O engenheiro diz que os moradores e os industriais podem mostrar ao mundo resultados
importantíssimos, mas muito ainda precisará ser feito
Foto: João Vieira, publicada com a matéria
EM FOCO/Sérgio Correa Alejandro
Cubatão vai à Rio-92. Com orgulho
A poluição ambiental em Cubatão está realmente sob controle? Para quem duvida dessa
realidade, o gerente regional da Cetesb no Município, Sérgio Correa Alejandro, exibe números, fatos e atestados, alguns de autoridades como as do
Banco Mundial. Para ele, Cubatão já pode ostentar sem receio o título de Cidade Símbolo do Controle Ambiental na Rio-92, que se realiza a partir do
dia 3, no Rio de janeiro. "Somos realmente um exemplo para o mundo", assinala.
Com a chegada a Cubatão do gás do Poço de Merluza, previsto para o próximo mês, as
indústrias substituirão o óleo de baixo teor de enxofre por essa nova forma de energia não poluente. Alejandro pondera que, apesar de o controle
ambiental ter atingido níveis elogiáveis, é necessário sempre que a comunidade permaneça vigilante.
Ele gosta de lembrar que o controle ambiental é uma questão técnica, aritmética e, às
vezes, política, embora prefira olhar sempre a questão sob o ponto de vista técnico. Mas ele ainda recebe críticas. "Nossos amigos dizem que
atingimos 90% de controle das fontes. Os inimigos, que falta ainda 10%. As duas versões são verdadeiras".
Manuel Alves Fernandes
Da Sucursal de Cubatão
- Acabou a poluição em Cubatão?
- Não. A poluição está sob controle, uma vez que os processos industriais não foram
alterados. O potencial de poluição permanece o mesmo. O que foi feito no programa de controle foi implantar sistemas que reduziram os níveis de
emissão dos poluentes que iam para o ar, para a água e para o solo de Cubatão.
- Com esses resultados Cubatão já pode ostentar sem medo o título de Cidade Símbolo
da Ecologia?
- Cubatão pode ostentar o título de Cidade Símbolo do Controle Ambiental. Pelo menos
nesta década, a nível de América Latina, não foi realizado nenhum programa de controle ambiental como o nosso, reconhecido inclusive pelo Banco
Mundial, pelos resultados positivos para uma cidade industrial. É importante deixar claro que um programa de controle ambiental é sempre uma obra
inacabada. Há sempre algo a ser feito. E depende também da conscientização das indústrias, em manter e operar adequadamente os seus sistemas de
controle.
- O ex-presidente da Cetesb, Werner Zulauf, está preocupado com a falta de
manutenção desses equipamentos. Há fiscalização nesse setor?
- A Cetesb tem um programa específico de acompanhamento. Alguns sistemas que foram
instalados na época do dr. Werner (1985) já foram substituídos. A questão da manutenção adequada é de extrema importância porque o meio ambiente
aqui em Cubatão é extremamente sensível. Qualquer quebra desse sistema representa uma deterioração rápida da qualidade ambiental.
- O que falta para Cubatão ostentar realmente o título de Cidade Símbolo da
Ecologia?
- Temos que avaliar Cubatão não somente a partir do ponto de vista da poluição, mas de
indicadores de qualidade de vida. Além da qualidade ambiental, a Cidade também teve uma melhoria no saneamento básico, com a implantação de uma rede
de esgoto que simplesmente não existia em uma localidade de 30 anos. Também melhorou na questão da arborização.
- Os parques ecológicos contribuem para isso?
- Sem dúvida nenhuma. Eu entendo que Cubatão evoluiu de um município para uma cidade,
uma cidade que devolveu a cidadania a seus habitantes, porque eles sofreram por muitos anos e por causa da poluição perderam a sua própria
identidade como moradores de Cubatão.
- Acabou o estigma de morar em Cubatão?
- Exatamente. Hoje podemos ter orgulho de ter resgatado a cidadania. Não só o morador,
mas todos nós que trabalhamos em Cubatão podemos ter esse orgulho. Devemos compatibilizar cada vez mais essa necessidade de trabalhar e de morar.
Devemos compatibilizar uma cidade industrial com o bem estar da sua população.
