PREOCUPAÇÃO
Vila Socó volta a conviver com o medo
Forte cheiro de gás faz moradores lembrarem da tragédia de 1984
Manuel Alves Fernandes
Da Sucursal
Moradores da antiga Vila Socó, em Cubatão, viveram,
desde a madrugada até as 12 horas de ontem, a mesma angústia de 20 anos atrás, temendo que os gases de produtos químicos (semelhantes a gasolina),
que saíam de ralos internos de casas e galerias de águas pluviais de algumas ruas, fosse o prenúncio de uma nova tragédia. O cheiro causava náuseas
e dor de cabeça.
Durante toda a manhã, técnicos da Transpetro, Cetesb e Defesa Civil vistoriaram os
sistemas de esgoto e drenagem, para detectar um possível vazamento do sistema de dutos que atravessa a Vila São José (nome
oficial da antiga Vila Socó).
O principal temor dos moradores é que algum dos dutos dessa subsidiária da Petrobrás
estivesse com vazamento.
Mistério - Até as 15 horas de ontem, não se sabia ao certo de onde partiu o
lançamento dos produtos químicos na rede de drenagem. Os moradores mais antigos da vila, como Geraldo de Jesus Guedes, 42 anos, continuam com medo.
Coincidentemente, o incêndio de 25 de fevereiro de 1984 começou a menos de 200 metros da Rua João Sendra Pontt, onde, ontem, o cheiro de gasolina
era mais forte.
Mas, o risco de explosão ou incêndio está afastado. O engenheiro Sidney Maia de
Barcellos, representante da Cetesb no local, disse que desde o primeiro momento ficou demonstrado que não havia possibilidade de explosão ou
incêndio.
A partir das 14 horas, com a remoção dos produtos químicos (operação feita pela
Transpetro) dos bueiros e o uso de cerca de dez mil litros de água para lavar a rede de saneamento, serviço coordenado por Antonio Piccoli, da
Secretaria de Meio-Ambiente da Prefeitura, o odor desapareceu.
Gato escaldado - Mas, na parte da manhã, o forte cheiro de gases levou as
equipes da Cetesb e a Defesa Civil a levantarem a hipótese de remoção de todos os cerca de 3 mil habitantes da vila. Essa medida foi descartada por
volta das 11 horas, após o risco de explosão ser considerado nulo. Técnicos da Transpetro também garantiram à Cetesb e ao prefeito Clermont Castor
(que esteve no local às 12h30) que o sistema de bombeamento de gasolina, GLP, álcool e derivados, formado pelos dutos entre a base de provimento de
Cubatão e o Porto de Santos, estava estacionário, sem enviar qualquer produto.
Apesar das justificativas, Clermont considerou válidas a cautela e a preocupação dos
moradores da vila, diante do incêndio que aconteceu em 1984: "Gato escaldado tem medo de água fria". Ele percorreu a área em companhia dos
vereadores Geraldo Guedes e Manuel de Jesus (ambos do PL) e dos secretários municipais de Desenvolvimento Urbano, Raul Borin, e de Meio-Ambiente,
Eduardo Bello. |