O plantio abrangerá área de 400 a 600 mil m² em Cubatão, Mogi das Cruzes e Mauá
Foto: João Vieira, publicada com a matéria
Começa o plantio na Serra
Mateiros contratados pelas indústrias iniciaram ontem a semeadura de braquiárias
nas encostas destruídas pela poluição, em Cubatão, numa tentativa liderada pelo Governo do Estado para conter os deslizamentos que estão previstos
para janeiro e que poderão atingir tanques e dutos que conduzem combustível. O plantio abrangerá apenas as áreas atrás da Ultrafértil e da Copebrás,
conforme determinação do presidente da Comissão Estadual de Reflorestamento, Werner Zulauf, uma vez que a iniciativa está recebendo críticas de
agrônomos e ecologistas.
O processo de semeadura foi mostrado a jornalistas, ontem pela manhã, durante
visita à área que contou com participação do relações-públicas de uma agência de publicidade que iniciou campanha para mudar a imagem negativa de
Cubatão. Os industriais continuam negando que a poluição seja a causa da destruição da vegetação. A campanha foi repudiada por vereadores e começou
em dia infeliz: nasceu e morreu ontem mais uma criança sem o cérebro, em Cubatão.
Enquanto mateiros cuidavam de semear grama para trazer o verde de volta às escarpas poluídas da
Serra, Cubatão lamentava mais um caso de anencefalia
Foto: João Vieira, publicada com a matéria
Um grandioso tapete verde
Dois tipos de braquiárias, que é uma espécie de capim
africano, começaram a ser plantados ontem em cerca de 400 a 600 mil metros quadrados de Serra do Mar, em Cubatão, Mogi e Mauá. O serviço será
executado por uma equipe de mateiros. Dez são da Ultrafétil e outros dez contratados pelas demais indústrias. As gramíneas - braquiária decumbens
e braquiária humidicola - foram adquiridas da Cotebrasil e toda a operação custará cerca de Cr$ 200 milhões, segundo um informe distribuído
pela direção da Ultrafértil. Esse custo será dividido por todas as indústrias de Cubatão, e o programa conta com o apoio da Secretaria da
Agricultura, Cetesb, IPT, Defesa Civil do Estado e Prefeitura de Cubatão.
Imagem-"selo" publicada com a matéria
A
braquiária decumbens é uma gramínea de rápido restabelecimento e proporciona alta produção de massa verde, formando um tapete de 30 a 70 cm
de altura. A humidícula desenvolve-se mais lentamente, mas uma vez em estágio adiantado não dá margem ao praguejamento e forma ramos que se
prendem ao solo. É uma variedade resistente à seca.
Embora técnicos da Secretaria da Agricultura - entre eles José Mitidieri - garantam que a
braquiária não admite consórcio (não dá margem a que outro tipo de vegetação ou leguminosa cresça junto), a Ultrafértil colocou no informe que "para
melhores resultados, posteriormente, será realizado plantio de leguminosas, em consorciação".
A favor - Segundo o informe, o delegado regional da Secretaria da Agricultura,
engenheiro-agrônomo Cassiano Jorge Salles de Aguiar, ressaltou a validade da iniciativa da Ultrafértil: "Entre deixar o
terreno nu e plantar gramíneas, fica-se com a segunda opção. Se a grama se desenvolver e vicejar, a contribuição será positiva".
A grama, embora de outro tipo, foi plantada pela Petrobrás para fixar regiões onde foi instalado o oleoduto.
Nativo da África, e não da Austrália, esse tipo de capim tem uma raiz com mais de 30
cm de profundidade e segura o solo, permitindo infiltração das chuvas e evitando a erosão. Pesquisas feitas por órgãos oficiais e fazendeiros
garantem que a braquiária é eficiente contra erosões. Os taludes da Via dos Bandeirantes, que liga São Paulo a Campinas, são protegidos por
braquiárias. Concluindo, o informe esclarece que outra característica positiva da braquiária é a sua capacidade de rebrote: após secar, a planta
novamente emite brotos, retomando seu ciclo vegetativo.
