A pintora Wega Nery apresenta o escritor Afonso Schmidt em idade avançada, mas com o
seu olhar sempre penetrante e cada vez mais perscrutador
(Quadro pertencente ao acervo da Prefeitura Municipal de Cubatão)
Reprodução incluida no livrete de 1974 da P.M.C.
Traços biográficos - Filho de João Afonso e de Odila Brunckenn Schmidt, nasceu,
como é sabido, em Cubatão, na época distrito de Santos, a 29 de junho de 1890, falecendo em 3 de abril de 1964, na cidade de São Paulo, com 73 anos.
Faria, hoje (N.E.: em 1972),
dia de São Pedro, precisamente 82 anos de idade. Quase se chamou, por isso, Pedro. Houve também - o que muito me honraria - alguma sugestão para que
se chamasse Jorge. Na sua obra, porém, preferiu autodenominar-se Felipe (N.A.: Menino Felipe, Afonso Schmidt,
pág. 33).
Realizou os primeiros estudos em Santos, passando depois a São Paulo, onde os
completou quanto possível.
Jovem ainda, e em circunstâncias curiosíssimas, viajou duas vezes para o exterior,
perambulando pela Europa, desejoso do contato com a vetusta civilização do Velho Mundo.
Manifestou, desde a meninice, irresistível vocação literária e para a vida da
imprensa, às quais, aliás, veio a consagrar-se inteiramente. Durante muitos anos, trabalhou em O Estado de São Paulo, cujo Suplemento
publicou a primeira edição do já mencionado Zanzalá (N.A.: sob o título de A cidade
dos brinquedos, em 11/1936). Já O Enigma de João Ramalho foi editado pelo Clube do
Livro ao final de sua existência, em 1963.
E coisa rara entre nós, ainda em vida, alcançou relativa glória, conquistando vários
prêmios, como o da revista O Cruzeiro, em 1950, com o trabalho Menino Felipe, uma de suas cerca de setenta obras
(N.A.: reportagem de O Cruzeiro de 24/7/1948, Arlindo Silva); o Juca Pato, no
Concurso O Intelectual do Ano, em 1963 (N.A.: reportagem da Folha de São Paulo, de 18/2/1964, Paulo
Sérgio Freddi), vencendo a escritores do porte de Tristão de Ataíde, Cecília Meireles e outros.
Traços autobiográficos - Passemos rapidamente a ver como Afonso Schmidt, ele
mesmo, descrevia a sua vida. Como disse certa feita, nasceu entre os sapos e os lírios (N.A.: Menino Felipe,
Afonso Schmidt, pág. 59 e seguintes), no hiato de tempo em que Cubatão pertenceu à jurisdição santista.
Quando contava uns onze anos, ficando o lugarejo algum tempo sem escola, pôs-se a
"vagabundear pela estrada, descalço, a camisa para fora da calça" (N.A.: Menino Felipe, Afonso Schmidt, pág.
102). Assim continuaria sempre, não fosse o zelo de sua mãe, diz ele, que "se afligia com a nossa falta de instrução"
(N.A.: Menino Felipe, Afonso Schmidt, pág. 102), referindo-se a ele próprio e a
seus irmãos.
"Na infância", afirmou, "como agora", - e esta é uma nota bastante saborosa - "sempre
tive um desejo difícil de realizar: ser telegrafista da estação de Cubatão. Mas meus pais foram irredutíveis: fizeram os
maiores sacrifícios para que eu e meus irmãos estudássemos. Atendi-os o melhor que pude. E o pouco que aprendi bastou para comprometer o meu
futuro..." (N.A.: Folha da Manhã de 24/10/1955, reportagem de Raimundo de Menezes; e em Menino Felipe,
Afonso Schmidt, pág. 59 também).
A estação ferroviária de Cubatão, no início do
século XX
Reprodução do livro O Sonho e a Técnica, de Cacilda T. Costa,
no site Estações Ferroviárias do
Estado de São Paulo
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