- Muitos consideram que foi um desafio a ser vencido. Qual a sua opinião sobre a
extinção da Vila Parisi?
- A Vila Parisi é um dos pontos que nos remetem à raiz real dos problemas cubatenses.
Além da poluição industrial, Cubatão sempre sofreu de uma necessidade de infraestrutura sanitária e de uma legislação adequada de uso do solo. Nós
tínhamos a antiga Vila Socó. Houve, ali, aquele acidente grave. Temos a Vila dos Pescadores, onde há possibilidade de acidente ambiental grave; e os
bairros-cotas; o antigo lixão de Pilões, também, com ocupação residencial. E a Vila Parisi representa realmente, em termos de fotografia, essa
questão inadequada de uso de solo. Naquela região, considerando-se o potencial poluidor que se tem, por causa das condições meteorológicas
inadequadas, não se recomendava a permanência de um bairro residencial.
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"Até 93, a poluição estará totalmente sob controle, com o gás de Merluza" |
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- Foram controladas 90% das fontes de poluição. Mas ainda restam problemas
ambientais, como os causados pela Cosipa. O que fazer?
- Das 320 fontes de poluição, que são o problema primário, os 10% restantes estão na
Cosipa, que recentemente assinou um compromisso com a diretoria da Cetesb para, no prazo de dois anos, regularizar esse controle. Junto com esse
programa de retomada da Cosipa, também iniciamos um programa de fontes secundárias, que englobam mais 270 fontes. Então, até dezembro de 1993,
Cubatão estará totalmente controlado. São pequenas fontes. Mas como são numerosas, também causam problemas.
- O que representará o gás de Merluza, que entusiasma Nei Serra, quando chegar à
Cidade?
- Eu compartilho do entusiasmo do prefeito. O gás natural representa para Cubatão o
ganho definitivo em termos de controle total do dióxido de enxofre, que é um poluente causador dos problemas respiratórios aos moradores do
Município.
- Como é que o gás vai substituir o óleo poluente?
- Em Cubatão, já é utilizado óleo combustível de baixo teor de enxofre. Se pudermos
eliminar o dióxido de enxofre da atmosfera, tanto melhor para a Cidade. E vai ajudar a eliminar as partículas de granulometria muito fina que é
proveniente daquele óleo combustível também. O gás natural é bem recebido em qualquer polo industrial. E onde foi implantado sempre trouxe um
retorno benéfico em termos de redução de problemas respiratórios nos grupos mais sensíveis,q eus são as crianças e os idosos.
- Crianças e idosos que sofrem com a poluição, leucopênicos, pessoas com metais
pesados no sangue ainda fazem parte da realidade de Cubatão. O que a Cetesb tem feito?
- A nível dos trabalhadores do polo industrial, o mais grave que ocorreu foi a
leucopenia ligada à coqueria da Cosipa. Dentro do programa de controle, a Cosipa tomou uma série de medidas de melhoria das instalações da coqueria.
Na área urbana de Cubatão, onde vive realmente a população, temos a qualidade do ar dentro dos padrões exigidos pela Organização Mundial de Saúde,
tanto que Cubatão-Centro, hoje, é a terceira melhor estação de medição da Cetesb para a qualidade do ar.
- A população viu com tristeza, na semana passada, a morte dos peixes no Rio
Cubatão, que voltou a ter vida. Isso se repetirá?
- A Cidade tem que buscar nesses sinais de contradição que é possível realmente
resgatar em definitivo a qualidade ambiental de Cubatão. É preciso também uma responsabilidade dos segmentos industriais no sentido de se manter a
qualidade de vida e se evitar uma ação desastrosa como foi a morte dos peixes numa quantidade que deixou a nós, técnicos, entristecidos, pois estava
havendo uma recuperação acima da expectativa em termos de vida aquática.
- E a vegetação?
- A mata atlântica também tem apresentado uma recuperação significativa. O gás natural
deverá ajudar bastante nessa recuperação.
- O que Cubatão tem para mostrar na Rio-92?