Importante é eliminar poluição
"Não adianta plantar braquiárias ou qualquer outro tipo
de vegetação, sem antes eliminar a poluição que destrói a Serra do Mar em Cubatão". A opinião é do presidente da
Câmara, Gigino Aldo Trombino, que também esteve ontem no local de plantio das sementes de capim, na Ultrafértil. Antigo caçador, Trombino percorreu
a região hoje devastada e acha que se a poluição cessar, a vegetação se regenerará naturalmente.
"Não precisa plantar capim. O mato tomará conta da Serra
do Mar, é só parar de jogar poluentes. Esse plantio de braquiárias está parecendo uma extrema-unção da serra. Parece aquela história da família que
manda chamar o padre para consolar o doente, porque em breve ele será defunto".
Mais comedido, o vereador Florivaldo de Oliveira Cajé, presidente da Comissão
Municipal para o reflorestamento da Serra, concorda que é primeiro necessário combater a poluição para depois pensar em regeneração das matas. Mas,
ele considera importante tentar essa iniciativa da Ultrafértil, porque não foi até agora apresentada outra:
"Se alguém tiver outra idéia pode trazer que nós a
analisaremos e se for melhor que a braquiária, pararemos de plantar capim e a adotaremos".
Cajé convidou para participar da visita o agrônomo Matsuo Yokoyama, da Difasa, uma
firma de paisagismo e hidrosemeadura interessada em ajudar no reflorestamento.
Matsuo: "O ideal é fazer um consórcio, misturando
gramíneas, leguminosas e essências naturais". Entre as leguminosas que podem ser plantadas na serra estão, segundo
Matsuo, calopogônios, a soja perene, centrozemas, feijão-guandu e labe-labe. E sugeriu árvores locais: jacarandás, manacás, cana-fístula, subipiruna;
além de arbustos como os bambus. Matsuo estudou técnicas de regeneração florestal no Japão, e ao final da visita deu sua opinião:
"A moral da história é simples. O importante é controlar
a poluição. A medida de plantar braquiárias como solução imediata e paliativa, está correta. É uma solução emergencial, mas não a ideal. É preciso
pensar num consórcio".
Fator coadjuvante - Florivaldo Cajé não concordou com a observação de Cyro
Albuquerque, segundo o qual a poluição é fator coadjuvante na destruição da vegetação:
"Fator coadjuvante não. Fator principal. A serra estava
equilibrada. De repente, o fator poluição é preponderante. O ato criminoso das indústrias que não controlaram a poluição levou à destruição da
serra. Agora, nenhuma assume diretamente a culpa, embora a ação delas, unindo-se para custear o plantio de braquiárias, signifique uma confissão.
Elas não estão dando nada de graça. É uma confissão de culpa. Se a serra desabar, será um castigo que se estenderá a todas. Há ano e meio atrás eram
só os vereadores de Cubatão que denunciavam a destruição da serra. Agora, é a comunidade que se movimenta e o governo que se preocupa. Há ano e meio
atrás eu era impedido de entrar na Ultrafértil. Até de rifle fui recebido uma vez. As coisas mudaram e as indústrias mostram boa vontade para
solucionar o problema".
Cajé explicou que um técnico da Secretaria da Agricultura acompanhará a semeadura, que
está sendo feita apenas com a utilização de homens.
A idéia de utilizar helicópteros foi abandonada, porque a turbulência das hélices
impede a distribuição das sementes nas escarpas da serra. Poderá ser utilizado um avião. O sistema de hidrosemeadura (jatos de água) também foi
abandonado, porque o equipamento pesa oito toneladas e não pode ser levado aos pontos mais íngremes.
Ravinas - O trabalho dos mateiros e semeadores é difícil. O ponto até onde
foram os jornalistas foi considerado de fácil acesso. Mas, foi necessário subir de ônibus durante 20 minutos por uma estradinha da Eletropaulo e o
trecho restante, cerca de 100 metros, foi feito a pé por uma picada aberta na mata, até chegar aos homens pendurados nas cordas. A vegetação estava
destruída e a longa cicatriz, embora imensa, não podia ser vista do pé do morro. O trabalho começou em duas frentes, da Ultrafértil para o Vale do
Rio Mogi, ao Norte; da Ultrafértil na direção da RPBC, ao Sul. A área tem de 400 a 600 mil metros quadrados.
