Por qualquer quadra do Centro de Cubatão que se circule, é impossível não notar a presença
maciça dos vendedores ambulantes. Comercializando as mais variadas mercadorias, os camelôs, como são carinhosamente chamados, despertam o interesse
de boa parte da sociedade pelo preço dos produtos que vendem, mas fomentam a indignação dos comerciantes lojistas, que se consideram em desvantagem
na concorrência, por terem de arcar com uma série de tributações impostas pelo Governo
Fotos: Carlos Moura, publicadas com a matéria
O oriente é aqui
Tentar sacar dinheiro na agência do banco Bradesco da
Avenida Nove de Abril pode ser a oportunidade para adquirir um perfume novo, ou até mesmo comer uma goiaba. Há quem prefira fruta do conde, ou mel
de abelha, que o vendedor jura que é purinho (com direito aos favos e tudo mais).
Com R$ 18 é possível sair exalando os odores de Paris pelos quatro cantos de Cubatão.
A procedência: Essa ninguém conhece. Melhor então abusar da criatividade e comprar por apenas R$ 10 (se chorar sai por R$ 5) um isqueiro com luzes
neon.
O Centro da Cidade, além de ostentar a maior parte do comércio cubatense, conta também
com um número grande de vendedores autônomos. Apenas nas três principais quadras da Avenida Nove de Abril, entre as ruas São Paulo e Pedro José
Cardoso, a reportagem da Folha de Cubatão contabilizou 29 tipos diferentes de barracas das mais variadas mercadorias.
Entrando nas ruas que cortam a principal avenida de Cubatão, mais 45 trabalhadores
autônomos podem ser percebidos, por todos os lados, em todas as calçadas. É na Rua Manuel Jorge que o problema fica mais latente. Num único ponto,
25 homens, mulheres e crianças se aglomeram, próximos a um shopping popular.
Entre uma pesquisa de preço e outra, a reportagem é notada. A partir daí fica difícil
conseguir a palavra de algum camelô. O medo, segundo eles, é de que a matéria jornalística os tire dali.
"Eles (não disse quem)
querem nos tirar daqui, e vocês vão acabar ajudando", alegou um vendedor de milho, que não
quis se identificar nem dar entrevista.
O que pensam os comerciantes?
São poucos os comerciantes que aprovam a atuação dos vendedores autônomos nas ruas da
Cidade, porém a grande maioria deles não fala sobre o assunto de forma alguma, temendo represálias. Eles acreditam que o fato desses trabalhadores
não pagarem impostos, os colocam em desvantagem.
"Eu sei que eles precisam viver e sobreviver, como todos.
Mas eles têm o espaço deles, que é o camelódromo. Nós pagamos caros impostos; enquanto isso, os camelôs estão tomando a cidade e a fiscalização não
faz nada", disse a lojista Sandra Barros Sousa.
Outros não vêem problema com os ambulantes, mas fazem críticas, como a comerciante
Cristina Fraguas. "Para mim não faz diferença nenhuma, todo mundo tem o direito de trabalhar. No que diz respeito ao
comércio, tem lugar para todo mundo. É melhor ser ambulante do que roubar e matar. O que eu acho errado, são pessoas que ganham o boxe da comunidade
e alugam para terceiros. Isso é errado, estão ganhando dinheiro com o que é do povo", disse.
Um lojista estabelecido na Avenida Nove de Abril, que não quis se identificar,
criticou a maneira como os camelôs deixam as vias públicas depois do horário comercial. "Se eu tenho higiene e bons
modos na minha loja, nada mais justo que essas pessoas também tenham. O fato é que, no final do dia, a rua está uma imundície",
esbravejou.
ACIC - O presidente da Associação Comercial e Industrial de Cubatão, Silvano
Lacerda, foi procurado pela reportagem da Folha de Cubatão por cinco dias e não foi encontrado. Ele também não retornou nenhuma ligação para
a redação do jornal. |