Menos fumaça nas indústrias de Cubatão
Foto: João Vieira Jr., publicada com a matéria
Cubatão consegue provar que o "Dia de São Nunca" existe
Manuel Alves Fernandes
Da Sucursal de Cubatão
Cubatão chega ao Rio de
Janeiro, a partir de hoje, para participar da Eco-92 ostentando um invejável cartel – se comparado com as cidades do México e Santiago, tidas como
as mais poluídas do mundo: identificou 320 fontes de poluição, mantém sob controle 90% delas desde 1990, e chegará a 99% do controle desses
afluentes, a partir de agosto, com a utilização do gás do Poço de Merluza.
O gerente-regional da Cetesb, Sérgio Alejandro, considera este feito notável: "Em
cinco anos, fizemos o que muitos países do primeiro mundo levaram mais tempo para fazer, e gastaram mais dinheiro. Mas o mais interessante, e que
precisa ser dito, é que Cubatão provou que existe o Dia de São Nunca. Cansei de ouvir dizer que a Vila Parisi, internacionalmente conhecida
como Vale da Morte, só acabaria no Dia de São Nunca".
O desafio da Vila Parisi, que de Vale da Morte passa agora a ser chamada de Centro
Empresarial Vale da Vila (N.E.: SIC: correto é Vale da Vida),
foi vencido no dia 24 de maio, cinco dias depois deo Banco Mundial, em relatório sobre os valores que aplica para o controle ambiental, ter citado a
Cidade como exemplo de combate à poluição.
Saneamento – O prefeito Nei Serra vai usar esse trunfo para pleitear
oficialmente, com o apoio da Fundação Brasileira de Conservação da Natureza, recursos do Banco Mundial para concluir as obras de implantação da rede
de esgotos na Cidade.
"Já implantamos 60% da rede de esgotos, mas precisamos de ajuda para construir o
restante do sistema, beneficiando bairros do Jardim Casqueiro, Jardim Nova República e Ilha Caraguatá". O prefeito assinala que, como resultado, em
1992 já se registrou a menor taxa de mortalidade infantil da história da Cidade.
Os recursos também serão usados para aterrar a Vila dos Pescadores e prosseguir no
plantio de árvores. Esse programa, em andamento há dois anos, permitiu a criação de dez parques ecológicos e levou às escolas municipais a
valorização da mentalidade de preservação da natureza.
Não governamentais – Serra viajou no dia 1º para o Rio de Janeiro e vai
participar dos debates do Fórum de Entidades não Governamentais. Nesse recinto, será armado – segundo o secretário municipal de Meio Ambiente, Raul
Christiano Sanchez – um stand com painéis sobre a Cidade e exibido um vídeo sobre as conquistas no campo ecológico. No dia 5, o prefeito
retorna à Cidade, para participar das comemorações do Dia do Meio Ambiente, inaugurando o jardim da Vila São José.
O prefeito também aproveitará para lançar no Rio de Janeiro o Concurso Nacional de
Jornalismo – Prêmio Cubatão de Imprensa, e falar a respeito do 1º Código Municipal de Meio Ambiente, que possibilita à Prefeitura fiscalizar as
indústrias.
Passado – O presidente da Câmara, Manoel Ubirajara Pinheiro Machado (PDT),
lembra que antes de 1984 a população respirava 236,6 toneladas de poeira por dia. E mais: 2,6 toneladas de fluoretos; 8,7 toneladas de amônia; 61
toneladas de óxido de nitrogênio e 78,3 toneladas de dióxido de enxofre, por dia.
As indústrias de Cubatão, conforme Walter de Oliveira, diretor da Delegacia do Centro
das Indústrias do Estado de São Paulo, gastaram cerca de 450 milhões de dólares para reduzir o lançamento de poluentes aos níveis recomendados pela
Organização das Nações Unidas.
Ilhas de calor – O ex-vereador Florivaldo de Oliveira Cajé ainda suspeita que,
sobre Cubatão, haja duas imensas ilhas de calor (uma no vale do Rio Moji, onde fica a Cosipa, e outra no Vale do Rio Cubatão). Segundo informes da
Cetesb, na década de 80 essas ilhas contribuíram para danificar a camada de ozônio.
Já o vereador Romeu Magalhães (PDC) cobra mais providências dos industriais: quer a remoção rápida de resíduos químicos ainda existentes nas margens
do Rio Cubatão, perto do antigo lixão da Prefeitura, em Pilões. E lembra que mais de deois mil leucopênicos esperam uma solução para os seus males,
causados pela coqueria da Cosipa.
Da mesma forma, o curador de Meio Ambiente da Comarca, Pablo Greco, exerce severa
vigilância para impedir que, por falta de manutenção, ocorram recaídas no
Programa de controle, como vem acontecendo com os repetidos acidentes na Refinaria Presidente Bernardes.
Essa vigilância será redobrada com a aprovação do 1º Código Municipal de Meio
Ambiente. A Prefeitura poderá entrar nas indústrias, e, a exemplo do que faz a Cetesb, multá-las e até interditá-las, se não respeitarem a
legislação.
Imagem: reprodução parcial da página com a matéria
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