Por outro lado, o presidente da Cetesb e presidente da comissão estadual que cuida do
reflorestamento, Werner Zulauf, disse que o plantio só será feito atrás da Copebrás e da Ultrafértil, pois esses são os pontos mais afetados pela
poluição. Acima da Ultrafértil e no restante da Bacia do Rio Mogi, a braquiária não será plantada agora. A informação contradiz o que foi explicado
na Ultrafértil.
A Cetesb pediu ao Instituto Florestal que aponte soluções para a área atrás da
Refinaria Presidente Bernardes, que também ameaça deslizar.
Manah alega que poluição não afeta a Serra do Mar
Lane Valiengo
A tentativa de descaracterizar a poluição como a verdadeira causa dos desabamentos na
Serra do Mar, através de uma campanha muito bem articulada e que foi denunciada antecipadamente por A Tribuna, está em pleno curso. Além de
uma estratégia destinada a praticamente "invadir" os meios de comunicação e da ameaça de ação judicial, caso não fosse permitido o plantio de
braquiárias, os setores de Comunicação das indústrias, que até agora se mantiveram no mais absoluto silêncio, recusando-se inclusive a participar de
debates, estão enviando opiniões a respeito.
O presidente da Manah, o engenheiro-agrônomo Fernando Penteado Cardoso, por exemplo,
"que esteve no local para analisar o problema", conforme o setor de Comunicação da empresa, faz alegações muito interessante: primeiro, volta ao
velho tema do "alarmismo" que, segundo ele, "está contribuindo para estabelecer um clima de insegurança, senão de
pânico, entre seus habitantes e prejudicando a confiabilidade das empresas locais perante seus empregados e acionistas".
O engenheiro, mais além, afirma que "não há qualquer
sinal de destruição da flora, deixando o solo exposto, como foi notificado". Tem mais: "Muitas
espécies de copa alta estão desfolhadas ou mortas, enquanto a maior luminosidade incentivou uma vegetação de menor porte que recobre totalmente o
solo. Contrariamente ao que alguns jornais noticiaram (Nota: A Tribuna não só noticiou como comprovou, em
diversas ocasiões), várias espécies de vegetação arbustiva estão se adaptando bem às condições locais e, pela sua
densidade, são até mais apropriadas na contenção da erosão que a vegetação arbórea". Mas, mesmo assim, o presidente da
Manah reconhece: "No entanto, umas e outras não oferecem proteção satisfatória aos deslizamentos quando as chuvas
atingem altíssimos índices pluviométricos".
O engenheiro procura, a seguir, mostrar que os desabamentos ocorridos na Serra do Mar
são provocados exclusivamente pelo excesso de chuva, chegando até a afirmar, com todas as letras, que a poluição não é culpada: "Os
deslizamentos, principalmente no Vale do Rio Mogi, ocorreram também em encostas pedregosas, independentemente do tipo de vegetação existente, não
estando comprovada qualquer correlação com os efluentes gasosos das indústrias de Piaçaguera".
E conclui: "O que realmente provoca os deslocamentos de
terra é a precipitação característica das trombas d'água, com intensidade superior ao ritmo normal de percolação que, saturando a camada sobreposta
à rocha, reduz a coesão da terra e aumenta o peso da massa. Assim rompe-se o equilíbrio e ocorrem os deslizamentos do material em estado pastoso.
Isso acontece com maior freqüência nos declives fortes ou quando o solo é raso".
Campanha - Um detalhe esquecido pelo presidente da Manah em suas explicações:
os fluoretos, emitidos principalmente pelas fábricas de fertilizantes (como a Manah) e pela unidade de gasolina de aviação da Petrobrás, em Cubatão,
agem pouco sobre o organismo humano. Mas são letais para qualquer tipo de vegetação.
Recentemente, constatou-se que, no Rio Cubatão, a concentração de fluoretos é de 300
miligramas por litro. As normas internacionais indicam que o máximo recomendado é de 1,4 miligramas.
