[...]
dedicado a Dieter Schnehel
Abertura trágica para regente, uma violinista, um violinista e orquestra.
Composto pelas seguintes partes:
Prólogo - A - B - B1 - C - D (coda)
Na parte A, em toda a sua duração, soa o acorde orquestral escrito. O que está escrito
nos módulos numerados de 1 a 7 soa (em cima do acorde orquestral) e deixa de soar aleatoriamente, por escolha do regente, a seu critério (2 dedos
levantados indicam mód. 2, 5 dedos mód. 5 etc.). Ele escolhe os módulos em qualquer ordem e qualquer momento (não há tempo forte ou fraco), sem
esquecer nenhum módulo; podendo fazer soar e silenciar um mesmo módulo mais de uma vez; e sobrepor os módulos na quantidade que desejar. Por
exemplo, indica a entrada do mód. 2, um pouco depois o mód. 5, depois o mód. 1, silencia o mód. 2, indica a entrada do mód. 7, depois o mód. 6,
depois o mód. 2 novamente, depois o mód. 3, o mód. 4, silencia o mód. 7 etc. (deverá haver um ou dois momentos com todos os módulos soando. O que
soa quando indicado o mód. 1, 2 ou 3 é o prolongamento dos sons (notas) escritos, até serem silenciados; quando indicado o módulo 4, 5, 6 ou 7 é a
repetição, sem interrupção, do que está escrito até ser silenciada (4 semi-colcheias = 60). Quanto mais defasagem entre as entradas, melhor. A
mobilidade timbrística do som orquestral é conseguida pela entrada e retirada desses formantes; e também pela indicação, às vezes, de maior vibrato
nas cordas. Os instrumentos que tocam sopros, nas notas prolongadas, respiram alternadamente, para que não haja interrupção do som. Deve ser
conseguido o melhor som geral possível.
Nas partes B, B1, C e D soa o que está escrito.
As partes acima, com suas repetições, estão ordenadas em 9 momentos:
I - Prólogo (vide "instruções para o regente").
As partes musicais, a seguir, se ligam sem interrupção, absolutamente a tempo.
II - Parte A. Soa somente o acorde orquestral, prolongado durante 2 minutos.
III - Parte B. Soa a repetição, 4 vezes, do que está escrito, sem interrupção.
A seguir, sempre a tempo, Parte B1. Soa a repetição do que está escrito durante 1 minuto e 45 segundos (Parte B continua soando por
pouco tempo junto com Parte B1). Entre Parte B1 e retorno à Parte A (e também na articulação com Parte C) é substituído
o que está escrito na última colcheia pela variação indicada.
IV - Parte A. De início, soa somente o acorde orquestral, que será prolongado
até o fim deste momento. Aos poucos, o regente indica as entradas (depois os silêncios) dos diferentes módulos, que soarão juntos com o acorde
orquestral. Sem exceder a duração de 3 minutos, o tempo necessário à atuação teatral do regente (vide "instruções para o regente").
V - Parte B e Parte B1. Igual ao III, porém agora durante o tempo
necessário à atuação teatral do regente, mais ou menos 3 minutos.
VI - Parte A. Igual ao IV.
VII - Parte B e Parte B1. Igual ao v.
VIII - Parte C. Soa a repetição continua do que está escrito, sem interrupção,
a tempo, durante 2 minutos e 30 segundos.
IX - Parte D. Soa o que está escrito. São repetidos, durante 40 segundos cada
um, somente os compassos indicados na partitura.
Instruções para o regente:
Como ele atua, dança e rege em cada um dos 9 momentos.
I - Prólogo. O regente deve ser esguio e ter boa mobilidade e expressão
corporal. Usar de preferência uma casaca; ou calça de malha preta justa, com camiseta de malha preta, de manga comprida, gola rolê ou sem gola.
Estar com um pouco de maquillage e penteado com um toque expressionista, anos 20. Entra em cena, sobe ao podium, volta-se para a
platéia e diz, dramaticamente:
"Vila Parisi fica no Município de Cubatão, cidade internacionalmente conhecida por ser
a mais poluída do mundo. Miserável vila operária de uma tristemente famosa cidade! Quando penso nos trabalhadores que ali vivem, não posso deixar de
me lembrar daquele poema de Manuel Bandeira, Pneumotórax, e imagino um desses trabalhadores no consultório médico, sendo examinado, tosse,
tosse, tosse, diga 33, pede o médico, respire, o senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito totalmente infiltrado por gases
tóxicos industriais. Não dá pra tentar o pneumotórax? pergunta aflito o trabalhador. Não, responde o médico, o único negócio a fazer é tocar um
tango argentino".
Com expressão de desalento, o regente volta-se para a orquestra.
II - Dá a entrada à Parte A, e fica absolutamente imóvel durante 2 minutos, o
tempo de duração deste momento.
III - Dá a entrada à Parte B (os músicos restantes entram na Parte B1
sem indicação do regente, a partir da 5ª repetição da Parte B) e fica absolutamente imóvel de novo, até o final desse momento, deixando a
orquestra tocar sem a sua regência.
