O trem
Imagem de Maria Rosa Rodrigues, publicada no livro
Fim das tropas: o folclore nos trilhos da Railway
Como conseqüência do desenvolvimento econômico e
comercial da Capitania de São Paulo no século XIX, estava a decadência de tropas e tropeiros. Surge o transporte ferroviário entre o Litoral e o
Planalto.
É inaugurada a Estrada de Ferro São Paulo Railway, em 6 de setembro de 1865, ocasião
em que ocorre a primeira manifestação regional de folclore na poesia e ditos populares.
Muitos versos foram feitos sobre a grande novidade que representou a inauguração da
estrada de ferro entre Santos e São Paulo.
Segismundo José das Flores (pseudônimo caipira de Pedro Taques de Almeida) foi quem
escreveu um texto em três estrofes contando qual trágica foi a inauguração da estrada de ferro. Alguma coisa saiu errada, pois perto de São Paulo o
trem inaugural descarrilou, matando o maquinista e ferindo várias pessoas.
Foram esses os versinhos que falam do desastre da inauguração da São Paulo Railway
(hoje RFFSA) que terminou com a morte do maquinista e o descarrilamento do trem:
O passeio é de patente!...
Não se cai da ponte - não:
O carrinho vai direto
E somente perde o jeito
Na serra de Cubatão
O bichinho vai correndo
Que parece um buscapé
Vai a Santos num momento
Fumegando seu charuto
Com ares de chaminé
Quem tem medo de morrer
Numa estrada tão segura?
O passeio é deleitável
Há na serra água potável
Pra benzer a sepultura.
As festas de inauguração da chegada do primeiro trem foram adiadas. A população
expressava-se através dos ditos, florescia a criatividade de uma maneira sádica, que amenizava o acontecimento no inconsciente coletivo da época.
Não faltou quem gozasse a trágica situação da estrada de ferro; diziam que
"trem não é cabrito para subir serra"...
Esta é uma das poucas passagens registradas no século XIX que nos deixam algum aspecto
folclórico no campo literário, que veremos ramificar-se mais tarde, em meados do século XX, através do Cordel nordestino. |