Na edição de domingo, A Tribuna denunciou que as indústrias de Cubatão estavam
preparando uma campanha para tentar convencer a opinião pública de que a poluição não fez nenhum mal à serra. Como se previa, ainda há a insistência
em culpar unicamente a movimentação geológica natural. Só que todos os recursos que o Ciesp está arrecadando para esta "ofensiva" poderiam
estar sendo gastos na instalação, o mais rápido possível, de equipamentos para eliminar, de uma vez por todas, a poluição de Cubatão.
Quanto à ação da poluição, o curador de Justiça do Meio-Ambiente, Édis Milaré, já
garantiu que os danos causados pela emissão de poluentes já estão devidamente caracterizados para fins legais.
Cajé critica tema da campanha
A idéia é a mesma que José Osvaldo Passarelli, ex-prefeito de Cubatão, vinha
defendendo: "Melhorar a imagem da Cidade, conhecida no exterior como das mais poluídas do mundo, mostrando coisas boas
como a Orquestra Renascentista, uma banda de excelente qualidade, conjuntos de choro e um ótimo nível cultural". É
assim que a AAB, Olgivy e Mather Relações Públicas Ltda. pretende mudar a imagem de Cubatão, bastante desgastada.
E é assim, também, que Florivaldo Cajé vê essa preocupação de as indústrias tentarem
esconder com uma peneira a verdadeira realidade: "Li nos jornais que essa agência aproveitou uma idéia do prefeito Nei
Serra para bolar a campanha Cubatão-Coração. Não acredito que Nei Serra tenha ido buscar uma imagem tão pueril, que lembra as idéias de José
Osvaldo Passarelli, para mudar a realidade de Cubatão. Nei Serra está integrado na nossa comunidade. Não teria lembrança tão infeliz".
A campanha para mudar a imagem de Cubatão está sendo custeada pela delegacia do Centro
das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) em Cubatão. Ontem, mocinhas com camisetas tendo na frente um coração e nas costas um desenho verde com
a inscrição "Cubatão busca suas próprias soluções", circulavam entre os técnicos e políticos que foram ver, com a imprensa, o início da semeadura
das braquiárias.
A agência tem uma tarefa considerada difícil: acabar com a má impressão que as pessoas
têm de Cubatão, uma Cidade onde as crianças nascem sem o cérebro e a poluição atinge níveis altíssimos.
Para Cajé, é mais fácil do que se pensa mudar a imagem de Cubatão:
"É simples. Basta controlar a poluição e recuperar os
nossos rios e as nossas florestas. Do contrário, eles vão gastar latas de tinta verde para repintar as florestas e o céu de azul. É melhor pegar
esse dinheiro que gastam com a agência e colocar aparelhos de controle ambiental. Se estiver sobrando, podem mandar para as casas assistenciais de
Cubatão. Isso que estão fazendo é tolice. Ninguém vai cegar a gente, ninguém vai dobrar o povo de Cubatão com camisetas para bater palmas para as
indústrias. Isso é mais um engodo das fábricas".
O vereador disse que a própria agência concluiu que o morador de Cubatão é visto hoje
como um doente, barrigudo e que a Cidade é preta, cortada por rios sujos. "Essa é a verdade e não adianta querer
mascará-la. É preciso mudá-la. É besteira fazer campanha enquanto isso existir. E ninguém aqui é imbecil ou burro para acreditar nessa história de
Cubatão-Coração".
Filmes mostram Serra ferida
As encostas desmatadas da Serra do Mar, feridas por centenas de deslizamentos
de terra, ganharão as telas dos cinemas de Santos. Os diretores das empresas Cinemas de Santos e Freixo Cine Teatral concordaram em apresentar um
filme sobre as condições da serra, antes do início das sessões normais.
A proposta de divulgar o problema utilizando as telas partiu da Movimento de Defesa da
Vida, que acabou conquistando um espaço importante para conscientizar a população sobre os riscos a que está exposta. E é justamente o processo de
conscientização que o movimento pretende intensificar para que se obtenha força suficiente para enfrentar autoridades e indústrias e obrigá-los a
tratar a problemática com seriedade.
Hoje, às 20 horas, na Gota de Leite, haverá uma
nova reunião do Movimento de Defesa da Vida. Durante o encontro, serão fixados os novos passos da campanha em defesa da serra e formados grupos que
percorrerão sociedades de melhoramentos, escolas, associações e demais órgãos e entidades mostrando os slides feitos pelo Instituto
Florestal, em vôo sobre as áreas degeneradas. É a partir destes slides que se fará o filme para projeção nos cinemas.