IV - Dá a entrada à Parte A e sai do podium. Anda por entre os músicos
da orquestra (pelos espaços preliminarmente deixados livres) como que flutuando, com os braços abertos, virando-se para um lado, para o outro, olha
para trás, para um músico, para outros músicos, para pontos abstratos, às vezes movimenta os braços como se moldasse, conduzisse o jorro sonoro (o
regente deve construir um desempenho teatral em cima destas indicações básicas). Aleatoriamente, dá entrada a cada um dos módulos (sem esquecer
nenhum), não com gestos de regência, mas como se estivesse hipnotizando os músicos da orquestra; e também pela imposição das mãos sobre os músicos
chamados a tocar (da mesma maneira os silencia).
V - Dá a entrada à Parte B (na Parte B1 os músicos entram sem indicação
do regente) e continua o desempenho do mesmo papel teatral. Esse desempenho deve se inspirar nas posturas e movimentações corporais dos personagens
do cinema expressionista alemão (vide Caligari, o sonâmbulo César, o ator Gustav Froelich em Metropolis, de Fritz Lang, etc.)
deslizando encostado às paredes com os braços abertos, por exemplo. O regente sente-se atraído por uma violinista. Duas vezes ele a contorna, ela
começa a se assustar.
VI - Dá a entrada à Parte A e continua como no momento IV, sempre desenvolvendo
o mesmo papel teatral. Mais atraído ainda pela violinista, ele a contorna 2 ou 3 vezes. Sai para os bastidores, por um lado do palco, e volta pelo
outro, mostrando primeiramente a mão, pela parede, lentamente, depois o braço, até o corpo todo. Poderá descer, por pouco tempo, à platéia.
Figura 1
VII - Dá a entrada à Parte B e continua, como no momento V, sempre no mesmo
papel teatral. Fatalmente atraído pela violinista, ele a tira para dançar. Sempre assustada, ela cede, e os dois dançam o tango, um compasso para um
lado, outro compasso para o outro lado, virando a cabeça no último tempo de cada compasso. Súbito, um violinista, indignado, se levanta e se dirige
aos dançarinos. Enfia as mãos entre os dois corpos e os separa violentamente. A violinista está cada vez mais apavorada. O regente e o violinista se
miram com ódio. O regente pega a batuta pela primeira vez e a levanta. O violinista também levanta o arco do violino. Em seguida, com o braço
encostado ao longo do lado direito do corpo, o antebraço horizontal ao chão, a mão segurando, um a batuta, o outro o arco do violino (para cima,
perpendiculares ao chão, como espadas), olhar firme e desafiador, os dois se aproximam vagarosamente. E, ao invés de se baterem em duelo, encostam
os punhos que seguram as espadas, e assim com os punhos encostados, frente-a-frente, olhando duro no olho um do outro, dançam o tango, um compasso
para a frente, um compasso para trás (vide figura 1), algumas vezes passos nos tempos 1, 2 e 3, estremecer de cabeça com ódio no tempo 4.
Desesperada, a violinista enfia as mãos entre os corpos dos 2 músicos e os separa,
colocando um braço nas costas e a mão no ombro do regente, e depois o outro braço e mão nas costas e ombro do violinista. E os três, de frente para
o público (vide figura 2) continuam a dançar o tango, um compasso para um lado, o outro compasso para o outro lado: à esquerda, batendo no chão pé
esquerdo/1º tempo, pé direito/2º tempo, pé esquerdo/3º tempo, jogando ao ar pé direito/4º tempo; à direita, pés direitos, esquerdo, direito e
esquerdo (ao ar).
Figura 2
Depois de 4 vezes para a esquerda e 4 vezes para a direita, o regente se separa do
casal de violinistas e, traiçoeiramente, depois de se colocar por trás deles, enfia a batuta no violinista por entre o seu braço e o corpo (o
violinista deverá apertar o braço contra o corpo, para dar a impressão de que a espada penetrou o corpo).
Com a ponta da espada (batuta) aparecendo no seu peito, como que por ela trespassado,
o violinista, cambaleando, deixa lentamente o palco, mortalmente ferido. Enquanto a violinista também deixa o palco pelo lado oposto, desesperada,
com as mãos na cabeça, exclamando: "Que pasa! Que pasa! Que pasa!". Em castelhano, alto, horrorizada. O regente olha para um, para o outro,
indiferente, e depois que eles saem de cena dá de ombros, sobe ao podium e, pela primeira vez, assume a postura de um regente de fato.
VIII - Dá a entrada à Parte C, # que rege com exagero e paixão.
IX - Dá a entrada à Parte D, finalizando seu desempenho sempre no papel de
regente.
Andamento para as Partes B, B1, C e D: =
ca.120
Dinâmica geral (com exceção para a Parte B1 e Parte D, em que a dinâmica
está indicada na partitura): mezzo forte
Sinal que indica os compassos a serem repetidos
Orquestra
Piccolo (picc.), 2 flauti (fl.), 2 oboi (ob), 2 clarinetti in Si bemol (cla), 2
fagotti (fg.), 1 contrafagotto (cfg.), 2 trombe in Si bemol (tr), 3 tromboni (trb), 4 corni in Fa, arpa, celesta, marimba, vibraphone (vibr.),
chitarra (chit.), piano, timpani, violini (V), viole (vle.), violoncelli (celli), contrabassi (CB).
*IMPORTANTE: Não são necessárias as partes em separado para cada instrumento. Os
músicos podem ler a peça pela partitura geral, dada a sua simplicidade e facilidade.
Chitarra deve ser um pouco amplificada.
Ilustrações: Seri e Morel, publicadas com a matéria
|