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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
As cubatenses

Personagens que marcam e marcaram a história da cidade

Este artigo foi publicado no caderno especial Cubatão - 50 anos, do jornal santista A Tribuna, em 9 de abril de 1999:

PERSONAGENS

Essas mulheres brilhantes de Cubatão

Maria Albertina Pinheiro da Silva Mesquita (*)
Colaboradora

I - Encontrei-a em frente à agência do Banespa e a parabenizei (Elisa Márcia) pela homenagem que recebeu no Dia da Mulher. Com sorriso largo, agradeceu-me e destacou a importância da mulher cidadã e sua mudança de postura frente à vida pública.

Não respondi nada. Apenas fiquei em silêncio e me despedi. Naquele momento naveguei em idéias e por instantes a imagem das casas das famílias Torres e Cesário vieram à minha mente. Não havia prédios, nem bancos, nem grandes casas comerciais, apenas as antigas residências e seus grandes quintais.

A partir de então, iniciei uma busca pelo histórico de Cubatão.

Voltei no tempo e lembrei-me das conquistas de Cubatão desde as doações das sesmarias. Época em que o Município passou a abrigar os jesuítas na Fazenda Geral do Cubatão. Uma vez ao ano, era celebrada uma missa cantada em intenção a Nossa Senhora da Lapa.

A celebração dos jesuítas poderia ser para outros santos e beatos da igreja?

II - Caminhando na história da cidade, muito curiosa, me deparo no ano de 1765 com o primeiro recenseamento da Vila de Cubatão, onde estão registradas 94 pessoas que se mantinham através da agricultura, aluguéis de mulas e burros, vendas, rendas e ainda havia um caixeiro viajante.

Encontro o que procuro nesse censo: nove pessoas viviam de vendas, sendo três mulheres e uma delas possuía dois escravos.

Nesta viagem pela história do Município encontramos mulheres obedientes aos seus maridos, servindo em suas pensões aos tropeiros que por aqui passavam em viagem a São Paulo. Uma delas, consta, serviu ao próprio (príncipe, no dia em que o destino e a vontade o tornasse) imperador.

III - Mas o que procuro ao longo da história são mulheres audaciosas, iguais a Maria Joaquina, Maria Francisca e Rosa Maria, aquelas que possuíam vendas na Cidade. Acredito que, com certeza, os membros da Comissão dos Emancipadores de 1948 recebiam incentivo de suas esposas para que o ideal da autonomia de Cubatão se concretizasse.

Em 1949, confirma-se o carisma da mulher cubatense na figura de dona Helena Meletti Cunha, primeira-dama do Município. Uma alma cheia de bondade, de pulso firme, que lutou pelos menos favorecidos.

IV - Em 1951, é eleita suplente, para sua primeira legislatura, outra cubatense, Maria Aparecida Meloni.

Mulher que entrou para a política partidária com idéias de bem-estar para a população e desenvolvimento da Cidade. Iniciava sua trajetória política com o apoio de seu marido, seu maior incentivador.

As mulheres timidamente começavam a trajetória política naquele período da história do Brasil, quando o incentivo maior era para a beleza física feminina, sob influência da América do Norte.

Cubatão, já emancipado, iniciava sua nova jornada na implantação das indústrias. As mulheres cubatenses não se prevaleceram da política, mas denunciavam o primeiro vestígio da poluição, pequeninas manchas de ferrugem que surgiam nos lençóis pendurados nos varais ao vento, nos quintais de bananeiras e mexeriqueiras.

Naquela época, Cubatão valoriza o convívio social-familiar onde os concursos de beleza feminina eram disputadíssimos. Até hoje, uma figura de beleza feminina reconhecida é a da professora Neusa Ferreira.

V - Voltando à minha trajetória de encontrar a mulher cubatense na política partidária, lembro-me de nomes, alguns já esquecidos, como as vereadoras Maria Auta Oliveira Ventura, Maria de Lourdes Pataro Castro, Ruth Apolônio da Silva, Maria Rita Damasceno, todas mulheres audaciosas que lançaram-se ao pleito da Câmara Municipal de Cubatão, numa época onde política era assunto de homens.

Elas deram início ao despertar da mulher cubatense, não necessariamente àquela nascida na Cidade, mas a toda aquela que reside e ama esta terra. Na busca pela cidadania feminina, encontrei ainda registros de Maria Aparecida Pieruzzi de Souza, que se tornou, pela sua atuação na vida pública de coragem e ousadia, a primeira e única até o momento a ocupar o cargo de presidente da Câmara de Cubatão.

VI - Outros nomes em registro são o de Suzete Miranda Lima, vereadora constituinte da Lei Orgânica Municipal, e Zilda Silvério Rodrigues, que representou a comunidade da Vila Sâo José no Legislativo.