Para a ruenião de hoje estão sendo convidadas, particularmente, as pessoas
encarregadas das listas do abaixo-assinado que discrimina as principais reivindicações da população da Baixada Santista.
Criança anencefálica entristece festa
Clóvis Vasconcelos e Manuel Alves Fernandes
CUBATÃO - O vereador Romeu Magalhães, do PDS, revelou ontem um acontecimento
que, sem dúvida, trará dificuldades para a campanha recém-iniciada pelo Ciesp que busca mudar a imagem do Município: foi registrado na Santa Casa de
Cubatão o nascimento e depois a morte de mais uma criança anencefálica na Cidade.
Tratava-se de uma moradora da Travessa F, número 20, na Vila São José (ou Socó) e que
veio a falecer às 22h45 do dia 1º de julho, conforme constatação do médico José Roberto Mazzarolo. Romeu Magalhães ficou sabendo do caso ontem à
tarde, quando ainda não havia tomado conhecimento da campanha do Ciesp, que leva o título de Cubatão-Coração.
Este novo caso de anencefalia vem juntar-se a inúmeros outros já registrados no
Município, conforme explicou o vereador, que realiza levantamento nesse sentido desde 1980. As pesquisas foram prejudicadas durante o ano de 1983,
justamente depois que a Prefeitura comprou a Santa Casa de Cubatão, ainda em 1982. Ontem, ao tomar conhecimento da campanha para mudar a imagem da
Cidade, Romeu demonstrou não acreditar e depois revelou toda a sua indignação.
A reação do vereador Romeu Magalhães foi violenta. Ele lembrou do slogan da
campanha e fez uma sugestão: "Quem tem Cubatão no coração faz a contratação dos técnicos da USP para que façam um
levantamento dos malformados que nascem na Cidade". E denuncia: "De 27 de maio de 1984 até
hoje, nasceram seis malformados: quatro anencefálicos (sem cérebro), um com malformação congênita e outro com má apresentação geral".
A campanha do Ciesp, segundo Romeu, não passa de uma tentativa das indústrias de
tampar o sol com a peneira. E perguntou: "Por que não começam a fazer os testes de cabelos? Onde está o laboratório
teratogênico (para análises)? Por que a verificação de óbitos não é feita por um patologista ao invés do simples laudo do IML? Afinal, o caso de
Cubatão necessita de uma equipe de estudos para avaliar todas as conseqüências da poluição sobre a população".
Para o vereador, quem tem amor no coração, antes de tudo, cuida dos seus filhos: "E
não gasta fortunas com campanhas demagógicas e recusa-se a gastar dinheiro para ir em busca da verdade. Não confiamos mais na Cetesb, que apenas
repassa à população dados totalmente manipulados pelas indústrias".
"Goebels reeditado" - Já o vereador Dojival Vieira dos Santos, do PT, entende a
campanha do Ciesp como uma reedição, nos mesmos métodos, da propaganda nazista planejada pelo publicitário de Adolf Hitler, Goebels, para divulgar a
superioridade da raça ariana. Dojival explica: "A iniciativa do Ciesp, que conta com o apoio do prefeito Nei Serra,
assemelha-se à mesma técnica nazista de propaganda que tentava, através da manipulação de informações e da opinião pública, incutir a falsa idéia de
superioridade da raça ariana". Para Dojival, "a campanha visa esconder os problemas
existentes, omitindo-se de enfrentá-los".
O vereador lembra que a iniciativa do Ciesp assemelha-se também à construção, por
parte do ex-prefeito Passarelli, de um conjunto poliesportivo, estimado em mais de Cr$ 1 bilhão, para que fossem disputados os jogos regionais no
Município. "José Osvaldo Passarelli fez o ginásio para mostrar ao mundo que Cubatão é uma cidade boa, sem poluição".
Dojival encontra, também na atitude do ex-prefeito, uma estreita relação com as
iniciativas de Adolf Hitler: "Hitler também promoveu os Jogos Olímpicos de 1936 justamente com o intuito de mostrar ao
mundo a pretensa superioridade da raça alemã, ou ariana como chamava".
