Ilustrações: Seri e Morel, publicadas com a matéria
O último tango em Vila Parisi
Gilberto Mendes
Ilust. Seri e Morel
O Último Tango em Vila Parisi
teve sua estréia mundial durante o Festival Música Nova de 1987, no dia 21 de agosto, na sala Cidade de São Paulo, pela Orquestra Sinfônica
Municipal de São Paulo, sob minha regência (também atuei como ator e dançarino) e com a participação, como atores e dançarinos, da violinista Chang
Chung Mei e do violinista Jean Pierre Kaletrianos.
Misto de abertura trágica à la Brahms e divertimento à la Mozart, é
evidentemente uma música de protesto. Não sou propriamente um compositor de música politicamente engajada, como o foram, por exemplo, Hanns Eisler,
Cornelius Cardew. Mas sou uma pessoa politicamente engajada. E minha música, sempre que tomo uma posição política, reflete em parte essa atitude.
Já nos anos 50 compus algumas canções com essa preocupação política, como Lamento
(sobre um velhíssimo texto chinês de Tchu Iuan), Peixes de Prata (texto de Antonieta Dias de Morais, poeta santista), Pedro Meu Amigo
(texto de Tereza de Almeida, também de Santos, homenagem minha e de Tereza ao nosso amigo Pedro Motta Lima, grande jornalista carioca, comunista,
que vinha clandestinamente nos dar aulas de marxismo, e fora anistiado pelo presidente Kubitschek). Fala Inicial do Cancioneiro da
Inconfidência (de Cecília Meireles), cantata para soprano, coro masculino e grupo instrumental, ainda não tocada.
Mais recentemente, por ocasião do movimento Diretas Já, voltei a me empolgar
politicamente e compus obras engajadas, Mamãe, Eu Quero Votar, Vila Socó, Meu Amor (textos meus), Enigmao (texto de
Florivaldo Menezes), Vão Entregar as Estatais (já entregaram, neste Brasil "Novo"; texto meu, profético!), todas para vozes corais. E um
Tango, encomendado pelo pianista norte-americano Yvar Mikhashoff, The Three Fathers, peça para piano em homenagem aos três padres ministros
do governo sandinista da Nicarágua (Ernesto Cardenal, Fernando Cardenal e Miguel D'Escoto) estreada no Festival da The New York University at
Buffalo, Estados Unidos.
Mesmo uma obra como Beba Coca-Cola, que compus sobre o texto de Décio
Pignatari, envolve uma denúncia contra uma multinacional. Nascemorre (texto de Haroldo de Campos), Vai e Vem (texto de José Lino
Grünewald), é a dialética da vida. Vila Parisi, nem é preciso explicar... |