do Estado (série Litoral), e tinha sido lançado no mercado por Manoel Joaquim Ramos (ilustre
figura da colônia lusa, destaque na comunidade luso-brasileira da região), na época presidente da Liga Santista de Futebol Amador.
Dito e o médico Alberto Pessoa: ex-craques de futebol varzeano
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