Queixa no Procon - O vereador do PT não tem dúvidas de que a campanha do Ciesp
faz parte de um antigo projeto do prefeito Nei Eduardo Serra, quando era delegado regional da entidade representativa dos industriais: "E
agora, com a autoridade, e não a legitimidade, de prefeito, Nei Eduardo Serra resolve apoiar uma solução para os problemas de Cubatão com propaganda".
Para Dojival, a campanha trata-se de propaganda demagógica e criminosa, que "tenta
encobrir uma realidade incontestável, que está aos olhos de todos, com os deslizamentos na própria Serra do Mar".
Segundo Dojival, deve-se tomar uma medida contra a campanha: "Trata-se de um caso que merece uma queixa no Procon
(órgão que fiscaliza a atividade publicitária). A campanha é propaganda enganosa, digna de uma queixa no Procon".
Dojival disse ainda que tudo é conseqüência da filosofia do prefeito Nei Eduardo
Serra: "Só falta agora o Serra baixar um decreto expulsando a população da Baixada, para permitir o loteamento da
região de acordo com os interesses empresariais. Ele já fez isso, também baixando decreto, com relação ao pólo industrial, dividindo o Município em
dois, ao instituir uma administração paralela para a área industrial. É a visão dos que comungam com os interesses dos grandes monopólios nacionais
e estrangeiros. O pensamento de Nei Serra, já demonstrado no último Congresso dos Municípios, é o seguinte: Cubatão - área industrial; Guarujá,
turismo; Santos, serviços; e São Vicente, dormitório. É o loteamento da região sobre a ótica dos monopólios".
Comdema adere às discussões sobre a Serra
O Conselho Municipal de Defesa do Meio-Ambiente (Condema) finalmente começa a discutir
sobre o perigo de ocorrer uma grande tragédia ecológica na região, devido ao desabamento de encostas degradadas da Serra do Mar. Este é o principal
assunto da pauta do primeiro encontro da entidade, hoje, às 16 horas, na Prefeitura (N.E.: de Santos).
Constituído oficialmente há quase um mês, pelo prefeito Osvaldo Justo, só agora o
Comdema se engaja na luta ambiental e, ainda assim, não se sabe qual a sua real força. O presidente do órgão, vice-prefeito Esmeraldo Tarquínio Neto
- que assumiu o cargo depois de várias pessoas terem recusado convite neste sentido, feito por Justo - admite que os grupos que formam o novo
conselho são tão heterogêneos a ponto de ficar muito difícil obter unanimidade de posições.
Os ambientalistas sugeriram que o Comdema fosse integrado, de forma majoritária, por
militantes de grupos ecológicos. Mas, há apenas um representado: o Centro de Estudos Ecológicos de Santos (Cesec). As demais entidades são as
seguintes: Câmara, Associação de Engenheiros e Arquitetos; Associação dos Médicos; Faculdades Santa Cecília; Movimento de Arregimentação Feminina;
Prodesan; Sindicato dos Radialistas; Coligação das Lojas Maçônicas; Codesp; Igreja e Polícia Militar. Não fazem parte a Cetesb e nem a Sabesp,
apesar de estarem diretamente ligadas à problemática do meio-ambiente.
Indústrias já plantam capim. E defendem imagem
Manuel Alves Fernandes
CUBATÃO – Pendurados em grossas cordas, mateiros da Ultrafértil iniciaram
ontem, numa encosta a 250 metros acima do nível do mar, a semeadura de braquiárias, uma espécie de capim que alguns técnicos – contra a opinião de
outros – garantem ser a única solução para evitar que, em janeiro, haja deslizamentos de terra que possam provocar tragédias na região.
A imensa floresta tropical destruída pela poluição, e que apresenta grandes cicatrizes
provocadas pelos deslizamentos, ficará coberta por um imenso capinzal. É a antevisão do ano 2000 - segundo vereadores presentes à semeadura - em que
a vegetação da Serra do Mar, em Cubatão, poderá ser substituída por uma grossa camada de piche prosaicamente pintada de verde. A semeadura começou
com a presença do prefeito Nei Serra; do presidente da Câmara, Gigino Aldo Trombino; do vereador Florivaldo de Oliveira Cajé, presidente da Comissão
de Regeneração da Serra do Mar; do diretor da Ultrafértil, Cyro de Albuquerque – autor da idéia do plantio das braquiárias, e de Mário Simão, da
Ciesp.