Nesse período da história do Município, surge a primeira grande vitória feminina, quando se elegeu para a Assembléia Legislativa a deputada Maria Cecília Passarelli, com expressiva votação, inclusive de outras cidades do Estado, diante de seu trabalho em defesa da vida.

VII - Nas últimas eleições, a vereança traz-me uma grata surpresa. Duas vereadoras são eleitas: Maria Aparecida Pieruzzi de Souza e Marli Luz Reinoso.

Vagando na história, volto aos dias de hoje, quando se comemoram os 50 anos de emancipação de Cubatão. Acredito que a presença feminina continua tímida, pois talvez o apelo do marketing pela luta contra a velhice e a celulite esteja prevalecendo.

É necessário que a mulher não deixe adormecer os seus ideais pela cidadania. É preciso que a audácia e a coragem sejam suas armas.

VIII - Coragem e audácia de Marilda Canelas e Sira da Silva, ambas candidatas a prefeita; não alcançaram a vitória no pleito, mas a vitória da vida.

Em 1998, Marilda Canelas e Maria Cecília Passarelli, num ato arrojado, entram em campanha à Assembléia Legislativa, onde perdemos a oportunidade de dar representação ao nome de nossa Cidade e de nossas mulheres.

Vamos pensar. Estamos na luta pela igualdade há décadas e somos tão fortes que trabalhamos fora de casa, cuidando dos filhos e do marido, somos cultoras econômicas da família. E, está provado estatisticamente, a mulher é menos corrupta.

As mulheres, na política, usam a cautela como alicerce às suas reivindicações, pois jamais vão a um debate sem o pleno conhecimento da matéria.

IX - A intrepidez deverá ser a nossa prioridade, sem esquecermos do batom. Há 19 cadeiras aguardando as marias joaquinas, franciscas e rosas marias.

Vale lembrar que o plenário da Câmara tem o nome de uma mulher - Helena Meletti Cunha.

Espero que no pleito do ano 2000 haja mais do que duas candidatas e que a mulher valorize a mulher. Com isso, não quero dizer que não há bons políticos. Devemos rever nossa atuação no desenvolvimento da Cidade e não só no dia 9 de abril, quando resgatamos a nossa memória, e sim no dia a dia.

X - Com certeza, a procura reavaliada será para o progresso e bem-estar dos cubatenses. Aguardo ansiosa o emergir de algumas vozes femininas que não sei o porque estão ou foram caladas (Dindinha).

A expectativa para o próximo leito é de que, com certeza, haverá figuras dóceis, femininas, elegantes, perfumadas, charmosas. E de notável valor!

(*) Maria Albertina Pinheiro da Silva Mesquita (mais conhecida como Nenê) é professora, diretora da Escola Municipal de Educação Infantil Estado do Tocantins, e ex-secretária municipal de Desenvolvimento Educacional.

No mesmo caderno especial de 1999, esta notícia, em texto de Manuel Alves Fernandes:

Maria Dalva Machado receberá medalha na Câmara
Legenda e foto publicadas com a matéria

IRMÃ GÊMEA

Moradora aniversaria junto com a Cidade

Ela é a única pessoa que nasceu no dia 9 de abril de 1949, poucas horas antes da emancipação

Que tal nascer no mesmo dia e ano da Cidade onde você nasceu?

Parece uma armadilha do destino, tal como ganhar na loteria. Mas, há quem tenha sentido "essa emocionante e maravilhosa sensação", na descrição de quem passou por isso. Não podendo esconder a idade, coisa que pessoas de bom tom não perguntam a senhoras, a funcionária municipal Maria Dalva Machado escancara hoje os 50 anos de vida que se tornaram de domínio público, a partir do momento em que foi escolhida para receber uma medalha na Câmara Municipal.

A mesma medalha que familiares de emancipadores (todos já mortos), ex-prefeitos e ex-presidentes da Câmara vão também receber hoje.

"Estou emocionada e sensibilizada. Mas, ficaria mais feliz ainda se junto comigo estivesse também recebendo medalha semelhante o ex-prefeito Luiz Camargo da Fonseca e Silva".

Gêmea - Maria Dalva pode considerar-se irmã gêmea, e não apenas filha, de Cubatão. Afinal, nasceu no dia 9 de abril de 1949, às 5h15, em uma casa do antigo acampamento do DER na Cota 95, entre o atual reservatório de água da Sabesp e a sede do Esporte Clube Diamante Negro.

Ela nasceu antes de Cubatão ser oficialmente criado, o que pelas leis administrativas só ocorreu às 20 horas do mesmo dia, quando o juiz Benedito Oliveira Noronha deu posse aos vereadores eleitos e ao primeiro prefeito da Cidade, Armando Cunha, no prédio da Escola Júlio Conceição.

