PERSONAGENS Essas mulheres
brilhantes de Cubatão
Maria Albertina Pinheiro da Silva Mesquita (*)
Colaboradora
I - Encontrei-a em frente à agência do Banespa e a parabenizei
(Elisa Márcia) pela homenagem que recebeu no Dia da Mulher. Com sorriso largo, agradeceu-me e destacou a importância da mulher cidadã e sua mudança
de postura frente à vida pública.
Não respondi nada. Apenas fiquei em silêncio e me despedi. Naquele momento naveguei em
idéias e por instantes a imagem das casas das famílias Torres e Cesário vieram à minha mente. Não havia prédios, nem bancos, nem grandes casas
comerciais, apenas as antigas residências e seus grandes quintais.
A partir de então, iniciei uma busca pelo histórico de Cubatão.
Voltei no tempo e lembrei-me das conquistas de Cubatão desde as doações das sesmarias. Época
em que o Município passou a abrigar os jesuítas na Fazenda Geral do Cubatão. Uma vez ao ano, era celebrada uma missa cantada em intenção a Nossa
Senhora da Lapa.
A celebração dos jesuítas poderia ser para outros santos e beatos da igreja?
II - Caminhando na história da cidade, muito curiosa, me
deparo no ano de 1765 com o primeiro recenseamento da Vila de Cubatão, onde estão registradas 94 pessoas que se mantinham através da agricultura,
aluguéis de mulas e burros, vendas, rendas e ainda havia um caixeiro viajante.
Encontro o que procuro nesse censo: nove pessoas viviam de vendas, sendo três mulheres e uma
delas possuía dois escravos.
Nesta viagem pela história do Município encontramos mulheres obedientes aos seus maridos,
servindo em suas pensões aos tropeiros que por aqui passavam em viagem a São Paulo. Uma delas, consta, serviu ao próprio (príncipe, no dia em que o
destino e a vontade o tornasse) imperador.
III - Mas o que procuro ao longo da história são mulheres
audaciosas, iguais a Maria Joaquina, Maria Francisca e Rosa Maria, aquelas que possuíam vendas na Cidade. Acredito que, com certeza, os membros da
Comissão dos Emancipadores de 1948 recebiam incentivo de suas esposas para que o ideal da autonomia de Cubatão se concretizasse.
Em 1949, confirma-se o carisma da mulher cubatense na figura de dona Helena Meletti Cunha,
primeira-dama do Município. Uma alma cheia de bondade, de pulso firme, que lutou pelos menos favorecidos.
IV - Em 1951, é eleita suplente, para sua primeira
legislatura, outra cubatense, Maria Aparecida Meloni.
Mulher que entrou para a política partidária com idéias de bem-estar para a população e
desenvolvimento da Cidade. Iniciava sua trajetória política com o apoio de seu marido, seu maior incentivador.
As mulheres timidamente começavam a trajetória política naquele período da história do
Brasil, quando o incentivo maior era para a beleza física feminina, sob influência da América do Norte.
Cubatão, já emancipado, iniciava sua nova jornada na implantação das indústrias. As mulheres
cubatenses não se prevaleceram da política, mas denunciavam o primeiro vestígio da poluição, pequeninas manchas de ferrugem que surgiam nos lençóis
pendurados nos varais ao vento, nos quintais de bananeiras e mexeriqueiras.
Naquela época, Cubatão valoriza o convívio social-familiar onde os concursos de beleza
feminina eram disputadíssimos. Até hoje, uma figura de beleza feminina reconhecida é a da professora Neusa Ferreira.
V - Voltando à minha trajetória de encontrar a mulher
cubatense na política partidária, lembro-me de nomes, alguns já esquecidos, como as vereadoras Maria Auta Oliveira Ventura, Maria de Lourdes Pataro
Castro, Ruth Apolônio da Silva, Maria Rita Damasceno, todas mulheres audaciosas que lançaram-se ao pleito da Câmara Municipal de Cubatão, numa época
onde política era assunto de homens.
Elas deram início ao despertar da mulher cubatense, não necessariamente àquela nascida na
Cidade, mas a toda aquela que reside e ama esta terra. Na busca pela cidadania feminina, encontrei ainda registros de Maria Aparecida Pieruzzi de
Souza, que se tornou, pela sua atuação na vida pública de coragem e ousadia, a primeira e única até o momento a ocupar o cargo de presidente da
Câmara de Cubatão.
VI - Outros nomes em registro são o de Suzete Miranda Lima,
vereadora constituinte da Lei Orgânica Municipal, e Zilda Silvério Rodrigues, que representou a comunidade da Vila Sâo José no Legislativo.
Nesse período da história do Município, surge a primeira grande vitória feminina, quando se
elegeu para a Assembléia Legislativa a deputada Maria Cecília Passarelli, com expressiva votação, inclusive de outras cidades do Estado, diante de
seu trabalho em defesa da vida.
VII - Nas últimas eleições, a vereança traz-me uma grata
surpresa. Duas vereadoras são eleitas: Maria Aparecida Pieruzzi de Souza e Marli Luz Reinoso.
Vagando na história, volto aos dias de hoje, quando se comemoram os 50 anos de emancipação
de Cubatão. Acredito que a presença feminina continua tímida, pois talvez o apelo do marketing pela luta contra a velhice e a celulite esteja
prevalecendo.
É necessário que a mulher não deixe adormecer os seus ideais pela cidadania. É preciso que a
audácia e a coragem sejam suas armas.
VIII - Coragem e audácia de Marilda Canelas e Sira da Silva,
ambas candidatas a prefeita; não alcançaram a vitória no pleito, mas a vitória da vida.
Em 1998, Marilda Canelas e Maria Cecília Passarelli, num ato arrojado, entram em campanha à
Assembléia Legislativa, onde perdemos a oportunidade de dar representação ao nome de nossa Cidade e de nossas mulheres.
Vamos pensar. Estamos na luta pela igualdade há décadas e somos tão fortes que trabalhamos
fora de casa, cuidando dos filhos e do marido, somos cultoras econômicas da família. E, está provado estatisticamente, a mulher é menos corrupta.
As mulheres, na política, usam a cautela como alicerce às suas reivindicações, pois jamais
vão a um debate sem o pleno conhecimento da matéria.
IX - A intrepidez deverá ser a nossa prioridade, sem
esquecermos do batom. Há 19 cadeiras aguardando as marias joaquinas, franciscas e rosas marias.
Vale lembrar que o plenário da Câmara tem o nome de uma mulher - Helena Meletti Cunha.
Espero que no pleito do ano 2000 haja mais do que duas candidatas e que a mulher valorize a
mulher. Com isso, não quero dizer que não há bons políticos. Devemos rever nossa atuação no desenvolvimento da Cidade e não só no dia 9 de abril,
quando resgatamos a nossa memória, e sim no dia a dia.
X - Com certeza, a procura reavaliada será para o progresso e
bem-estar dos cubatenses. Aguardo ansiosa o emergir de algumas vozes femininas que não sei o porque estão ou foram caladas (Dindinha).
A expectativa para o próximo leito é de que, com certeza, haverá figuras dóceis, femininas,
elegantes, perfumadas, charmosas. E de notável valor!
(*) Maria Albertina Pinheiro da Silva Mesquita (mais
conhecida como Nenê) é professora, diretora da Escola Municipal de Educação Infantil Estado do Tocantins, e ex-secretária municipal de
Desenvolvimento Educacional. |