A imprensa, juntamente com relações-públicas de uma agência de publicidade que iniciou
uma campanha para mudar a imagem negativa de Cubatão, também participou da semeadura, que está sendo muito criticada. Há técnicos que garantem que
não vai dar certo.
Cajé disse que essa não era "uma solução ideal para a serra, e quando muito será uma
medida de emergência". Nei Serra vai promover em breve um encontro nacional de técnicos no assunto, em Cubatão, para descobrir propostas
definitivas. Ele disse que a situação é muito séria, e merece toda a atenção dos governos municipal, estadual e federal.
Proposta modesta - O diretor de Pesquisas da Ultrafétril, Cyro Albuquerque, fez
uma longa palestra, exibindo slides que mostravam as feridas na serra e o resultado do plantio do capim em uma fazenda de sua propriedade, em
Itapetininga. Cyro disse que o solo da serra é muito antigo e sob ação da chuva mais forte as encostas deslizam naturalmente. Apressam os
deslizamentos, na ordem colocada por ele, a construção de estradas, a fixação de camadas da população nas serras e a agressão pela poluição. Na
comparação do representante da Ultrafértil, a poluição é um fator coadjuvante (não principal) na destruição da serra. Ele não concorda com a
denúncia de que a serra cairá nas próximas chuvas:
"Evidentemente, essa afirmação sobre a queda da serra foi
tomada com muita emoção. Talvez caia só daqui a milhões de anos". O diretor da Ultrafértil admite que a solução
proposta por ele - plantar braquiárias - é um pouco apressada e poderá não dar certo, mas foi a única até agora apresentada.
A proposta, de qualquer forma, foi endossada - segundo Albuquerque - pelo secretário
da Agricultura, Nélson Nicolau - e esse tipo de capim que começou a ser semeado, até já se popularizou:
"A braquiária é tão conhecida que até as mocinhas já
estão querendo tomar chá desse capim em São Paulo", contou ele. Todo mundo riu da piadinha de Cyro Albuquerque.
Falando com mais seriedade, Cyro admitiu: "Também
combatemos a braquiária como medida definitiva. Ela não garante que não haja deslizamentos nesta e noutras áreas. Mas, sem prejudicar outros
vegetais que estão em desenvolvimento, pode muito bem ser aplicada aqui em Cubatão. Eu não nego isso. Porém, despencar, a serra despenca mesmo. Só
Deus segura isso aí".
O presidente da Câmara, Gigino Trombino, interpelou Albuquerque: "E
a poluição, não destruiu isso aí?"
Cyro: "Eu não nego que a poluição contribuiu. Mas, como
técnico, não estou convicto disso". Pouco depois, continuando a palestra, Cyro faria uma referência indireta a essa
questão de que a poluição seria a responsável pela destruição da serra: "Todo mundo fala: Casa onde falta pão todo
mundo grita e todo mundo tem razão".
De acordo com Cyro a política que foi adotada no passado tem parte de culpa na
poluição. O País importou óleo mais barato, com alto teor de enxofre; a rocha fosfática nacional é muito fina e não é convenientemente retida pelos
filtros de controle de poluentes. Atualmente, há eliminação do enxofre e encontrou-se formas de controlar as emissões de material particulado.
E concluiu:
"Não sei como se comportará a braquiária sob a ação dos
poluentes. Deus permita que ela se desenvolva nessas encostas. O plantio que iniciamos hoje é uma contribuição modesta, humilde. Se alguém tiver
outra solução, nós a aceitaremos. O problema é que até agora não foi apresentada nenhuma outra. A semeadura ficará pronta em 30 dias e em quatro
meses prevê-se o desenvolvimento. Até as próximas chuvas, as cicatrizes estarão cobertas".
Com a semeadura de gramíneas na Serra, Cubatão tenta mostrar uma nova imagem, divulgada em
campanha. Mas no Vale da Morte ainda nascem crianças sem cérebro
Foto: Marcos Toledo, publicada com a matéria
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