A certidão de nascimento de Cubatão é a ata de instalação da Câmara, firmada em letra cursiva pelo vereador e primeiro secretário do Legislativo, Mayr Godói.

Numa época em que muitas cubatenses iam a Santos para dar à luz em hospitais, Maira Dalva, filha de Iraci Paulino Machado, teve a sorte de nascer em casa, com o auxílio de uma parteira. Seus irmãos, Eli, Enéas e Elias nasceriam depois, em Santos, embora mãezinha, como Dalva chama Iraci, continue até hoje morando em Cubatão.

De medalha - Funcionária pública, analista administrativa, ela trabalha na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano. Mas, começou na Prefeitura em 1968. Seu pai, Orestes Machado, ajudou a construir a Via Anchieta e, como funcionário do DER, conheceu o ex-capitão Luiz Camargo da Fonseca e Silva, médico desse departamento de estradas de rodagem.

"Devo muito a Luiz Camargo. Ele me colocou na Prefeitura e, dois anos depois, foi aberto concurso e eu passei e me efetivei".

Dalva sempre morou em Cubatão. "Gosto da minha Cidade. Fico muito contente de ter nascido no mesmo dia. Me fixei com o meu pessoal aqui, gosto muito do Jardim Casqueiro. Tenho orgulho de ser cubatense, vou ficar aqui até ir lá pro meu lugarzinho no Sítio Cafezal (onde fica o cemitério), quando morrer".

Ela conclui: "Agora, que vou ser cubatense até com medalha, vou ficar mais feliz ainda".

Ainda nesse caderno especial de 1999, outra notícia, também com texto do jornalista Manuel Alves Fernandes:

Ruth foi campeã sul-americana
Legenda e foto publicadas com a matéria

ATLETA

Ruth foi campeã de basquete pelo Brasil

Nascida em Cubatão, ela se destacou nesse esporte e no vôlei, quando só homens jogavam

Numa época em que as moças brasileiras começavam a cursar escolas superiores e ainda defendiam o direito ao voto feminino, uma adolescente esguia diferenciava-se das suas companheiras de quermesses e bailinhos, para freqüentar arquibancadas e quadras de basquete e voleibol, no começo da década de 40: Ruth Pereira.

Filha de Amaro Paiva Pereira e Elza Weinceck Pereira, ela nasceu em Cubatão em setembro de 1931. Aos 13 anos, já freqüentava a quadra de saibro do Grêmio Recreativo e Esportivo Química para apreciar os lances de basquete e vôley, esporte naquela época muito mais restrito do que hoje ao mundo masculino.

Cultor da história oral do passado de Cubatão, o historiador cubatense José Gouvêa dos Santos considera Ruth um dos melhores modelos de exemplo da perseverança da mulher cubatense.

Aos 15 anos, alta, delgada e forte para os padrões femininos da sua época, Ruth decidiu entrar na quadra para fazer as fintas, rebotes, passagens e cestas que via da quadra, compondo um quarteto com três rapazes.

"Só ela de mulher, pois havia poucas moças em Cubatão naquela época e nenhuma delas parecia ter afinidade com quaisquer tipos de jogos esportivos. Por isso, não restava a Ruth senão treinar entre os rapazes, adquirindo por causa deles uma técnica bem aguerrida", conta Gouveia.

A mãe de Ronaldo - Foi assim que Ruth passou a treinar no Colégio Canadá (N.E.: em Santos), onde aprimorou o que aprendera na prática, em Cubatão, sob a orientação do professor Musa, técnico de basquete e vôlei do Santos Futebol Clube.

"Logo nos primeiros treinos, Ruth encheu os olhos do técnico, que viu nela um extraordinário potencial, pois desenvolveu habilidades tanto para o basquete quanto para o vôlei".

Foi campeã santista de basquete e de vôlei de 1948 até 1955, sempre pelo Santos Futebol Clube, e também campeã sul-americana, numa memorável final contra o Chile, quando defendeu a seleção brasileira de basquete.

Só parou de jogar para se casar com Plutão Macedo, um conhecido dentista de Santos, também jogador e técnico de basquete do Santos.

Mas a saga de Ruth não parou aí. Teve dois filhos, Ronaldo e Rogério. Com o basquete no sangue, Ronaldo se tornou jogador desse esporte, com longa e brilhante carreira no Vasco da Gama, Santos Futebol Clube, Pinheiros, e Pirelli de Santo André. E chegou, como a mãe, à seleção brasileira, onde jogou ao lado de Xandó, Renan, Bernardo, Badalhoca, Willian, Amauri e Bernardinho.

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