- Os organismos internacionais que estarão na Rio-92 já reconhecem o programa de
Cubatão como um programa que realmente deu certo. Tivemos experiências no Exterior de entidades que ficavam fazendo pesquisas de poluição por 10 a
15 anos e depois não implementaram o programa de controle, de fato. Em Cubatão, não perdemos tempo com pesquisas e partimos para o controle direto.
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"Os moradores de Cubatão perderam sua identidade por causa da poluição" |
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- A nível local, a população às vezes se queixa da refinaria. O que está havendo?
- A Refinaria Presidente Bernardes já atendeu a todas as exigências da Cetesb, já
controlou todas as fontes. As emissões episódicas de substâncias odoríferas estão associadas a falhas de operação. O que falta na refinaria é um
programa rigoroso no sentido de evitar essas falhas. A localização da refinaria é um problema crítico em relação à Cidade. Sempre há possibilidade
de episódios de odor.
- Como a população pode contribuir para reduzir a poluição?
- Colaborando com a Cetesb, telefonando para nós sempre que houver alguma
irregularidade. O nariz humano é o melhor equipamento que existe para apontar casos de poluição.
- O que pode a população de Cubatão reivindicar à Rio-92?
- Deve reivindicar o que o Terceiro Mundo está esperando da Rio-92: uma melhoria de
qualidade de vida e uma renovação tecnológica do seu parque industrial. Com essa renovação, você terá um aumento da produção industrial com menor
impacto ambiental. Cubatão pagou o preço do progresso do Terceiro Mundo, um progresso simplesmente desvinculado da qualidade de vida. Tivemos
milhões de dólares gerados pelo parque industrial, de um lado, e do outro lado da cerca crianças sendo sustentadas pela merenda escolar da
Prefeitura. São esses problemas industriais que a conferência vai procurar corrigir. Temos que ter indicadores sanitários mais adequados, ou seja,
rede de água e de saneamento e moradia adequados, ou seja, rede de água e de saneamento e moradia adequada, além, naturalmente, da erradicação da
subnutrição crônica da população infantil.
- As indústrias controlaram a poluição e agora querem voltar a crescer. Podem?
- Entendo esse pleito como legítimo. Mas, ele deve passar necessariamente por uma
mudança do perfil industrial, em especial de novas unidades industriais a partir da transformação dos produtos primários da Cosipa, porque Cubatão
tem uma concentração muito grande na indústria primária de petróleo, fertilizantes e aço, que normalmente tem um potencial poluidor muito grande e
uma mão de obra muito pequena, o que causa um desequilíbrio ambiental sem retorno social para a Cidade. Com essa transformação, você terá um
benefício em termos de renda e de oportunidades de trabalho para a população. Vejo o crescimento industrial de Cubatão por esse caminho. Se esse for
o caminho dos empresários, realmente nós estamos com eles.
- A questão ambiental não passou também por uma decisão política?
- A questão ambiental é uma questão tipicamente técnica, aritmética. Se você faz, tem
resultados. Não existe mágica nesse assunto. Mas, para implementação de um programa como esse, é necessário uma ação política forte. Nâo houve uma
descontinuidade administrativa, o que no Brasil acontece muito. É um programa que vem desde 1982-1983 e teve uma continuidade sempre crescente em
todos os governos. A questão ambiental é muito complexa do ponto de vista da discussão. Nós temos uma série de carências sociais e sanitárias que se
confundem com poluição. Muita coisa foi feita, mas ainda há muito o que fazer. Não existe obra acabada. Os nossos amigos dizem que já vencemos 90%;
os nossos inimigos, que ainda falta 10%.
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"Cubatão evoluiu de um Município para Cidade, ao deter a poluição industrial" |
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- A população ainda se queixa de indústrias muito próximas da área urbana. Isso tem
solução?
- O controle de poluição não direcionou em termos de localização de indústrias.
Fizemos um trabalho corretivo. Restou a Cubatão, ainda, a questão da má localização de plantas industriais, ou da falta de um ordenamento na questão
do uso do solo.
- Alguns episódios de poluição não são registrados pelo mostrador instalado na
Avenida Nove de Abril. Por que?
- O mostrador só registra dados de poluentes efetivamente medidos aqui em Cubatão, que
são material particulado, dióxido de enxofre e ozona.
Imagem: reprodução da página com a matéria
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